Dono da rede China in Box já foi entregador de pizzas
Neto de imigrante, Robinson Shiba aprendeu a empreender com o pai e o avô e hoje é sócio da gigante Trend Foods
No final da década de 1980, o paranaense Robinson Shiba decidiu trancar a matrícula na faculdade de Odontologia e morar nos Estados Unidos para estudar inglês. Para se sustentar, lavou pratos e trabalhou como entregador de pizzas por um ano. A partir dessa experiência, ele teve a ideia de abrir no Brasil um restaurante para fazer entrega de comida chinesa a domicílio numa época em que só pizzarias ofereciam este serviço no país. Esse foi o ponto de partida daquela que se tornaria uma das maiores redes de fast food e delivery do Brasil: a China in Box.
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Robinson, no entanto, teve de esperar um pouco para ver seu sonho virar realidade. Depois de um ano nos Estados Unidos, ele voltou ao Brasil decidido a colocar seu projeto em prática, mas seu pai lhe aconselhou a terminar o curso de Odontologia e disse que, com o diploma em mãos, o ajudaria a montar o negócio próprio. O problema foi que Robinson se formou justamente na época do Plano Collor, e a poupança do pai, com a de tantos outros brasileiros, foi confiscada.
Nessa época, Shiba teve seu primeiro filho e começou a trabalhar como dentista em São Paulo, mas não desistiu do antigo projeto. Seguiu pesquisando e analisando o mercado, preparando terreno para o que viria a ser a rede China in Box. “Tive uma boa escola e consultoria de meu pai”, que sempre o animava dizendo que acreditava no filho. Quando as coisas melhoraram, Shiba vendeu dois de seus consultórios e, com uma ajuda financeira extra do pai, abriu o restaurante no bairro de Moema, na capital paulista.
Daí em diante, o crescimento do China in Box foi meteórico. “Em 1992, eu era um dentista com o sonho de abrir um negócio. Em 1994, já tinha 42 lojas”, conta Shiba. Em um período de 18 meses, o restaurante tornou-se uma franquia e se espalhou pelo país. “A princípio eu não sabia o que era uma franquia”, diz o empresário. Mas ele pesquisou e percebeu que aquela poderia ser uma boa oportunidade. “Eu tinha uma chance. Para que esperar?”, comenta Shiba.
Garra de imigrante
O espírito empreendedor de Shiba é fruto, em grande parte, da experiência da imigração. Seu grande exemplo de vida sempre foi o avô, que veio do Japão para trabalhar na lavoura no Brasil e, com os frutos de seu trabalho, pagou os estudos dos filhos. Assim, o pai de Shiba – outra grande inspiração – se tornou dentista e pequeno empresário: “Cresci nos fundos de uma loja de material de construção”, lembra o fundador do China in Box, que nasceu em Maringá (PR).
Nos Estados Unidos, o próprio Shiba sentiu na pele o que é ser imigrante. Lá, conviveu com gente vinda de várias partes do mundo e de distintas classes sociais, o que lhe ensinou uma importante lição: “Não existe pessoa mais importante ou menos importante”. Foi assim que ele se deu conta de que todos os funcionários são importantes para o sucesso de um empreendimento, princípio que orienta seu estilo de administrar. “Tem de ter uma boa equipe e valorizá-la”, explica o empresário, que ressalta que a pessoa que atende o telefone ou um diretor têm a mesma relevância e importância para o sucesso da companhia. “A equipe precisa estar comprometida”, acrescenta.
Expansão x foco
Shiba aproveitou o período de crescimento que a economia brasileira viveu nos primeiros anos após o lançamento do Plano Real para diversificar seus negócios. Foi dono de choperia, creperia, sanduicheria e até de uma loja de roupa infantil. “Tive sorte porque em 1994 estávamos num momento de economia favorável”, analisa o empresário. Com o tempo, porém, ele chegou à conclusão de que é complicado diversificar demais.
Além disso, as crises financeiras que estouraram no Sudeste Asiático e na Rússia em 1997 e 1998 o obrigaram a aparar as arestas que ficaram soltas com o crescimento rápido das franquias. Com isso, Shiba teve que lidar com um problema comum entre vários pequenos e médios empresários: focar demais no crescimento e se esquecer de detalhes imprescindíveis para a empresa, que vão desde o treinamento dos funcionários até a padronização da franquia e a escolha dos fornecedores.
Depois de “arrumar a casa”, Shiba decidiu voltar às “origens” e concentrar seus investimentos em diferentes restaurantes de comida oriental. Nessa época ele já era um dos investidores da rede de restaurantes japoneses Gendai, e, em 2008, decidiu se juntar a seu sócio no Gendai e fundir as duas redes para formar a Trend Foods, hoje o maior grupo especializado em fast-food, restaurantes e delivery no Brasil. “Era um momento de fusão e consolidação em vários setores”, afirma o empresário.
O sucesso da Trend Foods, no entanto, não fez Shiba se acomodar. Prova disso é que no fim de 2014 ele planeja lançar um novo empreendimento: uma rede de restaurantes por quilo de comida japonesa.
Com base nessa trajetória vitoriosa, Shiba dá quatro conselhos para os pequenos empresários que estão começando: pesquisar bastante, fazer sempre diferente do que já existe, investir nos funcionários para ter uma equipe comprometida e – como seu pai lhe ensinou – acreditar sempre em si mesmo.