Ex-empacotador de supermercado fatura R$ 1,2 bi com franquia de escola de idiomas
Reginaldo Boeira iniciou sua trajetória empreendedora aos 12 anos; na adolescência, chegou a passar fome
Reginaldo Boeira é um dos maiores empreendedores do Brasil no ramo da educação. O empresário de 60 anos é o fundador da KNN Idiomas, uma das maiores redes de ensino de idiomas do País. Embora esteja consolidado no mercado, com 9 unidades próprias e mais de 550 franquias que lhe dão faturamento anual de R$ 1,2 bilhão, a trajetória de Boeira é marcada por luta e quedas profissionais.
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Mineiro de Monte Belo, Boeira nasceu na roça e iniciou sua trajetória empreendedora aos 12 anos, em Muzambinho (MG). Para ajudar a família de origem humilde, Boeira começou vendendo mandioca. O 'negócio' deu muito certo, mas chegou ao fim quando seus pais saíram de Minas para Limeira (SP).
No interior paulista, já com 13 anos, Boeira teve que trabalhar como empacotador de supermercado por um período, até que deixou sua veia empreendedora falar mais alto e logo começou a vender doces. Nesse período, que também tinha que conciliar com os estudos, ele conseguiu comprar um fusca.
Depois, com 14 anos, comprou uma kombi. Aos 16 anos, o jovem empreendedor já havia comprado um caminhão. Mesmo tendo tido sucesso nas vendas dos doces, o jovem resolveu tentar outros negócios, o que levou a três grandes quedas como empreendedor.
Em entrevista ao Terra, Reginaldo Boeira conta sobre sua trajetória de vendedor de doces a bilionário das franquias. Em seu relato corrido de vida, o empreendedor menciona que é difícil imaginar que aquele garoto tímido, filho de Joaquim e Rosalina, se tornaria um dos maiores empreendedores do Brasil.
Infância de luta
"Eu comecei a trabalhar muito cedo. Eu comecei a trabalhar com 7 anos, ajudando o meu pai na roça. Com 10 anos, eu terminei a terceira série, e lá todo mundo parava de estudar. Mas minha mãe não deixou eu parar. Ela falou: 'Você não é todo mundo, vai continuar os estudos'. E daí pra fazer a quarta série, a escola mais próxima ficava a 17 quilômetros. Então, eu tinha que ir e voltar a pé. Isso dava 3 horas e meia, às vezes até 4 horas pra ir, 3 horas e meia, 4h para voltar.
Depois que terminei a quarta série, eu achei que tinha acabado os estudos também. Minha mãe falou que não. Mudamos, ela levou a gente para a cidade. Mudamos para uma cidade chamada Muzambinho e ali eu comecei a estudar à noite e trabalhar durante o dia."
O despertar para os negócios
"Meu primeiro negócio foi venda de mandioca. Eu via os meninos da cidade usando o clube de campo e eu não tinha dinheiro pra entrar. Aí eu parei e perguntei para o administrador o que é que eu teria que fazer pra poder entrar no clube. Ele falou que tinha que ter dinheiro. Eu falei: 'Não, dinheiro não tem, deve ter outra coisa'. Então eu acabei negociando com ele que eu trabalhava, por exemplo, 2 horas por semana para receber o direito de usar o clube o resto do período todo.
Trabalhei por um período no clube, mas usando o clube para brincar descobri uma plantação de mandioca no fundo, de três a quatro hectares, que estava no ponto de colheita. Aí eu acabei negociando com o clube para vender essa mandioca, esse aipim e dividir o dinheiro."
Mudança de cidade
"Minha mãe decidiu que nós deveríamos crescer mais um pouco. Por isso, mudamos para o interior de São Paulo: meu pai, minha mãe e mais onze filhos. Praticamente só meu pai trabalhava, por isso chegamos a passar fome.
Aí tive que começar a trabalhar. Depois de uma noite passar muita fome, ver minha mãe chorar, eu decidi que eu ia arrumar um trabalho, eu ia trabalhar. Ninguém dava emprego, mas aí eu consegui de empacotador no supermercado do Pão de Açúcar. Meu primeiro dinheirinho que eu ganhei, eu levei, consegui levar arroz e feijão pra casa, foi uma festa.
Tinha um depósito de uma distribuidora de doces no caminho e eu um belo de um dia parei ali, porque vi muitos doces jogados no quintal. Aí perguntei para o dono se eu poderia levar um pouco para casa. Ele disse que poderia e acabei levando pra casa.
Os bares perto de casa não tinham doces, e ali eu comecei a trazer doces para esses bares."
Tentativa e erro; idas e vindas
"Com 21 anos eu acabei vendendo a minha linha de doce, entrando na área de açougues. Como eu não tinha conhecimento, eu entrei por dinheiro, acabei quebrando, perdendo tudo e voltando a vender doces.
Passei sete anos vendendo doces, mas depois cresci os olhos para um novo negócio. Em Limeira todo mundo trabalhava com semijoias, e eu quis também entrar nessa área. Como tinha uma pessoa querendo comprar minha linha de doces de novo, acabei vendendo, mas em um ano e meio eu me vi quebrado novamente.
Voltei pro doce e fiquei mais um tempo. No final dos anos 1990, o doce começou a cair e meu irmão me convidou para montar uma loja de informática. Resultado: perdi tudo que eu tinha de novo. Foi feia a coisa, porque eu fui lá dentro do buraco mesmo.
Com a terceira queda, eu não voltei mais pro doce. Foi onde eu entendi que, depois dessa terceira falência, não adiantava trabalhar por dinheiro, você tinha que trabalhar exatamente por paixão. E daí eu tinha duas paixões: doce e o inglês. Só que o doce já não estava indo mais. Daí eu entrei pela segunda paixão, que era o idioma."
Início da escola de Idiomas
"Foi por meio do rádio de pilha que ganhei quando criança, e que repetia o sinal de uma estação de Londres (UK), que conheci e me apaixonei pelo inglês. Sou falante da língua desde os 15 anos, e tomei a decisão de viajar um pouco pelo mundo para descobrir como os povos aprendem o inglês. Saí aqui na América do Sul, fui pra Europa e cheguei a ir pra Rússia.
Na volta dessa viagem, de 1997 para 1998, decidi abrir a escola de idiomas. E foi onde começou tudo. Começou tudo, abri uma escola, duas escolas, três escolas, quatro escolas. Não trabalhava com nome KNN ainda, eu tinha outro nome, na época, que não era expressivo. Eu mudei o nome para KNN Idiomas em 2012."
Os números da franquia
A KNN Idiomas entrou para o setor de franquias em 2014. Hoje, a rede ensina inglês, espanhol, alemão, francês e italiano, e possui 550 escolas abertas em todos os estados brasileiros, entre próprias e franquias, e conta com 10 mil colaboradores. A escola já atendeu mais de 500 mil alunos e tem 108 mil alunos ativos.
Com a rede, Boeira fatura em média R$ 1 bilhão, somando todas as franquias, e mais R$ 200 milhões da franqueadora (matriz) da KNN em Balneário Camboriú (SC), somado com a Phenom Idiomas e a Boeira Construtora, também empresas do mineiro. A Phenom é uma rede de idiomas menor, com duas unidades próprias e 43 franquias.
A quantidade de idiomas ofertados e a metodologia da Phenom são diferentes da KNN. Enquanto a KNN oferece cinco idiomas, a Phenom disponibiliza apenas três (inglês, espanhol e francês).
"O nosso sonho, que está se tornando realidade, é ser a maior rede de idiomas do Brasil, e o meu sonho pessoal é dobrar os falantes de inglês no Brasil, que hoje é uma vergonha", diz o empresário.
Até 2022, o Brasil ocupava a 58ª posição entre 111 países no Índice de Proficiência em Inglês, e apresenta nível "moderado" do idioma, com 505 pontos, de um total de 700. Os dados são da empresa EF, que estuda como e onde o nível do idioma está se desenvolvendo no mundo.
Hobbies
Entre hobbies e bens de consumo, aviação e carros esportivos de luxo eram sonhos de criança de Reginaldo Boeira. Atualmente, o empresário é dono de um jato particular avaliado em cerca de R$ 70 milhões. Em 2023, adquiriu um carro esportivo da alemã Porsche.
Mesmo cercado por bens materiais de altíssimo luxo, o empresário diz que nunca deu importância para o dinheiro.
"E quando digo isso, as pessoas comentam: 'Ele fala porque já tem dinheiro'. Não. Eu já estive do outro lado, várias vezes", afirma.
Acostumado com quedas, em maio de 2023, Reginaldo Boeira enfrentou mais um desafio em sua vida. Ele foi diagnosticado precocemente com um câncer nas glândulas salivares. Por vários meses, realizou tratamento intensivo e, graças ao diagnóstico no início, foi curado da doença.
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