Fábrica lucra com reciclagem de cartões magnéticos
Empresário investe em logística reversa e cria brindes feitos com plástico de cartões descartados
O que fazer quando o cartão de banco vence? Cortar bem pequenininho e colocar no lixo orgânico, certo? Errado. O empresário paulistano Renato Soares de Paula arrumou uma solução mais sustentável e inteligente. Dono da RS de Paula, fábrica que produz cartões há 17 anos, ele se incomodava com a maneira equivocada como seu produto era descartado e resolveu o problema com um método que, como ele mesmo diz, é uma maneira de descarte segura e correta. Um mecanismo chamado Papa Cartão tritura e prepara o cartão para a reutilização. O plástico reciclado é utilizado na produção de brindes corporativos. Assim, De Paula lucra duas vezes com a mesma matéria-prima.
“Estou reaproveitando os resíduos e lidando com a logística reversa do meu produto, algo que ninguém está fazendo. Certas empresas fecham negócio por conta dessa atitude sustentável”, afirma De Paula. Logística reversa é quando o fabricante desenvolve ações para recolher os resíduos gerados por uma mercadoria – como embalagens ou outros materiais – e levá-los de volta para o local de produção para reaproveitá-los ou eliminá-los de forma sustentável.
Atualmente o empresário produz de 600 a 700 mil cartões por mês e reaproveita, em média, 30% desse volume na fabricação de produtos reciclados. A taxa de reutilização do plástico já chegou a 70% do volume em épocas mais movimentas do ano, como nos primeiros meses, quando os planos de saúde vencem e as carteirinhas são trocadas.
O projeto de reciclagem surgiu há três anos e deu tão certo que hoje ocupa uma unidade inteira da empresa. A RS de Paula tem sua matriz na cidade de Elias Fausto, a 130 km de São Paulo, e uma filial na capital paulista. Inicialmente as duas unidades produziam cartões e os produtos reciclados eram feitos na matriz. Este ano, a produção de cartões foi toda transferida para São Paulo e a unidade de Elias Fausto passou a fabricar apenas produtos reciclados.
Mosaico de plástico
O processo de reciclagem começa em totens coletores de cartões instalados em 23 pontos espalhados pelas cidades de São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Recife e Maceió. Os totens são estrategicamente posicionados em locais de grande circulação, como estações de metrô, shoppings e edifícios comerciais, e estão preparados para receber cartões de crédito, débito, fidelidade de lojas, planos de saúde, enfim, todo cartão magnético de plástico. Alguns clientes da RS de Paula, como planos de saúde e bancos, utilizam as máquinas em seus prédios, para garantir que os cartões não sejam descartados de forma incorreta.
A pessoa insere o cartão e gira uma manivela que ativa uma máquina que corta o cartão em seis tiras. A partir daí, as tiras são levadas para a matriz da RS de Paula, trituradas em pedacinhos ainda menores e prensadas sobre uma lâmina quente. Ali, fragmentos de cartões de diferentes plásticos são colados com o calor. Assim, é criado um grande mosaico de plástico, que é cortado em diferentes tamanhos e se transforma em capas para cadernos e bloquinhos ou porta-copos, relógios e até piso. Até o pó eliminado no processo é reaproveitado para fazer cartões de visitas ou marcadores de livro.
As aparas descartadas voltam para a esteira e se incorporam mais uma vez ao grande mosaico de plástico. O ciclo de reaproveitamento só usa água para o resfriamento em algumas etapas do processo, o que, segundo De Paula, é uma vantagem, já que não há contaminação do ambiente ou resíduos.
“O objetivo não é o cartão virar um cartão, é virar vários outros produtos. Aumentamos o ciclo de vida do plástico”, afirma o empresário. Em cada produto vem expresso quantos cartões “foram salvos” e onde eles foram coletados. Por exemplo, um porta-lápis utiliza 27 cartões e as capas de um bloquinho, seis unidades.
Ciclo completo
De Paula acredita que, em mundo ideal, a logística reversa deveria funcionar para devolver os próprios produtos reciclados para a fábrica, permitindo, assim, um novo ciclo de aproveitamento do plástico. “Meu sonho de consumo é colocar o número de cartões usados no começo de um caderno e o meu endereço para devolução das capas quando forem descartas para que possa re-reciclá-las mais uma vez”, declara. Caso as capas sejam reenviadas, o processo de reaproveitamento é similar. Elas voltam para a esteira com a grande placa de mosaico plástico e seriam reincorporadas e transformadas em novos produtos, como marcadores de livros, capas de cadernos ou bloquinhos, porta-lápis, continuando, assim, o ciclo do plástico.