Farmácia pequena é bom negócio na periferia e no interior
As farmácias e drogarias estão em alta. A receita dos estabelecimentos que vendem artigos de saúde, beleza e higiene pessoal foi uma das que mais cresceram entre os vários setores do varejo em 2013, segundo a Pesquisa Anual de Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o levantamento, o crescimento da receita deste setor foi de 15,3%, quase o dobro do setor de vestuário e calçado, por exemplo, que fechou 2013 com um aumento de 8,8%.
O boom do setor está relacionado a dois fatores: o crescimento da indústria farmacêutica e o maior acesso da população a serviços de saúde, explica Priscila Vautier, farmacêutica e diretora de comunicação do Sindicato dos Farmacêuticos do Estado de São Paulo (Sinfar). “O crescimento da venda e distribuição de medicamentos, o aumento da população, seu envelhecimento, o aumento do acesso à saúde, de convênios médicos e de programas do governo, como a Farmácia Popular, são fatores que contribuem para isso”, analisa Priscila.
Os bons resultados do mercado de farmácias e drogarias, no entanto, são disputados por dois tipos de estabelecimentos: as grandes redes, que possuem inúmeras lojas espalhadas por todo o país, e as pequenas farmácias independentes. E as perspectivas do mercado para o pequeno empresário variam de acordo com quem faz a análise.
A Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), que representa as grandes redes, se baseia em um estudo realizado pela consultoria IMS Health que aponta que as farmácias geridas por grandes grupos devem deter 61% do volume total de vendas do mercado brasileiro em quatro anos. “A tendência é as redes aumentarem e as independentes diminuírem”, afirma o presidente-executivo da Abrafarma, Sérgio Mena Barreto.
Essa projeção, no entanto, é contestada pelas entidades que falam em nome dos pequenos empresários do setor. “Há dados concretos de crescimento por parte das farmácias independentes. Juntas possuem faturamento superior aos grandes grupos”, afirma Renato Romolo Tamarozzi, diretor-executivo da Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico (ABCFarma), que representa as pequenas farmácias independentes.
Os estabelecimentos de menor porte, aliás, não só têm espaço nesse mercado como podem ser um negócio muito promissor em pequenos municípios, afirma Edison Tamascia, presidente da Federação Brasileira das Redes Associativas de Farmácias (Febrafar), entidade que representa farmácias independentes coligadas em redes associativas para enfrentar os grandes grupos em melhores condições. “E as oportunidades não param por aí. Ainda existe oportunidade nas periferias das grandes cidades, assim como nas regiões centrais, pois as empresas individuais têm uma mobilidade e adaptabilidade maior do que as grandes”, afirma Tamascia.
Apesar das oportunidades, Renato Tamarozzi, da ABCFarma, lembra que os donos de farmácias e drogarias independentes enfrentam os mesmos problemas que os outros pequenos empresários no país, como a alta carga tributária, com o agravante de que o varejo farmacêutico é um setor mais regulado que os demais e no qual a concorrência aumenta a cada ano. “Um estudo do Sebrae revela que as farmácias de pequeno porte pagam, em média, uma alíquota nacional efetiva de tributos de 10,65%. Isso obrigaria as drogarias do país a apresentarem um faturamento bruto médio mensal de mais de R$ 220 mil, o que está bem longe da realidade dessas empresas”, afirma Tamarozzi. Essas dificuldades fazem com que vários estabelecimentos sejam obrigados a fechar as portas com poucos anos de vida. Segundo o IBGE, quase metade das empresas que abrem as portas no país fecham com apenas três anos de atividade.
Tudo isso mostra que o varejo farmacêutico é um ramo que apresenta desafios mas também grandes oportunidades para o pequeno empresário, pois o setor deve permanecer bastante dinâmico nos próximos anos. Segundo dados da IMS Health, o Brasil está a caminho de se tornar o quarto mercado de varejo farmacêutico do mundo.
As grandes redes seguem com planos de abertura de novas lojas, mas com o desafio de encontrar bons pontos em cidades grandes e desenvolver formatos apropriados às cidades menores. Por outro lado, as lojas independentes e pequenas redes buscam diferentes tipos de modelos para ganhar poder de barganha e eficiência no negócio, como o associativismo, franquias ou incorporação em franquias existentes e especialização como forma de capturar clientela segmentada.