Para a gestora Catarina Capital, o pitch é 'quase inútil'
Provocação no Gramado Summit tem a ver com a superficialidade dos pitch decks, cujos dados pouco ajudam na tomada de decisão
*A cobertura especial do Startups no Gramado Summit tem apoio da Sólides.
O que torna uma startup atrativa para um investidor? Ou melhor, o quanto um pitch impacta na hora de impressionar os investidores? Esse foi um dos assuntos tratados no Palco Startups, durante o Gramado Summit. Aliás, para alguns investidores, a importância do pitch foi colocada em questão.
"O pitch é quase inútil na hora de buscar investidor. Ele funciona mais como um guia para a apresentação do negócio do que um elemento que vai fazer a diferença na hora de assinar o cheque", pontuou José Augusto Albino, sócio da Catarina Capital.
De acordo com o executivo, a provocação tem a ver com a superficialidade da maioria dos pitch decks, que em muitas vezes trazem dados que pouco ajudam na tomada de decisão. "Tem fundador que coloca que trabalhou na Amazon ou estudou em certo lugar, mas não traz informações se ele liderou algum time, fez entregas importantes no lugar onde trabalhou", afirma José Augusto.
Para o executivo da Catarina, fundo early stage com foco na região sul, estar bem conectado pode ser tão valioso quanto uma boa apresentação da companhia. Segundo ele, uma startup que vem a partir de uma indicação inevitavelmente tem um peso diferente - ou seja - mais do que um pitch, o network é o "pulo do gato" para os fundadores em busca de investidores.
"Se for buscar um investidor, busque aproximação com quem tem essas conexões. Network é importante, e quem tem uma, tem mais chance de sentar à mesa com ivnestidor, ou até mesmo contratar bons profissionais. Uma boa network é um ativo essencial para quem é bom empreendedor", afirma.
Foco no fundador
Para o CEO da Raketo, Fred Santoro, os números ou informações trazidas no pitch são secundárias ao que realmente interessa: o fundador. "Número é importante acompanhar, mas time e fundadores são fundamentais para entender se o negócio tem futuro. Não existe uma ciência exata, mas se trata de pessoas, no final do dia", avalia.
Gabriel Alves, sócio da Headline, fundo early stage capitaneado por Romero Rodrigues, engrossa o coro com o líder da Raketo. Segundo ele, um fundador engajado e um time qualificado é fundamental para avançar uma possível rodada. "As pessoas são as que batem o bumbo da empresa, ditam o ritmo. Uma ideia não quer dizer muita coisa sem um bom executor e time", avalia.
Gabriel também fez a sua crítica aos pitches atuais, que ainda resvalam em dados batidos. "A gente gosta de ver dados, mas não quer ouvir qualquer coisa. É muito fácil dizer que tem receita quando tá vendendo nota de 10 reais por 8. O fundador tem poucas chances de causar uma boa primeira impressão, e se cair em discursos óbvios, já atrapalha", diz Gabriel.
Para Bárbara Raymundo, sócia da Ória Capital, fundo que atua junto a startups já em fase de escalada, o método para escolher investidas já um pouco diferente. Se no early stage, o pitch ainda é um ponto-chave, a Oria tem como modelo acompanhar as empresas muito antes de assinar o cheque.
"Para a gente é raro investir em uma empresa que conheceu há pouco tempo. Gostamos de acompanhar a evolução do negócio, seja no product market fit, quanto no time e na forma que ela lida com seus acertos e erros", pontua Bárbara.
Ao dar o seu pitaco sobre os erros que os fundadores fazem em seu pitch, Barbara comentou a forma pela qual muitos comentam seus concorrentes. Segundo ela, muitos pitches subestimam a qualidade de possíveis rivais, o que nem sempre pode ser algo positivo na hora de vender o próprio negócio. "O que não pode, na hora do pitch, é não conhecer ou desmerecer a concorrência", dispara.