Piloto no Vietnã se inspirou na guerra para criar FedEx
Ao voltar para casa, Fred Smith transformou o sistema de entregas das forças aéreas americanas durante o conflito em um negócio biolinário
No início da década de 1960, um estudante de Economia da Universidade Yale chamado Frederick Wallace Smith teve uma ousada ideia de negócio. Em um artigo apresentado durante o curso, ele descreveu um serviço de entrega que funcionaria durante a noite, quando os aeroportos não estavam congestionados, e que seria implementado em uma era em que as informações circulassem via computadores.
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O professor que avaliou o trabalho achou a ideia impraticável e deu apenas uma nota C para o artigo. Alguns anos depois, no entanto, Smith viu que seu plano era viável em um cenário absolutamente inesperado: a Guerra do Vietnã. Ao participar do conflito como piloto do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, o jovem percebeu que a logística militar norte-americana poderia ser transposta para a vida civil e, ao voltar da guerra, criou aquela que se tornaria a maior empresa de entregas expressas do mundo, a FedEx, que faturou nada menos do que US$ 45 bilhões em 2013.
Fred Smith nasceu em 1944, filho de James Frederick Smith, fundador da cadeia de restaurantes Toddle House. Seu pai faleceu quando ele tinha ainda quatro anos e Fred foi criado pela mãe e pelo tios. Apaixonado por aviação, o jovem aprendeu a pilotar ainda adolescente, aos 15 anos. Depois de se formar em Economia, em 1966, Smith decidiu colocar suas habilidades a serviço do país e se alistou como piloto no Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos.
Por três anos, ele participou de mais de 200 missões de combate, muitas delas no Vietnã, e teve a oportunidade de observar a organização logística do sistema militar norte-americano. Um dos aspetos sobre os quais ele mais se deteve foram os procedimentos de aquisição e entrega, que o ajudaram a afinar ainda mais a ideia que ele sonhava colocar em prática.
Após retornar para a vida civil, Smith adquiriu uma empresa de manutenção de aeronaves, mudando seu foco para o comércio de aviões usados. Em 1971, ele juntou os US$ 4 milhões que tinha recebido de herança com mais R$ 91 milhões que conseguiu de capital de investimento para, enfim, fundar a Federal Express, ou FedEx.
Inicialmente, o negócio se concentrava apenas em pequenos pacotes e documentos e atendia 25 cidades. A ideia era realizar entregas em menos de 24 horas para todo o país. Na prática, a empresa usava aviões para levar estes pacotes durante a noite para uma unidade central de distribuição, e o trecho final era percorrido via terrestre.
Jogada de mestre
Apesar da proposta inovadora, a FedEx acumulou perdas de US$ 29 milhões em seus dois primeiros anos de funcionamento, fato que afugentou novos investidores. Os principais motivos para os prejuízos foram os grandes gastos com publicidade, que Smith considerava elemento essencial para o crescimento da empresa, e a alta dos combustíveis por conta da crise do petróleo, de 1973.
Segundo matéria publicada pela revista Forbes, a situação financeira do negócio chegou ao extremo quando Smith se viu tão endividado que não tinha mais dinheiro para pagar uma conta de US$ 27 mil. Como medida desesperada, ele voou para Las Vegas e apostou tudo o que tinha no blackjack para tentar conseguir o dinheiro necessário para saldar a dívida. A jogada deu certo e ele ganhou o dinheiro que precisava na mesa de jogo.
Apesar das dificuldades, Smith não desistiu de sua ideia e procurou os bancos para renegociar suas dívidas e manter a empresa funcionando. Para reverter a situação, ele determinou que a FedEx deveria se preocupar tanto com o gerenciamento de informações relativas a origem, paradeiro atual, destino, hora de chegada, preços e custos de transporte, quanto com a entrega em si.
Além disso, a FedEx passou a entregar de tudo, desde documentos e peças de computador até elementos extremamente sensíveis, como sangue e órgãos. Graças às mudanças, em 1976 a empresa registrou receitas anuais de US$ 75 milhões. Quatro anos depois, o número de localidades atendidas já havia saltado para 90 e, em 1983, a FedEx atingia US$ 1 bilhão em vendas.
Atualmente, a FedEx é líder no fornecimento de transporte expresso do mundo, contando com mais de 300 mil funcionários, uma frota de 630 aeronaves e 47 mil outros veículos, que permitem realizar mais de 3,9 milhões de entregas todos os dias, em mais de 220 países e territórios.
A trajetória de sucesso da empresa rendeu a Fred Smith o título de CEO do ano de 2004 em eleição promovida pela revista Chief Executive e a 26a posição em uma lista dos 50 maiores líderes do mundo publicada pela revista Fortune em março de 2014.