Provas concorridas ampliam mercado de cursos preparatórios
A concorrência acirrada nos vestibulares, sobretudo os de universidades públicas, espalhou cursinhos pelo país a partir da década de 70. Nos últimos anos, com a proliferação de faculdades privadas, a competição diminuiu em certas áreas, mas se intensificou em alguns nichos – dando origem a uma nova modalidade de cursos, para atender aqueles que tentam passar em áreas muito difíceis, como graduação em medicina, carreira diplomática ou residência médica.
Esse mercado, que não precisa se submeter a regras do Ministério da Educação, é frequentemente formado por profissionais egressos dos cursinhos tradicionais ou desses próprios nichos. São empreendedores que perceberam oportunidade nessa tendência alimentada por três fenômenos, segundo Evaldo Miranda, diretor da consultoria educacional Educon.
Um dos fatores é o aumento da população de classe média alta e alta – um crescimento lento, mas superior ao do número de vagas disputadas, de acordo com Miranda. Outro é o maior acesso de classes mais baixas à escola: a maioria desse grupo ainda abandona os estudos no meio do caminho, mas uma parcela vai até o final e, em proporção pequena, chega a disputar vagas concorridas. O terceiro fenômeno, avalia o consultor, é o aumento da importância que se dá à educação e à formação profissional. “O grupo que quer coisa melhor, por cobrança da família ou iniciativa própria, cresceu.”
O resultado é que a competição se intensificou: há mais gente (e mais gente bem preparada) disputando as vagas muito valorizadas. “Aumentou a concorrência e o interesse”, diz Miranda.
No Instituto Rio Branco, curso de formação de diplomatas, a são mais de 200 candidatos por vaga. Em faculdades de Medicina, o número costuma ficar em torno de 60 ou 80.
O diplomata João Batista da Costa viu uma oportunidade de negócios quanto, há 12 anos, seu filho optou por seguir carreira no Itamaraty. “Recrutei alguns professores para prepará-lo para a prova, mas percebi que seria mais produtivo se as aulas fossem para um grupo. Divulgamos entre amigos e tivemos um ótimo retorno por conta das aprovações que nossos alunos conseguiram”, conta. Nascia assim o Curso JB, de Brasília, especializado na prova para ingressar no Instituto Rio Branco.
O fato de Costa ser professor antes de entrar para o Itamaraty facilitou a escolha do corpo docente. Para completar o time, ele convidou alguns colegas diplomatas. “Fui convidando e testando. Os que davam certo eram mantidos, até formarmos um time forte de profissionais. Hoje temos 13 professores e cerca de 50 alunos do curso regular extensivo”, acrescenta ele, coordenador pedagógico da instituição.
Já em Londrina (PR), a migração de cursinho para a atuação no ensino médio e a grande demanda de jovens querendo cursar medicina motivaram a criação do Prime Med, especializado na preparação para vestibulares dessa carreira. “Em 1960 existia um curso deste tipo que durou alguns anos. Em 2009, o mesmo fundador decidiu reviver a ideia, e ela foi implantada efetivamente no ano seguinte”, afirma Silvia Miccoli, diretora pedagógica da instituição.
A especialização em medicina faz com que a matriz curricular seja voltada especificamente para as necessidades dos candidatos, com foco nas provas específicas exigidas na segunda fase.
Ela conta que, no início, foi preciso vencer a desconfiança na estrutura e no corpo decente. “Em uma cidade menor, como Londrina, ter professores conhecidos faz a toda a diferença. Inicialmente, mais da metade dos nossos alunos eram filhos daqueles que fizeram o curso nos anos 1960. Ao final do ano, mais de 70% deles foram aprovados, o que ajudou na nossa consolidação.”