Talento incomum fez Coco Chanel sobreviver a polêmicas
Estilista revolucionou moda e perfumaria, mas seu império, hoje avaliado em US$ 7 bilhões, foi abalado por antissemitismo e ligação com nazismo
Em uma época em que as mulheres raramente eram protagonistas, Coco Chanel quebrou preconceitos. Na moda, ao privilegiar cortes que privilegiavam o conforto. Na sociedade, ao colecionar romances sem jamais ter se casado. Ao mesmo tempo, posições contra judeus e um relacionamento com um diplomata nazista durante a ocupação da França tornaram-na alvo da opinião pública local. Apesar da trajetória repleta de contradições, ela mudou a maneira de as mulheres se vestirem e ergueu as bases para uma marca avaliada em US$ 7 bilhões pela Forbes.
Mulher foge do mercado imobiliário e abre esmalteria
Gabrielle Bonheur Chanel nasceu em 1883, em Saumur, no centro-oeste francês. Era filha de uma lavadeira com um vendedor itinerante de roupas. Sua mãe faleceu quando Coco tinha apenas12 anos. Sem condições de criar os filhos sozinho, o pai enviou a garota e as irmãs para um convento em Aubazine, no centro-sul. Quando completou 18 anos, teve de deixar o local, que só aceitava menores de idade.
Ao longo dos seis anos em que permaneceu no convento, ela aprendeu a costurar e conseguiu encontrar um emprego nessa área. Ao mesmo tempo, chegou a se aventurar como cantora em cabarés – período em que teria recebido o apelido pelo qual ficaria conhecida. A falta de talento com a voz abortou a carreira nos palcos, mas sua beleza chamou atenção. Em especial de Étienne Balsan, um ex-oficial da cavalaria francesa cuja família era ligada ao mercado têxtil.
Incursão no mundo moda
Foi durante o período em que vivia com Balsan que Chanel rascunhou seus primeiros desenhos de chapéus, por hobby. A moda só virou coisa séria quando ela virou amante do capitão Arthur Edward Capel. Em 1910, ela se tornou uma chapeleira licenciada, e o militar financiou a abertura de sua primeira boutique em Paris, a Chanel Modes.
O sucesso começou a despontar quando uma célebre atriz de teatro daquele tempo, Gabrielle Dorziat, passou a usar as criações de Chanel. Na sequência, começou a produzir roupas e abriu lojas em outras localidades, Biarritz e Deauville. As baixas temperaturas desta última cidade a levaram a criar um vestido a partir de uma velha camisa de frio. O modelo caiu no gosto dos clientes, elevando ainda mais sua fama.
Em 1921, ela montou em Paris o que pode ser considerado o protótipo das modernas boutiques de moda, incluindo a venda de roupas, chapéus, acessórios, joias e fragrâncias – a mais icônica delas foi sem dúvida o perfume Chanel No. 5. Quatro anos depois, criou a jaqueta de gola e revolucionou o design das roupas masculinas, priorizando mais o conforto que as restrições da moda da época.
Com reputação consolidada na França, na década seguinte ficou mundialmente conhecida graças a um convite para produzir o figurino das estrelas do estúdio MGM, em Hollywood. A experiência rendeu-lhe clientes famosos, como as atrizes Gloria Swanson e Greta Garbo. Também confeccionou modelos para filmes franceses – é a responsável, por exemplo, pelo figurino de “A Regra do Jogo” (1939), de Jean Renoir, considerado um dos melhores filmes da história do cinema.
Controvérsias na Segunda Guerra
O império Chanel foi abalado pela eclosão da Segunda Guerra Mundial. Problemas econômicos fecharam as lojas e fizeram-na demitir mais de 4 mil funcionários. Durante a ocupação alemã na França, ela teve um relacionamento com um oficial nazista e conseguiu assumir o controle total da Parfums Chanel, da qual detinha 10%, alegando que os acionistas majoritários eram judeus. Documentos revelados no ano passado indicam que a estilista era espiã dos alemães. Ao mesmo tempo, a venda dos frascos de Chanel No. 5 dispararam durante o conflito, fazendo dela uma das mulheres mais ricas do mundo.
Terminada a Guerra, Coco foi condenada pela opinião pública. Saiu de Paris e viveu uma espécie de exílio na Suíça. Em meados dos anos 1950, no entanto, ela fez um retorno triunfal ao mundo da moda.
Seu talento e sua criatividade nos desenhos de roupas femininas não foram suficientes para que recuperasse totalmente o prestígio entre os franceses, mas a fizeram reconquistar outros mercados, especialmente na Inglaterra e nos Estados Unidos. Chanel seguiu em atividade e sob o comando da empresa até morrer, aos 87 anos, em 1971.