Tangram aposta na gamificação para transformar a educação financeira
Com módulos curtos e interativos, app da startup mineira torna o mundo das finanças mais simples de aprender
Quem já quebrou a cabeça tentando criar diferentes figuras com o Tangram? O quebra-cabeça chinês composto por 7 peças geométricas permite montar mais de 5 mil figuras. Tarefa desafiadora, mas divertida. O jogo é tão emblemático que motivou um jovem a criar uma startup de mesmo nome.
Foi em 2007, quando venceu sua primeira Olimpíada de Matemática, que Felipe Baldi conheceu o quebra-cabeça e pensou: "Quando eu tiver uma empresa ela vai se chamar Tangram". Pois bem, 15 anos depois, ele fundou a edtech mineira Tangram, definida por ele como o 'Duolingo da Educação Financeira', com a missão de transformar o mundo das finanças em conceitos simples e fáceis de aprender.
"Assim como no quebra-cabeça chinês, na educação, já temos as peças e nos propomos a organizá-las de uma forma diferente para oferecer uma solução inovadora ao modelo existente", afirma Felipe em conversa ao Startups para a série Além da Faria Lima.
Ele criou, então, um aplicativo de educação financeira gamificado, no qual o usuário acessa uma espécie de trilha com conteúdo personalizado e conquista pontos ao acertar os desafios. Com a quantia acumulada, as pessoas podem investir a pontuação em uma aplicação de baixo ou alto risco.
O fundador da startup conta que descobriu o seu propósito com a educação em 2015, depois de voltar de um intercâmbio nos EUA pago pelo governo - Felipe sempre estudou em escolas públicas. Decidiu retribuir o investimento criando um projeto voluntário com as escolas públicas de Itabirito (MG), cidade onde morava na época. Passados 2 anos, o número de medalhistas na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) da cidade já era 4 vezes maior.
O jovem se dedicava ao projeto ao mesmo tempo em que trabalhava para uma multinacional.
Um adendo aqui. Felipe é formado em engenharia química pela UFMG e não em algum curso relacionado a finanças. "Chegou um momento em que percebi que não estava gerando o impacto que podia, trabalhando como engenheiro químico em uma multinacional. Então, em 2020, decidi empreender, mesmo sem dinheiro e conhecimento. Mas sempre com a mentalidade de começar a fazer", diz.
Chamou então alguns amigos também medalhistas da OBMEP e começou a dar aulas particulares de matemática usando jogos. Depois de muito aprendizado sobre gamificação e matemática financeira, Felipe se sentiu preparado para criar a Tangram, que na verdade começou como um protótipo de plataforma, no ano passado, antes de virar um aplicativo em 2023.
Com o protótipo, a startup realizou projetos voluntários em escolas públicas de diferentes Estados do Brasil. O impacto gerado e o sucesso da solução entre os estudantes foram tão positivos, que a Tangram foi premiada. Em março deste ano, a startup venceu a categoria soluções digitais para educação financeira do Prêmio Educação Financeira Transforma, promovido pelo Instituto XP. Segundo Felipe, o prêmio de R$ 40 mil será investido na implementação de novas funcionalidades no app, incluindo utilização de inteligência artificial para promover uma aprendizagem adaptativa.
'Duolingo das Finanças'
O Tangram é o primeiro app de educação financeira alinhado à Base Nacional Comum Curricular. Além de escolas públicas e privadas, o aplicativo é utilizado por empresas que querem melhorar a saúde financeira dos seus funcionários ou que querem gerar impacto positivo nas comunidades que atuam, por meio de um programa de ESG chamado: Adote uma escola pública.
Através do app, o usuário joga em uma trilha com quizzes personalizados sobre finanças, ganha moedas denominadas tangram coins ao acertar os desafios, podendo investi-las em uma aplicação de alto ou baixo risco. Também pode visualizar o impacto das suas ações como transações na sua carteira digital e ganhar prêmios quando disputa com os amigos da escola e do trabalho.
Toda ação do estudante impacta na quantidade de moedas tangram na sua carteira digital, com rendimento de juros semanal. Quanto maior o engajamento da turma, maior é a valorização da moeda tangram.
Momento de validação
Atualmente, 10 escolas (entre públicas e privadas) de Minas Gerais, Paraná, São Paulo, Ceará e Brasília usam o aplicativo atualmente - Escola Salesiana Brasília e Colégio Orleans e Bragança são algumas delas. A mensalidade hoje gira em torno de R$ 10 por aluno, mas no ano que vem a startup passará a cobrar um plano anual, próximo a R$ 100.
Para ampliar o impacto em mais escolas públicas, a startup realiza parcerias com empresas que financiam a implementação da Olimpíada de Educação Financeira em escolas públicas, e os representantes da instituição participam da cerimônia de premiação, com entrega de medalhas, certificados e prêmios para os professores e alunos que mais se destacarem na competição.
No entanto, por conta do prêmio da XP, a Tangram também está atraindo o interesse de muitas empresas, que enxergam o app como uma oportunidade para os funcionários terem uma mentalidade mais próspera e tomar decisões mais assertivas. "Estamos agora em um momento de validação do negócio, testando o caminho que devemos seguir. Acredito que no segundo semestre estaremos com 20 empresas clientes", comenta Felipe.
Depois de recusar algumas propostas de investimento, que não fizeram sentido pelo fato de a edtech ainda não ter uma receita recorrente, agora o cenário é outro. Felipe afirma que o aplicativo começou a faturar e está aberto a buscar novas oportunidades de investimento.
"Meu maior sonho é que a Tangram seja reconhecida por ter mudado o modelo de educação no Brasil. Apenas com a tecnologia conseguimos democratizar o acesso à educação de qualidade", finaliza.