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Vida de cinema: Chatô transformou comunicação em negócio

4 nov 2015 - 07h00
(atualizado em 12/11/2015 às 15h54)
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Em uma época na qual os jornais apenas divulgavam notícias e defendiam posições políticas, um brasileiro soube transformar os veículos de comunicação em um verdadeiro negócio por meio da venda de espaços publicitários. Mais do que isso: prestes a ter a sua história finalmente exibida nas telas de cinema do país neste ano, Francisco de Assis Chateaubriand criou um verdadeiro império da comunicação, que, além de faturar muito dinheiro, exerceu grande influência nos rumos do país. E o mais incrível é imaginar que tudo isso nasceu de um jovem empreendedor tímido e gago que veio ao mundo em uma cidadezinha localizada no interior da Paraíba.

Empreendedorismo e franchising na contramão da crise

Nascido em 1892 na cidade de Umbuzeiro, a 147 quilômetros da capital João Pessoa, Chateaubriand, ou Chatô, teve uma infância marcada pela timidez, causada, em grande parte, pelos problemas de gagueira que manifestou desde muito cedo. Aos nove anos, o jovem ainda não sabia ler, e acabou sendo alfabetizado por dois amigos de seu pai. Mostrando rápido progresso, aos 12 anos ele ingressou na Escola Naval de Recife, e desde então começou a despertar grande interesse pela leitura.

Chateaubriand trouxe para o Brasil o modelo de vendas de anúncios, que era comum em jornais de Estados Unidos e Inglaterra.
Chateaubriand trouxe para o Brasil o modelo de vendas de anúncios, que era comum em jornais de Estados Unidos e Inglaterra.
Foto: Domínio Público / Reprodução

Em 1907, Chateaubriand iniciou sua carreira no mundo da comunicação por baixo, recortando classificados na Gazeta do Norte. Neste mesmo ano, se viu forçado a dormir na redação e pegar em armas para defender-se de uma multidão que protestava em frente ao prédio contra uma vitória eleitoral do dono do jornal.

Após ingressar na Faculdade de Direito do Recife, começou a trabalhar como aprendiz de repórter no jornal A Pátria. Aos 21 anos, já tinha o diploma de Direito em mãos e ocupava os cargos de editor e redator-chefe do Diario de Pernambuco. Buscando alçar voos maiores, mudou-se para o Rio de Janeiro, em 1917, onde passou a colaborar para o Correio da Manhã.

Formando um império

Pouco depois de chegar à capital do país, tornou-se correspondente internacional na Europa, trabalhando em países como Inglaterra, França, Alemanha e Itália. De volta ao Brasil, assumiu a direção do periódico O Jornal, em 1924. Neste mesmo ano, deu o primeiro passo para formar seu império da comunicação, adquirindo O Jornal com apoio financeiro de alguns barões do café.

Na sequência vieram outras aquisições estratégicas: comprou o Diário de Pernambuco, jornal diário mais antigo da América Latina, o Jornal do Comércio, o mais antigo do Rio de Janeiro, e o Diário da Noite, de São Paulo. Graças a isso, o jovem passou a contar com as publicações líderes de mercado nas principais capitais do país.

Disposto a aumentar a lucratividade das suas empresas, Chateaubriand decidiu trazer para o Brasil o modelo de vendas de anúncios, que era comum em Estados Unidos e Inglaterra. Apesar da resistência inicial, aos poucos os empresários foram se rendendo à novidade, esperando atrair um maior número de consumidores para seus produtos.

Outra estratégia para tornar suas publicações mais atrativas para os leitores foi substituir os longos textos por reportagens mais curtas e dinâmicas. Pouco depois, ele passou a usar o potencial de comunicação de seus jornais para fazer campanhas e realizar concursos e sorteios. Para completar, o empresário criou A Meridional, primeira agência de notícias do país, transformando os outros jornais brasileiros em clientes que pagavam para reproduzir textos do grupo Diários Associados.

Paralelamente às inovações no ramo da comunicação, Chateaubriand estreitou relações com políticos e pessoas influentes, tendo apoiado, inclusive, o movimento que levou Getúlio Vargas ao poder em 1930. Com o tempo, o empresário passou a dar menor importância aos jornais e focou suas atenções em outros veículos de comunicação, tendo criado, em 1935, a Rádio Tupi.

Política, arte e comunicação

Aproveitando o momento frágil vivido pela Europa após a Segunda Guerra Mundial, Chateaubriand adquiriu uma série de obras de grandes mestres da pintura e financiou a criação do MASP, em 1947. A grande revolução na comunicação do país, porém, viria três anos depois, quando criou a TV Tupi, primeira rede de televisão do Brasil e quarta do mundo. Na cerimônia de inauguração, fez questão de servir itens tipicamente brasileiros para os convidados, como guaraná e pão com mortadela.

Cada vez mais influente nos bastidores, Chateaubriand entrou de vez para a vida política em 1951, quando foi eleito senador pela Paraíba. Quatro anos depois, conseguiu mais um mandato na Câmara Alta, desta vez pelo Maranhão. Sua ascensão, no entanto, foi interrompida em 1960 por uma trombose que o deixou paralisado. Após o episódio, ele conseguia se comunicar apenas por intermédio de uma máquina de escrever adaptada, vindo a falecer em 1968.

No auge de seu império, os Diários Associados contaram com nada menos do que 34 jornais, 36 emissoras de rádio, 18 estações de televisão, uma agência de notícias, uma revista semanal, uma mensal, várias revistas infantis e a editora O Cruzeiro, sendo considerado o maior conglomerado de comunicação do Brasil e um dos maiores do mundo.

Fonte: PrimaPagina
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