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Moedas digitais oficiais, como o Drex, avançam e já estão sendo testadas por 44 governos

No total, há 134 países ou blocos explorando a possibilidade de lançar as chamadas CBDCs. o que corresponde a 98% da economia global

20 jan 2025 - 10h43
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O número de países ou blocos monetários que vêm explorando as chamadas moedas digitais de bancos centrais (as CBDCs, na sigla em inglês) agora totaliza 134 no mundo, segundo os últimos dados do Atlantic Council, instituto americano de pesquisas geopolíticas. O dado representa 98% da economia global. Quarenta e quatro desses projetos já se encontram em fase piloto, como os da zona do Euro e da China - o yuan digital é até agora a maior plataforma em termos de volume financeiro de transações.

No bloco do G-20, que reúne as maiores economias do mundo, a União Europeia e a União Africana, 13 moedas já estão na fase de testes de seus projetos piloto, de acordo com o CBDC Tracker, desenvolvido pelo Atlantic Council e atualizado até setembro de 2024. É o caso de Japão, Índia, Austrália, Rússia, Turquia e Brasil.

O desenvolvimento de CBDCs vem chamando a atenção do Banco Internacional de Compensações (BIS), conhecido como o banco dos bancos centrais. Em relatório de dezembro de 2024, o Grupo Consultivo sobre Inovação e Economia Digital da instituição afirmava que, conforme as moedas avançam, surgem questões técnicas importantes.

"Como o equilíbrio entre operação centralizada e o acesso descentralizado pode ser otimizado para garantir tanto a segurança quanto a acessibilidade?", indaga o relatório, que teve como foco o uso das moedas oficiais digitais para negócios e pessoas físicas ("retail CBDCs") e não para as transações entre instituições financeiras.

O grupo se reporta ao Conselho Consultivo para as Américas (CCA), que reúne representantes dos bancos centrais integrantes do BIS na região: Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, México, Peru e Estados Unidos.

No Brasil, os trabalhos de desenvolvimento do Drex, como a moeda digital nacional foi batizada, estão prestes a entrar já na segunda fase. Na chamada Etapa 2 do Piloto Drex, instituições financeiras selecionadas pelo Banco Central - as candidatas tiveram até 29 de novembro para se inscrever - vão testar possíveis negócios com smart contracts (contratos inteligentes) na plataforma.

Em novembro, o coordenador do Drex no BC, Fábio Araujo, afirmou que um dos desafios na execução do projeto piloto era estabelecer uma nova infraestrutura para o mercado, que não travasse a inovação. "A tendência do banqueiro central é ser conservador. Fazer o que já sabe fazer. Mas, nesse caso, o que já sabemos é muito limitado para o mundo blockchain", disse Araujo, em evento da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto).

Os testes com o Drex começaram ainda em 2023 e existe a expectativa de que o lançamento possa ocorrer ainda neste ano. Inicialmente, a previsão era de que a moeda digital brasileira entrasse em circulação no fim de 2024 ou no início de 2025.

Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast, a plataforma do Drex tem potencial para revolucionar a infraestrutura do mercado financeiro e reduzir o número de intermediários em transações tanto para pessoas físicas quanto para jurídicas.

Além de atuar como uma moeda digital, o Drex é uma tecnologia onde serão executados os contratos inteligentes (smart contracts), permitindo que haja negociações programadas e mais seguras. Um exemplo que vem sendo muito utilizado é o da venda de carros (leia mais abaixo). Confira, abaixo, o que dizem especialistas no tema.

Carlos Bonetti, diretor-executivo do Banco BV

Participante das primeiras duas fases de testes do Drex, o Banco BV está desenvolvendo possíveis aplicações do sistema para seus clientes. É o caso da utilização de contratos inteligentes em financiamentos de carros usados.

Segundo o diretor-executivo da instituição, Carlos Bonetti, a ideia é desburocratizar a operação com menos custos e mais segurança. Também permitirá a integração de cartórios e Departamentos Estaduais de Trânsito (Detrans) em um único fluxo digital.

Na prática, um contrato inteligente de financiamento será atrelado ao registro de posse de bem e ao gravame (documento que vincula o veículo ao contrato de financiamento). A programabilidade do pagamento garante ao comprador que o vendedor só tenha acesso ao dinheiro se assinar a transferência do carro. "Tudo estará acontecendo praticamente ao mesmo tempo, gerando um fluxo muito mais fluido, seguro e barato", explica Bonetti. A partir do Drex, o BV também pretende usar veículos em financiamento como garantia para empréstimos. Atualmente, só carros quitados são aceitos. Esse processo é a tokenização do financiamento, que viabiliza o uso de bens, como imóveis, em operações financeiras de crédito.

Bonetti menciona a possibilidade de ofertar frações de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) para pessoas físicas que não têm dinheiro para comprar um título desse tipo em sua integralidade. Segundo o executivo, esses são apenas os primeiros projetos. "Está longe de ser todo o potencial (do Drex)", afirma.

Courtnay Guimarães, cientista-chefe da The Cogno is Cool Institute (TCCI), e Milena Ferreira, CEO da TCCI

A unificação dos sistemas será a maior inovação trazida pelo Drex, mas também o principal desafio para o lançamento da moeda digital brasileira, que já teve o início adiado. Isso porque o Drex tende a ser uma plataforma para controlar inúmeros tipos de ativos.

"A primeira ideia do Banco Central era simplesmente uma moeda digital, uma cryptocurrency. Tanto é que, quando o projeto nasceu, nem chamava Drex, era real digital", conta Courtnay Guimarães, que acaba de assumir como Head de Digital Assets do Bradesco. "Mas a missão do Drex foi ampliada para ser muito mais do que apenas uma CBDC."

A estrutura, segundo ele, poderá vir a organizar diferentes ativos tokenizados e mesmo os do mundo real: "Do carro ao vinho". Segundo Guimarães, a tokenização é vista como uma oportunidade para reduzir custos e eliminar intermediários, aumentando a eficiência.

Ele já observa o desenho de parcerias do Banco Central brasileiro com os outros países que também estão trabalhando com CBDCs. "Esses países estão todos dentro de um grupo que, hoje, roda junto com o BIS (Banco de Compensações Internacionais, conhecido como o banco dos BCs), onde bancos centrais já estão interagindo com modelos como o do Drex", diz Guimarães. "Com isso, o Brasil espera se posicionar como um dos grandes players no mercado internacional, não só em questão de ativos digitais, mas também em modelos de regulamentação e governança de plataformas descentralizadas."

Milena Teixeira, por sua vez, afirmou que, com a chegada do Drex, o País terá uma nova ferramenta de digitalização que mudará a maneira de os brasileiros atuarem. "Muitas decisões estão sendo tomadas para a economia do nosso País, e elas vão afetar o cidadão comum e todas as camadas da nossa sociedade", acredita. "Em pouco tempo, veremos mudanças nos hábitos de consumo, na forma como pagamos as coisas e na maneira como gerimos nosso dinheiro."

Marcelo Neto Serra, head de Investimentos e Criptomoedas do Mercado Pago

O Drex tem potencial para substituir por completo o atual sistema de intermediação bancária no Brasil, na opinião de Marcelo Neto Serra, head de Investimentos do Mercado Pago. De acordo com ele, a nova tecnologia pode eliminar intermediários tradicionais e alterar a forma como transações financeiras são realizadas no País.

Neto ressalta que o Mercado Pago acompanha de perto o desenvolvimento do Drex, assim como fez com o Pix e o Open Finance. Ele define o projeto como um ecossistema integrado que promete aumentar a segurança e a eficiência do sistema financeiro, especialmente com a implementação de contratos inteligentes, os smart contracts. "O Drex não é apenas uma moeda digital. Ele está transformando a forma como as garantias financeiras são gerenciadas", afirma Neto. "Esses contratos inteligentes, por exemplo, podem automatizar operações complexas, como créditos colateralizados, proporcionando mais agilidade e confiança aos processos."

Para Neto, o real digital pode substituir integralmente o ecossistema interbancário atual. "Quando falamos de lastro, é importante entender que nem todo real digitalizado tem uma nota física correspondente. O sistema já é amplamente digitalizado, e o Drex vai otimizar e substituir esse ambiente", afirmou o executivo.

Neto também projeta que, no longo prazo, o Drex poderá superar o Pix como principal meio de transações financeiras no País. "A visão é de que todo o sistema de intermediação bancária passe a operar dentro do Drex, que cria um novo ambiente financeiro", disse Neto. "Seja através de bancos ou fintechs, todos que quiserem participar vão precisar estabelecer suas carteiras ou contas nesse novo sistema."

Dan Yamamura, fundador da BRX Finance e Fuse Capital

O sistema do Drex permitirá não apenas a automatização de pagamentos como também vai possibilitar um ambiente seguro para negociações sem agentes intermediários. "A natureza dos contratos inteligentes abre uma porta gigante para esse mundo de blockchain, com a programabilidade dessas funções de pagamento e negociações", destaca Yamamura. "A partir disso, é possível criar uma série de aplicações para o mercado."

O gestor ressalta que a tecnologia dos contratos inteligentes por blockchain já é uma realidade bastante explorada por investidores de criptoativos. Ele reforça que negociações com stablecoins (criptoativos lastreados em moedas existentes) já são utilizadas como um sistema eficiente de pagamentos na Web 3.0.

Ao contrário de outros sistemas bancários espalhados pelo mundo, o Drex não deve ser utilizado no Brasil para transferências imediatas, uma função já preenchida no mercado financeiro pelo Pix. De acordo com o gestor, a grande funcionalidade da moeda digital está nos contratos inteligentes, através das transações programadas.

Condicionadas por contrato, o pagamento é efetuado somente se as partes cumprirem as condições pré-acordadas. "Se uma pessoa está devendo a outra, o credor poderá reter os valores do devedor, sem precisar de um regulador para isso."

Nesse mesmo sentido, enquanto rede blockchain, Yamamura considera que o Drex também será um ambiente de registro de transações e negócios. A expectativa é que, a longo prazo, a tecnologia possa superar sistemas legais de registros, como os cartórios. "Teoricamente, você confia na entidade cartório, que ele vai ser bonitinho, arrumadinho e tal. Se você colocar isso no blockchain, você tem certeza que aquilo foi registrado."

Outra aplicação é para transações internacionais, substituindo o principal sistema usado atualmente, o Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication (Swift), sistema de troca de informações entre instituições financeiras. "Ele é confiável, mas muito ruim, lento, caro e centralizado. Com as moedas digitais, essas transações podem ir para blockchain, sem necessidade dos atuais sistemas de liquidação", aponta.

Para acordos comerciais bilaterais, pode acontecer o que é chamado de "pares de troca" no mercado cripto - quando duas moedas digitais têm um fluxo de intercâmbio tão grande que elas se tornam altamente líquidas, como o Bitcoin e o Ethereum. "Digamos que exista uma moeda digital vinculada ao yuan (moeda oficial chinesa) e o Drex, e começa a haver um fluxo de comércio muito grande entre essas duas moedas. Isso pode fazer com que o dólar nem seja mais necessário para transações entre estes dois países."

Também há expectativa de transformação na cobrança imediata de imposto no ato da compra e transferência. Prevista na Reforma Tributária, a medida pode ser viabilizada através do blockchain onde o Drex vai funcionar. Esse split payment - segregação do imposto no momento da liquidação - é apenas uma sugestão da BRX para as novas etapas de desenvolvimento do sistema, ressalta Yamamura. "O que o governo vai fazer com isso também? Essa é outra discussão, mas esse processo vai ser otimizado, mais rápido, mais transparente, menos custoso, não vai depender de intermediário." Com reportagem de: Bruna Rocha, Carol Poleze, Ellen Travassos, Felipe de Paula, Gabriela Pessanha, Guilherme Schanner, Henrique Mendonça, Isabel Lima, João Pedro Adania, Juliana Alves, Karoline Guimarães, Leonardo Godim, Luana Simões, Lucas Keske, Luis Antonio, Maria Carolina Gonzalez, Maria Magnabosco, Mariana Souza, Mateus Mello, Nino Guimarães, Paula Bulka Durães, Pedro de Paiva, Sofia Missiato Barbuio e Vitor Queiroz

Estadão
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