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Na economia, o ano foi recebido com 8 índices ruins e 1 bom

Inflação estourou o teto da meta em janeiro, há expectativa de contração do PIB no 1º trimestre deste ano e criação de empregos teve o pior resultado em 12 anos em 2014

23 fev 2015 - 08h15
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A última vez que o Brasil viu sua atividade econômica cair foi em 2009. À época, a crise financeira global estava no auge, e o País foi só mais uma de suas vítimas. Porém, no ano seguinte, veio a volta por cima e a economia cresceu 7,5%. Esse percentual nunca mais foi repetido e, num futuro próximo, dificilmente será alcançado.

Este não deve ser o ano de forte crescimento, inflação baixa, recorde na criação de empregos, queda das taxas de juros e saldo positivo nas transações correntes do País. Pelo menos é o que apontam os dados mais recentes, haja vista que nos últimos meses o que mais se viu no noticiário econômico foram avaliações como “pior resultado” e “desempenho mais fraco” em grande parte dos principais indicadores da economia.

A bonança da economia brasileira ficou para trás, avaliam economistas
A bonança da economia brasileira ficou para trás, avaliam economistas
Foto: Reprodução

Afinal de contas, qual é a verdadeira situação da economia do Brasil? De acordo com economistas, a bonança se foi e agora são tempos de ajustes, que devem levar no mínimo dois anos para pôr o País de volta na rota das boas notícias.

“Como podemos resumir isso? Nossos principais parceiros comerciais estão crescendo menos e a venda de nossos produtos industriais está desacelerando. Há também a normalização das economias desenvolvidas após a crise”, diz Clemens Nunes, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV). “O vento a favor mudou de direção.”

PIB em declínio

<p>PIB em recessão pode causar aumento do desemprego</p>
PIB em recessão pode causar aumento do desemprego
Foto: Shutterstock

Começando pelo Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no País e o principal indicador sobre o ritmo da economia, a expectativa do governo para o primeiro trimestre deste ano é de contração. Ou seja, a economia deve encolher, segundo o próprio ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em declaração em janeiro.

Além disso, existe a possibilidade de o resultado do PIB do ano passado ser negativo – o dado será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no fim de março. “O final do ano passado foi muito mais fraco do que se tinha em mente, uma ligeira retomada não se confirmou”, diz Alessandra Ribeiro, economista da consultoria Tendências. “O quadro está bem pior do que imaginávamos.”

Inflação persistente

<p>Inflação teve forte alta em janeiro, corroendo o poder de compra do brasileiro</p>
Inflação teve forte alta em janeiro, corroendo o poder de compra do brasileiro
Foto: Shutterstock

Outra preocupação – e mais direta na vida dos brasileiros – é o controle da inflação. No início deste ano, a alta dos preços atacou como há tempos não fazia. Aproveitando os reajustes tarifários típicos de janeiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial, saltou 1,24% no mês, simplesmente a taxa mais elevada desde fevereiro de 2003.

No acumulado em 12 meses, o indicador registra alta de 7,14%, bem acima do teto da meta do Banco Central, que é de 6,5%. Esse resultado foi o mais elevado desde setembro de 2011.

A volta dos juros altos

<p>Banco Central já indicou que inflação deve convergir para a meta de 4,5% somente em 2016</p>
Banco Central já indicou que inflação deve convergir para a meta de 4,5% somente em 2016
Foto: Pilar Olivares / Reuters

Para conter o avanço da inflação, o Banco Central (BC) tem elevado a taxa básica de juros do País, a Selic, constantemente - atualmente, a taxa está em 12,25%. A própria instituição já declarou que os esforços para segurar a inflação ainda não foram suficientes e que a convergência para o centro da meta, de 4,5%, deve acontecer somente no segundo semestre de 2016.

Mais importação, menos exportação

<p>Brasil importou US$ 3,93 bilhões a mais do que exportou em 2014</p>
Brasil importou US$ 3,93 bilhões a mais do que exportou em 2014
Foto: Shutterstock

Também entre os mais importantes indicadores macroeconômicos, a balança comercial - que é a diferença entre exportações e importações – começou o ano no vermelho, ao registar déficit de US$ 3,174 bilhões em janeiro. Vale lembrar que no ano passado o País registrou o primeiro déficit comercial desde 2000, com as importações superando as exportações em US$ 3,93 bilhões.

Falta de economia no setor público

<p>Com gastos maiores do que receitas, Brasil não conseguiu ter superávit primário em 2014</p>
Com gastos maiores do que receitas, Brasil não conseguiu ter superávit primário em 2014
Foto: Shutterstock

Outro resultado negativo em 2014 foi o do resultado primário. O setor público não conseguiu fazer a economia para pagar juros da dívida pública pela primeira vez desde 2001. Com isso, o déficit primário foi de R$ 32,5 bilhões, o equivalente a 0,63% do PIB.

Empossado no início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, o ministro Joaquim Levy tem reforçado o compromisso do governo para atingir a meta de superávit primário deste ano, de 1,2% do PIB. O objetivo é da medida é reequilibrar as contas públicas para desenvolver um ambiente de negócios e recuperar a confiança dos empresários na economia brasileira.

Taxa de desemprego

<p>Durante período de ajuste na economia, fila do desemprego pode aumentar</p>
Durante período de ajuste na economia, fila do desemprego pode aumentar
Foto: Getty Images

Segundo economistas, 2015 é o ano de o brasileiro cuidar do emprego que tem, já que, com o PIB em condições adversas, a oferta de vagas deve cair. Talvez o único índice que ainda se mantém em bons patamares, a taxa de desemprego encerrou o ano passado em 4,8%, o menor nível da série histórica, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE.

Pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, também realizada pelo IBGE e mais abrangente que a PME, o instituto aponta que o desemprego fechou 2014 no patamar de 6,8%.

Segundo o Ministério do Trabalho, o resultado em 2014 não é tão bom quanto parece. No ano passado, a criação líquida de postos de trabalho com carteira assinada atingiu 396.993 vagas, o pior resultado em 12 anos.

Na avaliação do IBGE, a queda da taxa de desemprego se explica porque houve redução na taxa da população desocupada - que são as pessoas sem trabalhar, mas à procura de uma oportunidade -, e não pela criação de vagas.

Encolhimento da indústria

<p>Produção e quadro de trabalhadores da indústria brasileira diminuíram no ano passado</p>
Produção e quadro de trabalhadores da indústria brasileira diminuíram no ano passado
Foto: Cesar Ferrari / Reuters

Um dos setores que viu o número de postos de trabalho diminuir em 2014 foi a indústria. A baixa acumulada em 2014 foi de 3,2%, o pior resultado desde 2009, o ano auge da crise. Como se não bastasse, a ano passado foi o terceiro seguido em que o número de pessoal ocupado na indústria caiu. O que se pode esperar da indústria em mais um ano em que há menos trabalhadores no setor? No período, a produção recuou 3,2%, na comparação com o ano anterior.

Menos carros

<p>Funcionários da Volkswagen em assembleia; produção de veículos caiu no início deste ano</p>
Funcionários da Volkswagen em assembleia; produção de veículos caiu no início deste ano
Foto: Edmilson Magalhães / Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

Um dos ramos da indústria, a automobilística já iniciou 2015 com queda nas vendas. Apesar de a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) ter sido encerrada no final do ano passado, a baixa nas vendas em janeiro veio mais forte do que o esperado, com queda de 19%, de acordo com a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). O número de licenciamentos no mês foi o pior desde janeiro de 2011. Jundo com estoques elevados, a produção de veículos no mês caiu 13,7% em relação a igual períod de 2014, informou a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

“As políticas de incentivo à indústria foram adotadas após a crise de 2008. Os efeitos custam caro aos cofres públicos, e os benefícios não parecem ter sido proporcionais”, avalia Alessandra, da Tendências.

Enfraquecimento do varejo

<p>Brasileiros foram às compras no ano passado, mas taxa de crescimento desacelerou</p>
Brasileiros foram às compras no ano passado, mas taxa de crescimento desacelerou
Foto: Eco Desenvolvimento

Também com o volume de estoques elevado, o setor varejista registrou avanços em 2014, mas, ainda assim, os resultados foram desanimadores. As vendas registraram alta de 2,6% no ano passado, o desempenho mais fraco em 11 anos, de acordo com o IBGE. Já movimento dos consumidores nas lojas aumentou 3,7%, mas foi também o pior desempenho em 11 anos, segundo a Serasa Experian.

E a vida do brasileiro?

<p>Brasileiro deve evitar dívidas neste ano e guardar dinheiro</p>
Brasileiro deve evitar dívidas neste ano e guardar dinheiro
Foto: Reprodução

Para reverter essa situação, especialistas afirmam que o governo deve seguir com as medidas de ajustes anunciadas pelo ministro Levy ao assumir a pasta da Fazenda, como o comprometimento com a meta fiscal e a redução dos gastos públicos, com o objetivo de recuperar a confiança do setor privado e dos consumidores.

Na avaliação de Clemens Nunes, da FGV, o brasileiro deve manter um comportamento cauteloso neste ano, evitando, sobretudo, gastos supérfluos e dívidas. “Uma dívida agora é mais cara do que há um ano, pela alta dos juros, e a renda não vai crescer como antes”, afirma.

Evitar riscos que podem causar a perda do emprego também devem ser levados em conta. “Esse é um ano de inflação muito alta e atividade econômica ruim, o risco de perder o emprego é considerável”, diz Alessandra Ribeiro. “O conselho agora é apertar o cinto e incrementar a poupança para encarar esse período difícil”.

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Fonte: Terra
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