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Nem toda startup nasceu pra ser unicórnio (muito menos em 2023)

A fonte de investimento secou para novos negócios neste começo de 2023. O empreendedor que quiser atrair capital, deve estar na área certa

26 jun 2023 - 06h00
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Foto: Sandra Gabriel / Unsplash

A redução dos investimentos em startups é uma questão generalizada: no primeiro trimestre de 2023, houve uma queda de 86% no capital investido em novos negócios nacionais, em comparação ao mesmo período de 2022, segundo dados recentes do relatório Inside Venture Capital, da Distrito. Ainda assim, inegavelmente, há setores que sofrem mais do que outros e estão vendo os recursos minguarem a uma velocidade maior. 

Entre eles, o segmento de Supply Chain apresenta a menor movimentação do período: foram apenas 2 deals fechados no período, como mostra a mesma pesquisa da Distrito, uma plataforma que incentiva a cultura empreendedora. Em termos de perda de volume,  Mobilidade e Healthtech são outros setores com baixo investimento.

Na ponta de cima, as fintechs seguem prioritárias no recebimento de aportes, mas já dá para notar outros destaques importantes, como as HRTechs - empresas especializadas em automação de processos de Recursos Humanos -, que tiveram a melhor evolução no período, além de  EdTech (Tecnologia para Educação) e Real Estate (Mercado Imobiliário).

É que o de cima, sobe

Para Paulo Costa, CEO do Cubo Itaú, já era previsto que as fintechs continuariam recebendo grande atenção dos investidores em tempos de vacas magras, graças à tendência de consolidação dos novos hábitos de consumo dos brasileiros envolvendo novos meios digitais de pagamento, como o Pix. “Além disso, boa parte dos fundadores do setor já estão em sua segunda ou terceira empreitada, um fator decisivo para elevar a confiança dos investidores devido à maturidade e histórico de experiência”, reforça.

Já as healthtech, que tiveram um elevado aumento de investimento durante a pandemia, voltam agora ao patamar anterior, com uma esperada queda de volume, continua o executivo: “Isso mostra estabilidade do segmento com mesmo potencial de entrega de eficiência ao mercado.”

“Uma forma de as healthtechs  criarem capilaridade para ter mais fôlego neste ano é se conectar com outras grandes empresas, como plataformas de terapia, ou atividades físicas, disponibilizando mais opções de bem-estar e saúde. Este pode ser o diferencial para os clientes e um destaque no mercado”, disse Paulo Costa.  

Eu, empreendedor

Por falar em perfil mais maduro do investidor, o mesmo tem sido notado no empreendedor nacional, segundo o relatório Founders Overview, realizado pela  holding de venture capital Ace Ventures, em conjunto com a BHub e a a55. A pesquisa, que entrevistou mais de 200 empreendedores com faturamento anual entre R$ 360 mil e R$300 milhões, concluiu que mais da metade (51%) está criando a segunda empresa e cerca de 80% possuem sócios em seu negócio.

Embora o perfil de aporte prioritário ainda seja o financiamento próprio, com quase metade dos empreendedores (44,6%) usando seus próprios recursos (bootstrap), 25% usam o Venture Capital como principal modalidade, seguidos por investimento-anjo (15,5%) e Corporate Venture Capital (CVC), com 14%. Ainda assim, dá para notar bem a aversão dos investidores ao risco atual de se investir em uma startup, conforme mostra  gráfico abaixo:

Foto: Reprodução

Ele, o investidor

Pedro Waengertner, cofundador e CEO da ACE Ventures, deixa claro que a preocupação atual dos investidores é a sobrevivência do ativo em que o capital é aportado: “Não é que não exista dinheiro para investir em novos negócios, mas esse dinheiro está com um critério diferente para entrar”, resume. 

É que a abundância de investimentos de risco dos últimos anos trouxe muita gente para o mercado de venture capital com a ideia de que esse tipo de operação era fácil e com retorno garantido - o que não é verdade. E quem antes se aventurou nesse mercado, agora tirou o time de campo ao notar que um tipo de investimento diferente do chamado mercado financeiro tradicional, já que o venture capital requer várias rodadas de aporte, muitas vezes com difícil - ou demorado - retorno. 

“Uma das principais preocupações que o empreendedor de hoje deve ter é: a minha startup vai conseguir captar as próximas rodadas de investimento para que consiga alcançar a trajetória de crescimento esperada?”, diz Pedro Waengertner.

Mercados futuros: pouco sexy appel, grande retorno

Ainda assim, em um futuro próximo, alguns setores são mais promissores para o investidor de venture capital, mesmo que não sejam tão sedutores em suas ideias, por assim dizer. Pedro Waengertner cita as startups de soluções de logísticas, cujo setor requer inovação e há espaço para muitas ideias prosperarem. “Outra novidade são as AITechs, de inteligência artificial, onde o mercado americano já está aportando muito dinheiro”, completa. 

Já Paulo Costa lembra que o mundo inteiro está voltando sua atenção para três siglas: ESG. E, por isso, acredita que as startups de energia, as cleantechs e climatechs terão grande espaço e alta demanda no país.  

Independentemente do setor escolhido, uma lição permanece importante, conforme Rodrigo Guerra, fundador do Unbox Project, relembra: “Nenhuma startup precisa ser um unicórnio para prosperar, basta gerar um bom resultado para ser exitoso. Então, cabe a todo investidor olhar para a própria ideia e se perguntar: eu vou me realizar com esse negócio em si ou com a venda dele? Essa resposta é que vai traçar os caminhos futuros - atraindo investimentos certos, ou não”, finaliza. 

(*) Renata Armas é redatora do Unbox Project, programa de desenvolvimento de carreira que conecta líderes de negócios, entidades auto-organizadas e empresas com metas de ESG para destravar a inovação e a economia sustentável. Como parte de sua missão de "desencaixotar o pensamento crítico que deve(ria) anteceder a inovação", tem produção de conteúdo recorrente no site unbox.dev.br e na seção Homework, do portal Terra.

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