No primeiro semestre de 2018, dólar tem alta de quase 17%
Em junho, moeda americana registrou alta de 3,88% e a Bolsa acumulou queda de 5,20%
Diante da volatilidade global provocada pela guerra comercial entre Estados Unidos e China e as incertezas eleitorais, a Bolsa terminou o mês de junho em queda acumulada de 5,20% e o semestre com desvalorização de 4,76%. Nesta sexta-feira, com o cenário externo mais calmo, o Ibovespa registrou a segunda sessão seguida de ganhos, de 1,39%, aos 72.762,51 pontos, influenciado principalmente por ações do setor financeiro e ligadas a commodities. Já o dólar fechou o mês com ganho de 3,88% e a primeira metade do ano com alta de 16,96%. No dia, a moeda teve nova valorização, de 0,48%, cotado a R$ 3,8777.
A sexta-feira foi de novo dia sem intervenção do Banco Central no câmbio e, com isso, já faz cinco sessões sem leilões extraordinários de swap cambial (venda de dólar no mercado futuro), um indício, segundo especialistas, de que o mercado voltou para um funcionamento mais normal. Pesou para a alta do dólar a disparada da moeda ante o peso argentino e a outras divisas de emergentes, como a do México, além da expectativa por eventuais anúncios do Banco Central.
O BC precisou colocar US$ 43 bilhões em swap cambial desde o começo de maio para tentar acalmar o mercado, fora mais US$ 3 bilhões em leilões de linha nesta semana. Na tarde desta sexta-feira, havia a expectativa nas mesas de operação por possível anúncio de atuação do BC para os próximos dias, como ocorreu nas últimas semanas. Ainda, os agentes querem ver como o BC fará com a rolagem dos swaps que vencem no início de agosto e somam US$ 14 bilhões. Além disso, na segunda-feira vencem US$ 2,8 bilhões em swaps novos vendidos pelo BC em leilões extraordinários desde 14 de maio.
No caso dos leilões de novos papéis, operadores, porém, veem a possibilidade de menos intervenções da instituição, ao menos até agosto. Os estrategistas da Icatu vanguarda veem uma atuação mais "errática", com intuito apenas de prover liquidez e evitar a irracionalidade do mercado.
Para o sócio e gestor da Modal Asset Management, Luiz Eduardo Portella, com o início das férias no hemisfério norte, o mercado externo tende a ficar um pouco mais calmo, o que facilita o ambiente para o BC. Além disso, um fator de incerteza nos mercados emergentes deve se resolver este fim de semana, com a eleição do México. O candidato de esquerda Andrés Manuel López Obrador deve vencer, como esperado. A dúvida, porém, é se ele terá maioria no Congresso. O peso mexicano tem sido pressionado nas últimas semanas e Obrador passou a adotar um discurso mais ao centro, como ocorreu com Luiz Inácio Lula da Silva aqui em 2002.
Se Obrador conseguir a maioria no Congresso, uma das preocupações dos investidores é se ele vai manter mesmo o discurso mais moderado. "Dada a importância do México para os emergentes, e as comparações que serão feitas com Brasil, precisamos estar atentos ao que ocorrerá no país a partir de segunda-feira", afirmam os especialistas da Icatu Vanguarda em relatório. Aqui, as mesas de operação monitoram o andamento do pedido de liberdade de Lula no Supremo Tribunal Federal (STF).
Bolsa. Com o petróleo e as bolsas de Nova York em alta, o Índice Bovespa encontrou fôlego para mais um pregão de ganhos, conduzidos principalmente pelas ações do setor financeiro e de commodities. O noticiário doméstico mais ameno dos últimos dias também contribuiu. Em terreno positivo desde a abertura dos negócios, o indicador terminou a sessão aos 72.762,51 pontos, com alta de 1,39%. Apesar da alta de 3,00% na semana, o índice contabilizou queda de 5,20% em junho. No semestre, houve perda de 4,76%.
"A Bolsa amanheceu sob a influência positiva dos mercados internacionais, com destaque para o tom mais ameno do presidente Donald Trump nesta semana. Por aqui, também contribuíram para a alta os ajustes de carteiras para o final do semestre", disse Ariovaldo Ferreira, gerente de renda variável da Hcommcor.
Nas bolsas de Nova York, as altas seguiram apoiadas no arrefecimento da tensão relacionada aos atritos comerciais da Casa Branca, desde que Trump reduziu o tom de seus ataques a outros países, em especial a China. As ações do setor financeiro foram os destaques de alta em Wall Street, contagiando os papéis de bancos também no Brasil. Entre esses papéis, os destaques ficaram com Bradesco ON (+2,22%), Banco do Brasil ON (+1,78%) e Itaú Unibanco PN (+1,74%).
O petróleo fechou em alta firme, reflexo das interrupções de exportações na Líbia e dos das preparações de diversos países antes de as sanções dos Estados Unidos à indústria petroleira do Irã entrarem em vigor, em novembro. Além disso, a Baker Hughes divulgou recuo em sua contagem semanal de poços e plataformas em operação nos EUA. Na ICE, o barril do Brent para setembro teve alta de 2,09%, a US$ 79,23. Já na Nymex, o WTI para agosto encerrou com ganho de 0,95%, a US$ 74,15 o barril. No semestre, os dois contratos tiveram altas superiores a 20%. Em resposta, as ações da Petrobrás terminaram o dia com altas de 2,70% (ON) e 3,55% (PN).
No noticiário doméstico, os agentes do mercado acompanharam o imbróglio jurídico em torno da ofensiva dos advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tentar tirá-lo da prisão. Há três pedidos da defesa no Supremo Federal Tribunal (STF). O fato é que, às vésperas do recesso da Casa, o mercado já começa a ver como remotas as chances de registro da candidatura do ex-presidente.
"Hoje é o último dia de trabalho do STF, que retornará as suas atividades em 8 de agosto. Assim, Lula deverá seguir preso ao menos até o início daquele mês, quando o STF irá decidir sobre a manutenção de sua prisão e o TSE sobre a possibilidade de sua candidatura", disse em relatório José Faria Junior, diretor da Wagner Investimentos.