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Nobel quer taxar ricos e empresas rentáveis para ajudar nações vulneráveis: "Países ricos devem isso"

Visitando o Brasil, Esther Duflo afirma que um tributo sobre empresas ricas geraria uma receita de US$ 300 bilhões (R$ 1,6 tri) ao ano

27 jun 2024 - 05h00
(atualizado às 19h30)
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Esther Duflo
Esther Duflo
Foto: Adauto Perin/Sesc

Vencedora do Nobel de Economia de 2019, Esther Duflo quer aumento de impostos para multinacionais rentáveis e uma taxa internacional em cima de bilionários para ajudar vítimas de mudanças climáticas que, segundo ela, atingem países mais pobres e vulneráveis. "Temos uma dívida moral com os mais pobres do mundo", ressalta.

Duflo está no Brasil onde tem dado palestras sobre seus estudos sobre combate à pobreza e justiça climática. Nessa quarta-feira, 26, ela esteve no Sesc 14 Bis, em São Paulo, para defender a criação de um fundo global com esse fim. "O nosso custo de vida, que insistimos em manter, é responsável por US$ 518 bilhões [R$ 2,8 tri] em vidas humanas [entenda o cálculo mais abaixo]. Isso é o valor que países ricos devem".

Cálculos

Esse valor foi atingido com base em um cálculo feito nos Estados Unidos de que uma vida vale US$ 10 milhões -- cerca de R$ 55 mi-- (valor que se chegou em um conceito chamado value of a statistical life, ou valor de uma vida estática, em português livre). À equação foi adicionada a relação de uma tonelada adicional de CO2 gerando um custo de US$ 37 (cerca de R$ 204) em danos relacionados à mortalidade (doenças e mortes prematuras).

Somando os 14 bilhões de toneladas de carbono que Estados Unidos e Europa emitem, chega-se a estimativa de um custo de US$ 518 bilhões (R$ 2,8 tri) aos países de baixa e média renda. "É um sistema inaceitável", classificou.

"E quanto mais as pessoas são ricas, mais elas consomem, e mais aumentam a pegada de carbono", acrescentou. "Uma pessoa rica nos EUA, por exemplo, é responsável por 122% do carbono na África subsaariana do que um próprio africano de baixa renda", exemplificou.

Impactos no Brasil

A economista ressaltou também que é impossível estar no Brasil e ignorar as mudanças climáticas que já impactam nossas vidas. "Vemos as enchentes no Rio Grande do Sul, o calor extremo de mais de 60°C no show da Taylor Swift, que deixou uma jovem morta, e agora o fogo no Pantanal", elencou.

"Não é sobre o futuro, estamos falando de hoje."

Fundo global e sistema de transferências (como Bolsa Família)

Esther Duflo iniciou a palestra dizendo que não gosta de falar só de problemas, mas também mencionar potenciais soluções. Para o problema eminente da mudança climática, ela sugere a criação de um fundo global para apoiar familiar vulneráveis que enfrentam consequências do clima adverso.

"Não é doença, caridade. Os países ricos devem isso, mas eles se recusam [a ajudar]".

A ideia, então, é que esse fundo seja criado através de recursos que poderiam vir de uma taxação sobre o carbono, o que é politicamente difícil, de acordo com a economista, ou, tributando as empresas rentáveis e indivíduos mais ricos do mundo.

Os números impressionam:

  • Segundo os cálculos de Esther, criar um imposto sobre empresas ricas e rentáveis geraria uma receita de US$ 300 bilhões ao ano (cerca de R$ 1,6 tri).
  • Já um tributo específico para bilionários (ela exemplifica com as 3 mil pessoas mais ricas da Terra) geraria um montante de US$ 250 bilhões (cerca de R$ 1,3 tri).

"Há um certo apoio de populações a esse respeito: mais de 80% na Europa e mais de 60% nos EUA [apoiam essa iniciativa], e temos visto certa vontade política, com ministros até do Brasil [Fernando Haddad] incentivando essa ideia".

O fundo em questão funcionaria com os países mais afetados gerenciando esses recursos e o Banco Mundial administrando o dinheiro.

Mas, como o dinheiro chega às mãos de quem precisa? A economista cita um programa brasileiro, o Bolsa Família, para defender sua tese. A ideia está em transferências automáticas para famílias e comunidades afetadas tendo eventos climáticos como gatilhos para liberação dos recursos.

"O Bolsa Família mostra que esse mecanismo é possível. Esse tipo de sistema salva vidas, é factível."

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Fonte: Redação Terra
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