Nobel vai para economista que previu bolha imobiliária
Robert Shiller, Eugene Fama e Lars Hansen foram os escolhidos deste ano para o prêmio Nobel de Economia
Três americanos ganharam nesta segunda-feira o Prêmio Nobel de Economia 2013 por pesquisa que aprimorou as projeções de preços de ativos a longo prazo e ajudou o surgimento de fundos de índices em bolsas de valores, disse a comissão de premiação. Entre os vencedores está Robert Shiller, que ficou conhecido em todo o mundo por antecipar a crise americana de 2008, gerada pela bolha imobiliária.
"Não há como prever o preço de ações e títulos pelo próximos dias ou semanas", disse a Real Academia Sueca de Ciências ao conceder a premiação de 8 milhões de coroas (cerca de R$ 2,8 milhões) para Eugene Fama, Lars Peter Hansen e Robert Shiller.
"Mas é bem possível prever a trajetória geral desses preços por períodos mais longos como para os próximos três a cinco anos. Essas descobertas... foram feitas e analisadas pelos laureados deste ano", afirmou a academia. O comportamento do preço de ativos são chave para decisões sobre poupança, compras de imóveis e políticas econômicas nacionais, disse a academia.
"A má precificação de ativos pode contribuir para crises financeiras e, como a recente recessão global demonstra, tais crises podem prejudicar a economia como um todo", acrescentou. A premiação econômica, oficialmente chamada Prêmio Sveriges Riksbank em Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel, foi criado em 1968. A honraria não integra o grupo de prêmios originais estabalecidos no testamento de 1895 do inventor da dinamite Alfred Nobel.
Contribuição acadêmica
Na década de 80, Robert Shiller, da Universidade de Yale, descobriu que os preços das ações oscilam muito mais do que os dividendos das empresas e que a relação entre preços e dividendos mantém um padrão em um prazo longo. Mas o pesquisador ficou conhecido em todo o mundo por antecipar a crise americana de 2008, gerada pela bolha imobiliária (aumento desproporcional dos preços dos imóveis nos EUA), que terminou por ser um dos problemas que deflagraram a crise econômica mundial.
Na década de 1960, Eugene Fama, da Universidade de Chicago, e seus colaboradores demonstraram que os preços das ações são extremamente difíceis de prever no curto prazo e que novas informações são incorporadas rapidamente nos preços. Esses resultados não só teve um impacto profundo em pesquisas posteriores, como também mudaram a prática do mercado. O surgimento dos chamados fundos de índices nos mercados de ações em todo o mundo é um exemplo dos resultados das pesquisas.
Lars Peter Hansen, da Universidade de Chicago, desenvolveu um método estatístico que é adequado para testar teorias racionais de precificação de ações. Usando este método, Hansen e outros pesquisadores descobriram que as modificações dessas teorias percorrer um longo caminho para explicar os preços.
Bolha no Brasil
Shiller afirmou, em agosto deste ano, que há uma boa probabilidade de que exista uma bolha imobiliária no Brasil. "Suspeito que exista uma bolha no Brasil", disse durante o 6º Congresso Internacional de Mercados Financeiro e de Capitais, em Campos do Jordão (SP).
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Conhecido por ser o criador do índice de preço de imóveis S&P/Case-Shiller, ele disse que o principal indicador da existência da bolha é o fato de os preços dos imóveis no Rio de Janeiro e em São Paulo terem dobrado nos últimos cinco anos. Na época, ele afirmou que este comportamento de preços nunca ocorreu nos EUA, mesmo depois da Segunda Guerra Mundial, quando os soldados voltaram ao país e geraram uma grande demanda por moradias.
"O caso do Brasil me lembra o Japão nos anos 80, quando os preços dos imóveis subiram até atingir um pico em 1990, e vem caindo desde então", disse Shiller, que é autor de livros sobre finanças comportamentais. Shiller questionou como as pessoas poderão pagar pelos imóveis no Brasil se os preços continuarem em alta, e sugeriu que o governo precisa não apenas ajudar a financiar a compra de imóveis, mas também garantir que exista oferta, de modo que o mercado seja sustentável.
"É importante que o financiamento seja responsável para impedir que pessoas comprem suas casas antes de estarem prontas e poderem pagar", afirmou durante o congresso. Outros países vivem um cenário semelhante em relação aos preços de imóveis, como China, Índia, Rússia, Colômbia e Canadá, citou. Em sua avaliação, isso reflete um entusiasmo generalizado sobre os países emergentes.
"A percepção é de que os emergentes estão ficando ricos e os mercados imobiliários estarão fabulosos em 100 anos. Mas isso não pode estar certo, porque outros países tiveram forte trajetória de crescimento e os preços das casas não subiram desta forma", disse.