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'Nunca estivemos tão confiantes no Brasil como agora', diz presidente do Morgan Stanley Brasil

Banco diz que País está entrando em ciclo de expansão sustentável e prolongado, alimentado pelo setor privado

10 fev 2020 - 04h12
(atualizado às 16h53)
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Confiante no crescimento sustentável da economia nos próximos anos, o presidente do Morgan Stanley no Brasil, Alessandro Zema, afirma que o setor privado assumiu o protagonismo da economia em um momento em que o governo se esforça para cortar custos. O banco de investimento, que participou ativamente de operações no mercado de capitais em 2019, projeta expansão de 2,2% no PIB neste ano e uma aceleração para 3,1% em 2021. "Nunca estivemos tão confiantes no Brasil como agora", afirma o executivo. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

O ano de 2019 foi bem aquecido para o mercado de capitais. O ambiente de negócios continuará ainda mais favorável este ano?

O Brasil está entrando em um ciclo de crescimento sustentável e prolongado que não víamos há muito tempo. A grande diferença em relação ao passado recente é que o setor privado tem assumido o protagonismo sobre o setor público. Ou seja, temos crescimento de muito melhor qualidade. Não estamos dependendo mais de investimentos substanciais do governo para sustentar o crescimento do PIB.

Qual projeção de crescimento do Morgan para o PIB?

Projetamos 2,2% neste ano e 3,1% para o ano que vem. Nunca estivemos tão confiantes no Brasil como agora.

Que ações concretas teremos do setor privado na economia?

Vemos as empresas olhando para expansão e não mais para dentro de casa. Normalmente as empresas saem de um período de recessão com produtividade elevada. Isso, por consequência, gera uma alavancagem operacional maior. Ainda há bastante ociosidade na indústria, e o desemprego está alto. Dito isto, temos notado uma mudança cada vez maior em nossos clientes, que passaram a falar de planos de crescimento como já não víamos acontecer há algum tempo.

Houve uma saída voluntária do governo ou o setor privado se organizou por si só?

É uma combinação dos dois fatores. As reformas que ocorrem desde 2016 têm sido cruciais para destravar alguns elementos que façam que a economia passe a crescer e encorajem o setor privado. A preocupação antes era em relação ao endividamento do setor público. Com a perspectiva de uma estabilidade do endividamento, você consegue imaginar um cenário em que as taxas de juros vão se manter estáveis no patamar baixo e a inflação, sob controle. A gente nunca atacou de frente o problema fiscal como antes. Isso gera confiança no setor privado.

Mesmo assim, os investidores estrangeiros estão ressabiados...

Como o fluxo doméstico nunca foi tão forte, criou-se a percepção de que o investidor gringo não veio. Discordamos desta visão. O fluxo de saída de estrangeiros no mercado secundário no ano passado foi de R$ 45 bilhões. O fluxo total de ofertas de R$ 110 bilhões, nos quais os investidores estrangeiros alocaram, em média, de 40% a 50%. Ou seja, não houve fluxo líquido de saída de investidor estrangeiro. Houve sim um aumento exponencial do fluxo doméstico, mas o estrangeiro continua ativamente participando das novas emissões.

E o que tem estimulado os investidores locais?

A maior demanda de investidores locais tem a ver com a procura por rendimento que eles não têm mais nos títulos públicos. Esses investidores estão buscando rendimento no mercado de ações. Ainda existe um potencial de valorização histórico no mercado de ações, e o potencial de crescimento de resultados das empresas é muito positivo.

Seria o mundo perfeito, se não tivéssemos um cenário global instável agora com coronavírus.

O Brasil não vai estar completamente isolado do que acontece fora. O coronavírus é um fator que traz volatilidade para o crescimento global, mas ele é mais um disruptor do que um fator que vai descarrilar o movimento de crescimento global da economia. A volatilidade tende a aumentar, mas já vimos o mercado voltar a níveis pré-epidemia, uma vez que medidas de contenção e estímulos à economia foram anunciadas pelo governo chinês. É possível que aconteça disrupção temporária de oferta em alguns setores, mas a tendência é voltar à normalidade.

Há perspectivas de recordes na Bolsa este ano. Estamos bem posicionados para isso?

O último recorde de volume foi em 2007, com 74 transações. Vamos superar esse número. E vamos superar em valor em relação ao ano passado, que foi R$ 107 bilhões. Esse ano, as operações de mercado de capitais devem atingir de R$ 170 bilhões a R$ 200 bilhões. E veremos mais operações de abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) este ano.

Nesta conta estão as vendas de ações do BNDES?

A venda de ações detidas pelo BNDES deve movimentar algo entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões dessa estimativa total.

Veremos também uma diversificação de empresas na Bolsa?

Sem dúvida. A gente viu neste primeiro momento mais setores correlacionados com a alta do PIB - real estate (setor imobiliário) e empresas de varejo -, além de fintechs de meios de pagamento e bancos digitais. Isso vai continuar, mas vamos ver também mais bancos médios, assim como empresas de saúde e educação. Vejo uma diversificação geográfica maior, fora do eixo Rio-São Paulo, e de outros setores.

Boa parte das operações na Bolsa em 2019 foi para o bolso dos acionistas.

Veremos um porcentual maior de emissões primárias na Bolsa neste ano. Ou seja: é dinheiro que vai de fato fomentar o crescimento das empresas, seja por expansão orgânica ou inorgânica.

Estadão
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