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O mercado da falta d'água: veja quem ganha com a crise

Produtos como caixas d'água, calhas, reservatórios, baldes e galões de água mineral estão assistindo a uma explosão de demanda em função da expectativa de um racionamento

20 fev 2015 - 06h14
(atualizado às 08h05)
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Gerente da Leroy Merlin, Clodoaldo Lins diz que a venda de caixas d'água em sua loja aumentou 506%
Gerente da Leroy Merlin, Clodoaldo Lins diz que a venda de caixas d'água em sua loja aumentou 506%
Foto: BBC

A crise hídrica no Sudeste brasileiro, que gera impacto negativo na economia como um todo, tem representado uma enxurrada de novos clientes para alguns segmentos específicos que lucram com as torneiras secas.

Produtos como caixas d'água, calhas, reservatórios, baldes e galões de água mineral, e serviços como a perfuração de poços artesianos e a distribuição de água em caminhões-pipa estão assistindo a uma explosão de demanda em função da expectativa de um racionamento - em especial na Grande São Paulo, onde a situação é mais crítica.

"Tivemos um aumento de 506% nas vendas de caixa d'água em janeiro na comparação com o ano anterior em nossa loja - e uma alta da mesma ordem foi experimentada em Sao Paulo", diz Clodoaldo Lins, gerente de uma loja da Leroy Merlin na zona sul da capital paulista.

Segundo ele, a espera por alguns modelos mais procurados hoje chega a 60 dias, embora também haja unidades para pronta entrega.

"Temos vendido cerca de 100 caixas d'água por dia. Às vezes 150. E nossa sorte foi ter se preparado, adiantando os pedidos para os nossos fornecedores, porque sabemos de lojas concorrentes que estão sem o produto."

Lins diz que, além das caixas d'água, os clientes da loja também estão comprando todo tipo de recipiente para armazenar água em casa - de cestas de lixo a caixas organizadoras de escritório.

"Quando a Cantareira chegou a quase 5%, há duas semanas, vendemos todas as 180 cestas de lixo da loja em 4 horas. Tudo o que pode servir para reservar água está vendendo bem."

A concorrente Telhanorte também registrou um aumento expressivo na venda de caixas d'água na grande São Paulo - da ordem de 600%.

Não é a tôa que os fabricantes estão tendo de adaptar sua estrutura produtiva e esquema logístico para atender a essa demanda.

A Fortlev, por exemplo, uma das líderes do setor, diz que hoje todo o excedente de produção das fábricas do Espírito Santo, Bahia e Santa Catarina vai para São Paulo.

"Não temos mais estoque de caixas d'água. Agora o produto sai da linha de montagem direto para o caminhão", diz Evandro Sant’Anna, diretor Comercial e de Marketing da Fortlev.

Sant'Anna explica que a espera dos clientes também aumentou de 7 a 14 dias para 14 a 28 dias.

"Além disso, também percebemos uma procura maior por cisternas. Temos um aumento de 5 a 10 vezes no número de unidades vendidas", diz ele.

Caminhões-pipa

As empresas que distribuem água em caminhões-pipa também estão entre as que aumentaram o faturamento com a crise hídrica.

Distribuidoras consultadas pela BBC Brasil dizem ter registrado uma alta de 10% a 50% nas vendas desde outubro de 2014. Alguns clientes reclamam que seus preços também subiram.

Nilton Savieto, síndico de 12 edifícios em sete bairros de São Paulo, diz que em outubro pagava entre R$ 500 e R$ 600 por um caminhão-pipa de 15 mil litros. No final de janeiro, o preço teria chegado a R$ 900. "E no início de fevereiro, algumas empresas já me disseram que só conseguiriam entregar a água por R$ 1.200", afirma.

As distribuidoras alegam que seus custos operacionais também subiram - e até mais que o valor repassado aos clientes.

"Em alguns casos, nossos poços artesianos não dão conta da demanda. Aí precisamos comprar água de empresas parceiras, que está entre 30% e 40% mais cara desde outubro", diz Neiva Rodrigues, dona da empresa H2Ondina, de Cotia, há 28 anos no mercado.

"Mesmo assim, estou muito otimista em relação ao crescimento do negócio nos próximos anos. Estamos atendendo muito a região central de São Paulo, onde não havia tanta demanda, e também a zona sul."

No caso da perfuração de poços artesianos, Carlos Eduardo Giampá, da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas calcula que tenha havido um aumento de 30% nas licenças de construção desde outubro.

"Há um interesse crescente de condomínios, hospitais e indústrias", diz ele.

"Mas calcula-se que 80% dos poços perfurados em São Paulo sejam irregulares - e o número dessas obras deve ter aumentado ainda mais com a crise hídrica."

Investimentos

Animadas pela demanda mais aquecida, algumas dessas empresas também planejam novos investimentos e até a contratação de mais pessoal- na contra-mão de outros setores da economia, que estão praticamente estagnados.

A Aqualimp, que produz caixas d'água, cisternas e tanques, por exemplo, planeja aumentar em 100% sua capacidade de produção nos próximos meses e contratar certa de 40 novos funcionários.

"Obviamente, não sabemos o que vai acontecer com a demanda no ano que vem, se o abastecimento de água for normalizado - o mais provável é que ela caia para patamares mais baixos", diz Vinícius Ramos, diretor de varejo da Aqualimp.

Ele diz, porém, que dois fenômenos impulsionados pela crise hídrica vieram para ficar. O primeiro diz respeito ao uso mais consciente da água. O segundo, às incertezas sobre o suprimento desse recurso.

"No Brasil, muitas casas ainda não tem caixa d'água. Daqui para frente, acho que isso vai passar a ser uma prioridade", diz ele.

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