O que deve mudar em aeroportos após concessão
Alemã Fraport, suíça Zürich e francesa Vinci terão que investir R$ 6,6 bi em Porto Alegre, Salvador, Florianópolis e Fortaleza. Conheça as operadoras, as obras obrigatórias e os possíveis efeitos para passageiros.
Três operadoras aeroportuárias internacionais - a alemã Fraport, a suíça Zürich e a francesa Vinci Airports - venceram nesta quinta-feira (16/03) o leilão de concessão dos terminais de Porto Alegre, Salvador, Florianópolis e Fortaleza. As propostas ganhadoras somaram 3,72 bilhões de reais.
As operadoras terão que realizar investimentos de cerca de 6,6 bilhões de reais nos aeroportos. Entre eles, estão a ampliação dos terminais de passageiros (exceto Florianópolis, que terá um novo terminal), dos pátios das aeronaves e das pistas de pouso e decolagem.
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Os quatro aeroportos concedidos representam 12% do tráfego de passageiros nos terminais do país. Com isso, o total de dez aeroportos nas mãos de operadoras privadas - as concessões de São Gonçalo do Amarante/RN, Brasília, Guarulhos, Viracopos, Galeão e Confins já haviam sido leiloadas - representarão 59% do tráfego de passageiros do país.
Quem são as operadoras que venceram o leilão?
A alemã Fraport administra dez aeroportos: Frankfurt e Hanover, na Alemanha; Burgas e Varna, na Bulgária; Liubliana, na Eslovênia; São Petersburgo, na Rússia; Antalya, na Turquia; Nova Déli, na Índia; Xi'an, na China; e Lima, no Peru.
Em breve, a empresa deve começar a administrar 14 aeroportos da Grécia, depois de ter vencido suas concessões. Em 2016, cerca de 105 milhões de passageiros usaram os aeroportos de que a Fraport detém mais de 50% das ações.
O principal terminal da empresa é o de Frankfurt - o quarto maior da Europa, depois de Heathrow, em Londres, Charles de Gaulle, em Paris, e Amsterdã. Em 2016, passaram por Frankfurt, principal hub (centro de conexões) da Alemanha, mais de 60 milhões de passageiros e cerca de 2,1 milhões de toneladas de carga e correio aéreo. Atualmente em construção, o Terminal 3, um dos mais modernos do mundo, tem previsão de ser inaugurado em 2023.
A francesa Vinci, um dos maiores grupos de construção e concessões da Europa, opera 35 aeroportos, sendo 13 na França, dez em Portugal, três no Camboja, dois no Japão, seis na República Dominicana e o aeroporto de Santiago, no Chile. Pelos terminais da empresa passaram mais de 130 milhões de passageiros em 2016. A companhia atua também em rodovias, ferrovias, energia e estádios.
A Flughafen Zürich AG opera o aeroporto de Zurique, na Suíça. Mais de 27 milhões de passageiros passaram pelo terminal em 2016. A empresa tem participação em mais outros cinco aeroportos: Confins, em Belo Horizonte - a Zürich venceu a concessão em 2013, juntamente com Consórcio CCR, Aeroporto de Munique (München Flughafen) e Infraero -, além de Bogotá, Curaçao e dois no norte Chile.
Quais investimentos devem ser feitos nos aeroportos leiloados?
Em 25 anos de concessão, a Fraport deverá investir 1,9 bilhão de reais em Porto Alegre para ampliar o terminal de passageiros, o pátio de aeronaves (14 pontes e oito posições remotas), o estacionamento (4.300 vagas) e a pista para 3.200 metros.
Já em Fortaleza, a operadora alemã terá que investir 1,4 bilhão de reais durante a concessão de 30 anos para ampliar o terminal de passageiros, o pátio de aeronaves (26 pontes de embarque e 12 posições remotas) e a pista para 2.775 metros.
A francesa Vinci Airports terá que investir 2,35 bilhões de reais em Salvador para, em 30 anos de concessão, ampliar o terminal, estacionamento (3.640 vagas), o pátio de aeronaves (36 pontos de embarque e 16 posições remotas) e construir pista de pouso e decolagem de 2.160 metros.
Em Florianópolis, a suíça Zürich deverá construir um novo terminal de passageiros, novo estacionamento de veículos (2.530 vagas), ampliar o pátio de aeronaves (dez pontes de embarque e seis posições remotas) e ampliar a pista de pouso e decolagem (2.400 metros) em 30 anos.
Que outras mudanças as operadoras podem trazer?
Em seus aeroportos, as operadoras internacionais investem em facilidades para o passageiro, como restaurantes, shoppings e lounges, e criam oportunidades de negócios relacionados ou não com a aviação nos seus terminais.
Um dos exemplos é a Fraport, que nas proximidades do aeroporto de Frankfurt desenvolveu parques logísticos (como o Mönchhof Logistic Park, o maior da região dos rios Reno-Meno); um shopping com 300 lojas; e um espaço para hotéis, escritórios, feiras e conferências (o Gateway Gardens, que será construído em 2021).
O aeroporto também investiu no desenvolvimento do transporte intermodal, fazendo a integração dos transportes aéreo, ferroviário e rodoviário. Com uma estação da companhia de trens alemães Deutsche Bahn dentro do aeroporto, os passageiros conseguem chegar ao terminal a partir das principais cidades alemãs em trens de alta velocidade e regionais ou por seu terminal rodoviário.
A Fraport, juntamente com a Lufthansa e a Deutsche Bahn, criaram também um serviço chamado de AiRail, que integra o tíquete de avião com o de trem. Assim, um passageiro pode voar de São Paulo para Colônia, via Frankfurt, com um tíquete integrado. Com ele, o cliente consegue fazer durante o check-in online ou no aeroporto de origem o check-in também para o transporte ferroviário.
O investimento de ao menos 6,6 bilhões de reais nos quatro aeroportos concedidos nesta semana, somado à experiência das operadoras internacionais - que já administram importantes terminais e reconhecidos por sua qualidade em todo o mundo -, deverão significar a melhora geral da qualidade dos diversos serviços prestados aos passageiros.
Por que passar aeroportos para as mãos da iniciativa privada?
Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), foram transportados 96,2 milhões de pessoas no mercado doméstico e internacional em 2016 e, com os sinais de aquecimento da economia, este número deverá crescer nos próximos anos. Isso mostra a necessidade que o Brasil, um país de proporções continentais, tem de melhorar sua infraestrutura aeroportuária.
Pesquisas divulgadas recentemente mostram que passageiros brasileiros avaliam melhor os aeroportos privatizados que os administrados pela Infraero. As últimas rodadas de concessões de aeroportos já mostraram que valeu a pena repassar aeroportos para empresas privadas - com ou sem participação minoritária da Infraero -, já que são notáveis os investimentos realizados em conforto e tecnologia de ponta nesses terminais.
Com a concessão de aeroportos à iniciativa privada, o governo abre o mercado para novos competidores e cria concorrência entre os terminais por tráfego e negócios. Como consequência, é possível aumentar o número de rotas oferecidas por um terminal e desafogar aeroportos congestionados, facilitando a vida do passageiro.