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O que inovação tem a ver com compaixão? Tudo

Enquanto não nos comprometermos com nossa identidade coletiva, toda e qualquer ideia positiva estará impedida de prosperar

28 nov 2022 - 01h00
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Foto: Bernd Müller / Pixabay

É improdutivo discutirmos caminhos para a inovação sem refletirmos também sobre justiça social e humanidade. Essa constatação ficou ainda mais clara para mim depois de relembrar ideias que o advogado norte-americano Bryan Stevenson compartilha tão brilhantemente em seu TED Talk “Precisamos falar sobre justiça”. Para ele, toda e qualquer visão sobre tecnologia, entretenimento e criatividade precisa necessariamente estar casada com um olhar de compaixão.

Bryan, que é negro, lembra o quanto todos nós gostamos de projetos inovadores e de produtos tecnológicos, sem nenhuma distinção de etnia ou classe social. Mas, a partir de suas próprias vivências, ele deixa claro como o acesso a essas realidades está encoberto por sofrimento e marginalização: “Para mim, o oposto da pobreza não é riqueza, mas, sim, justiça”. 

Seu exemplo é norte-americano, mas se encaixa muito no Brasil, onde a educação desigual impede que tenhamos qualquer pensamento democrático em relação ao desenvolvimento e ao ingresso à tecnologia de ponta. A verdade é que a inovação no País ainda é assunto para privilegiados. 

Em outro artigo, comentei o quanto a inovação é uma responsabilidade social das lideranças, mas hoje meu apelo vai além e digo que cabe a todos nós impedirmos que a tecnologia, a criatividade, a pesquisa e o desenvolvimento sejam apenas boas ideias isoladas em um número reduzido de mentes, mas que possam encontrar convicção em nossos corações para, enfim, resultar em soluções que permitam uma vida de mais compaixão para todos.

Enquanto não nos comprometemos com nossa identidade, ou seja, com quem nós somos como pessoa e como povo, todas as ideias e projetos positivos e maravilhosos que possam vir a surgir já nascem comprometidos. Reforço as palavras de Stevenson: “não existe inovação eficaz e que nos permita ser humanos em sua plenitude se não pensarmos coletivamente na pobreza, na exclusão, na desigualdade e na justiça social.” 

Anos e décadas se passarão e, no futuro, não seremos julgados por nossa tecnologia, nosso design, pelo brilhantismo de nosso intelecto e pela nossa razão aristotélica. O verdadeiro intelecto de uma sociedade é medido pela forma como ela trata os seus, e principalmente os mais pobres e marginalizados. 

Se você quer se inspirar ainda mais nesses sentimentos, uma das histórias de vida de Bryan Stevenson virou livro e, recentemente, o  filme “Luta por Justiça” – muito bom, aliás: assistam!

(*) Rodrigo Guerra é economista, empreendedor e fundador do Projeto Unbox. Enxerga a inovação como uma responsabilidade social das lideranças, e não como um conjunto de metodologias. Fundou o Unbox para o ajudar em sua própria jornada de “desencaixotar” o pensamento crítico que antecede – ou deveria anteceder – qualquer projeto de transformação dos negócios e da sociedade 

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