O que tem na carteira de trabalho dos candidatos à Prefeitura de SP? Veja os históricos profissionais
A carteira de trabalho tem sido usada por um dos candidatos como instrumento de intimidação, apesar de todos terem um currículo recheado
O que tem na carteira de trabalho dos candidatos à Prefeitura de São Paulo nas eleições 2024? A questão foi levantada durante os debates realizados até aqui, sempre em tom provocativo de um candidato contra o outro. Mas a verdade é que nem sempre uma carreira profissional se resume a ter ou não uma carteira de trabalho completamente preenchida.
O Terra foi atrás das assessorias de imprensa dos cinco candidatos que participaram do último debate, promovido pela TV Gazeta em parceria com a MyNews, no domingo, 1º, para saber mais sobre o histórico profissional de cada um.
Os candidatos procurados foram: Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB), Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB). Três das cinco assessorias responderam ao questionamento da reportagem. Confira um breve descritivo do currículo de cada um:
Guilherme Boulos
Principal alvo dos ataques do candidato Pablo Marçal, Boulos chegou a protagonizar um dos embates mais comentados do debate promovido pelo Terra em parceria com o Estadão, no dia 14 de agosto. Na ocasião, o psolista deu um tapa em uma carteira de trabalho que Marçal retirou do bolso e colocou em seu rosto - o movimento é chamado pelo candidato do PRTB como uma tentativa de "exorcizar" os adversários.
No currículo resumido enviado por sua assessoria à reportagem, porém, constam várias experiências profissionais de Boulos no ramo da Educação. O atual deputado é formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), com especialização em Psicologia Clínica e mestrado em Psiquiatria. Consta que ele iniciou sua carreira como professor do Ensino Básico, na Escola Estadual Maria Auxiliadora, em Embu das Artes. Também atuou como professor na Escola de Educação Permanente da FMUSP e na Faculdade de Mauá, além de ter sido professor convidado das instituições Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), do Mestrado da Faculdade de Ciências Sociais da PUC-SP e nos cursos EAD da Escola Kope.
A assessoria também cita que Boulos foi colunista e é autor de três livros: Por que ocupamos?, De que lado você está? e Sem Medo do Futuro. Boulos também colaborou, de forma remunerada, para a Folha de S.Paulo, a revista Carta Capital e o Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE).
José Luiz Datena
Conhecido pela sua carreira como jornalista e por apresentar o programa Brasil Urgente, da Band, desde 2003, Datena começou a trabalhar de maneira formal como repórter em 1982, em Ribeirão Preto (SP), segundo o currículo enviado por sua assessoria.
O apresentador está de licença da Band para poder disputar a eleição. Ele tem passagens pela EPTV --afiliada da TV Globo em Ribeirão Preto--, Record, Rede TV e TV Ribeirão.
Em seu vínculo trabalhista atual, Datena revelou, na sabatina promovida pela Folha e o UOL, que negociou com a Band, pedindo uma redução de 70% do seu salário para manter outros trabalhadores na casa e ficar “tranquilo” para tocar sua campanha. Ele não chegou a revelar qual seu salário, mas disse que a emissora chegou a sugerir uma redução de R$ 150 mil, que foi considerada baixa por ele.
Ricardo Nunes
O histórico profissional do atual prefeito de São Paulo está ligado ao empreendedorismo. Segundo sua assessoria, antes mesmo dos 18 anos, Nunes fundou um jornal chamado Hora de Ação, voltado aos “anseios comerciais e empresariais dos bairros da Zona Sul”.
O negócio não prosperou e Nunes encontrou seu nicho no controle de pragas. “Assim começou sua empresa, que cresceu atuando na desinfecção de cargas de navios nos portos brasileiros e hoje emprega cerca de 400 pessoas e tem unidades em portos e aeroportos do Brasil. Empregador e empresário, foi fundador da Associação Brasileira das Empresas de Tratamento Fitossanitário (Abrafit) e assumiu o cargo de diretor na Associação Empresarial da Região Sul de São Paulo (AESUL), no período 2001/2003”, diz a comunicação do prefeito.
Pelo descritivo, Nunes não chegou a ter um emprego com carteira assinada.
Tabata e Marçal
As assessorias de Tabata Amaral e de Pablo Marçal não responderam ao contato do Terra. O segundo, inclusive, foi quem fez provocações a Tabata e a Boulos acusando-os de nunca terem trabalhado fora da política.
A candidata do PSB chegou a publicar em suas redes sociais, no Dia do Trabalhador, um vídeo em que descreve o início de sua carreira profissional. Ela aparece segurando a sua carteira de trabalho e mostra a primeira marcação nela, feita após se formar no Ensino Médio.
O seu primeiro emprego foi em uma escola, como auxiliar de classe. A hoje deputada construiu sua carreira focada na Educação. Depois de se formar em Harvard como cientista política e astrofísica, Tabata criou a ONG Mapa da Educação e foi co-fundadora do Movimento Acredito, de renovação política.
Como a assessoria de Marçal também não retornou com o histórico profissional do candidato, o Terra fez um resumo com informações encontradas online. O candidato pelo PRTB se tornou famoso por sua atuação como coach - mas, hoje, ele não aceita mais ser chamado pelo título.
Marçal dava palestras e mantinha um grupo de “mentorados”, que se renovava com frequência. Em sua candidatura no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele se apresenta como empresário e divulga ter um patrimônio de quase R$ 170 milhões, dentre participações em empresas, imóveis e investimentos em renda fixa e variável.
Em outras ocasiões, Marçal já disse ter começado a vida profissional como atendente de call center, aos 18 anos, na empresa Brasil Telecom.
A carteira assinada no Brasil
A população ocupada no Brasil é hoje de 102 milhões de brasileiros. O número recorde é composto da seguinte maneira: empregados no setor privado são 52,5 milhões e no setor público são 12,7 milhões. O restante do número é formado por trabalhadores autônomos, empregadores e trabalhadores domésticos.
Do total de ocupados, aqueles que têm carteira assinada entre o setor público e privado somam 40,1 milhões de brasileiros. O que sobra dessa diferença não necessariamente está na informalidade. Segundo o IBGE, 39,4 milhões de trabalhadores brasileiros são informais.
A economista Juliana Inhasz, professora do Insper, explica a importância de se ter registros do seu trabalho. “A ideia é que esse registro gera não só uma forma de controle, no sentido de entender se a pessoa está pagando as suas contribuições, mas ele também serve como uma forma de depois a gente conseguir checar rendas que saem de um empregador e vão para um empregado. E isso gera comprovações, inclusive, para recolhimentos de impostos, etc”, afirma.
Inhasz reforça que qualquer tipo de ocupação vai demandar um registro e que o trabalhador precisa correr atrás daquele que mais se adequa ao seu caso: “Independente de qual é o formato, qual o nome você receba dentro dessa alocação, o fato é que você precisa pagar impostos, você precisa recolher os tributos necessários, ainda que você não seja um trabalhador com carteira assinada, você precisa de alguma forma se formalizar dentro da economia.”
A economista explica que com a formalização o trabalhador ganha direitos previstos por lei, como o recolhimento do INSS para futura aposentadoria.