"O socialismo é impraticável até em um mundo de santos"
- Guilherme Mergen
- Direto de Porto Alegre
Ao abrir a programação do segundo dia do 23º Fórum de Liberdade, na manhã desta terça-feira, em Porto Alegre, o membro-fundador do Instituto Millenium e diretor do Instituto Liberal (IL), Rodrigo Constantino, criticou ferrenhamente o socialismo, tema do painel no qual participou ao lado do filósofo João Quartim Moraes e do economista equatoriano Juan Fernando Carpio. Para ele, mesmo em um mundo de "santos", o sistema seria impraticável.
Antes de apresentar seus argumentos contra o socialismo, o palestrante mostrou-se frustrado com o tema em debate. "Me deu um pouco de tristeza por conta do tema: socialismo. Eu me sinto num museu discutindo se a terra é quadrada. Com pessoas sábias ou não, bem intencionadas ou não, é um sistema impraticável. Atualmente, quase nenhum socialista defende de fato o socialismo puro, a abolição da propriedade privada, porque não vai ter votos", disse.
Constantino argumentou sua rejeição ao regime na divisão do trabalho e no livre mercado, contestados pelo sistema idealizado por Karl Marx e Engels. Na opinião dele, a extinção de ambos desestabilizaria a sociedade. "O livre mercado é a democracia dos consumidores, onde cada um de nós pode decidir. Já o socialismo é um regime em que o produtor é quem decide o que pode ser produzido, como e para quem", afirmou.
Na avaliação do diretor do Instituto Liberal, o preço livre de mercado é o único modelo que permite a cada empreendedor exercer a sua preferência e levar informações aos agentes da economia. "Permite ao mercado conhecer a demanda de todos nós e alocar os recursos escassos. Ou seja, o empreendedor é aquela figura que alerta às oportunidades, como uma espécie de arbitrador, de olho nas assimetrias de mercado", disse.
Crise X Liberalismo
Ao ser questionado sobre a crise financeira mundial desencadeada a partir dos Estados Unidos em setembro de 2008, cujo principal símbolo foi a quebra do banco Lehman Brothers, Constantino desconectou-a do Liberalismo. De acordo com ele, o diagnóstico de alguns economistas, culpando o modelo de mercado livre, foi equivocado.
"O Liberalismo não sofreu crise. Essa crise não foi do liberalismo. O diagnóstico foi errado e não tem como acertar na receita. O epicentro da crise foi o setor imobiliário, totalmente dependente do governo americano, nada mais que isso", afirmou.
Interferência do mercado
Crítico aos argumentos de Constantino e defensor do socialismo, João Quartim de Moraes, professor universitário com formação em Direito e Filosofia pela Universidade de São Paulo, defendeu a intervenção do Estado na economia. Na opinião dele, que participou da resistência clandestina à ditadura militar, entre 1968 e 69 no País, nunca existiu uma sociedade onde o mercado não sofresse interferência do Estado.
Para argumentar sua declaração, utilizou a recuperação da crise financeira que desestabilizou o mercado entre 2008 e 2009. "Qual seria o tempo para se recuperar da crise, caso o Estado não interviesse na economia durante a crise?", questionou. Na avaliação dele, a forma como os Estados Unidos agiram sobre a economia só contribuiu para que as mudanças necessárias fossem adiadas. "Se os EUA não tivessem feito uma intervenção na economia durante a crise, o sistema iria se adequar e melhorar", afirmou.
Ao criticar o Liberalismo, o professor disse que é um problema do modelo atual responder como contornar as desigualdades do sistema. "Eles (os liberalistas) não respondem porque não há resposta. Esse modelo prevê a desigualdade", afirmou. Ao ser questionado sobre o ritmo de crescimento do Socialismo, Quartim citou a União Soviética como exemplo. "A União Soviética, com o socialismo, tornou-se uma das maiores potências do mundo. Em 30 anos, cresceu o mesmo que os Estados Unidos demorou 150 anos", disse.
Fórum
A 23ª edição do Fórum da Liberdade começou na noite dessa segunda-feira, no centro de eventos da PUCRS, em Porto Alegre. O evento, que se encerra nesta terça, busca promover um debate aberto entre diferentes correntes sobre seis questões: capitalismo, socialismo, inflação, política e ideias, intervencionismo e investimento estrangeiro.