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Obituário - Charlie Munger, o "Oráculo de Pasadena" e dupla de negócios de Warren Buffett, morre aos 99 anos

28 nov 2023 - 21h23
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Charles Munger, que faleceu nesta terça-feira, chegou a ganhar 20 centavos de dólar por hora trabalhando para o avô de Warren Buffett durante a Crise de 1929, para, depois, se tornar por mais de quatro décadas o braço direito de Buffett e uma referência na Berkshire Hathaway.

A família de Munger informou que ele morreu pacificamente na manhã desta terça-feira em um hospital da Califórnia, disse a Berkshire.

A união de Munger com Buffett está entre as mais bem-sucedidas da história dos negócios. Juntos, eles transformaram a Berkshire, sediada em Omaha, Nebraska, em um conglomerado multibilionário com dezenas de unidades de negócios.

No entanto, a parceria que começou formalmente quando eles se juntaram em 1975 na Berkshire -- onde Buffett era presidente do conselho, com Munger sendo vice-presidente a partir de 1978 -- prosperou apesar das diferenças acentuadas de estilo e até mesmo de investimento.

Conhecido quase que universalmente como Charlie, Munger apresentava uma forma mais franca de reflexões, muitas vezes em frases lacônicas, sobre investimentos, economia e as fraquezas da natureza humana.

Ele comparou os banqueiros a "viciados em heroína" incontroláveis, chamou o bitcoin de "veneno de rato" e disse à CNBC que "o ouro é uma coisa ótima para costurar em suas roupas se você for uma família judia em Viena em 1939, mas acho que as pessoas civilizadas não compram ouro. Elas investem em negócios produtivos".

Munger não foi menos incisivo ao falar sobre a Berkshire, que tornou ele e Buffett bilionários e também deixou muitos dos primeiros acionistas ricos.

"Acho que parte da popularidade da Berkshire Hathaway se deve ao fato de parecermos pessoas que encontraram um truque", disse Munger em 2010. "Não se trata de brilhantismo. É apenas evitar a estupidez."

EXPANDINDO OS HORIZONTES DE BUFFETT

Munger e Buffett divergiam politicamente, sendo Munger um republicano e Buffett um democrata.

Eles também tinham interesses pessoais divergentes.

Por exemplo, Munger tinha uma paixão por arquitetura, tendo projetado edifícios como um enorme prédio de dormitórios para a Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, conhecido como "Dormzilla", enquanto Buffett afirmava não saber a cor do papel de parede de seu quarto.

No entanto, na Berkshire, eles se tornaram inseparáveis, completando as ideias um do outro e, de acordo com Buffett, nunca tiveram uma discussão.

"Sou um pouco menos otimista do que Warren", disse Munger na reunião anual de 2023 da Berkshire, provocando risos depois que Buffett expressou seu familiar otimismo em relação ao futuro dos Estados Unidos. "Acho que o melhor caminho para a felicidade humana é esperar menos."

Assim como Buffett, Munger era fã do famoso economista Benjamin Graham.

No entanto, Buffett atribui a Munger o fato de tê-lo incentivado a focar a Berkshire na compra de empresas maravilhosas a preços justos, em vez de empresas justas a preços maravilhosos.

"Charlie me empurrou na direção de não apenas comprar pechinchas, como Ben Graham havia me ensinado", disse Buffett. "Foi o poder da mente de Charlie. Ele expandiu meus horizontes."

ORÁCULO DE PASADENA

Os fãs apelidaram Buffett de "Oráculo de Omaha", mas Munger era igualmente respeitado por seus seguidores, que o chamavam de "Oráculo de Pasadena", em referência à sua cidade adotiva na Califórnia.

Munger reservava muitos de seus comentários públicos para as reuniões anuais da Berkshire; seu veículo de investimento Wesco Financial, que a Berkshire comprou em 2011; e o Daily Journal, veículo de comunicação que presidiu por 45 anos.

Para os admiradores, Munger era tanto o psiquiatra experiente quanto o famoso investidor. Muitas de suas observações foram reunidas no livro "Poor Charlie's Almanack: The Wit and Wisdom of Charles T. Munger" (Almanaque do Pobre Charlie: A Sagacidade e Sabedoria de Charles T. Munger), com um prefácio de Buffett.

"Fui criado por pessoas que consideravam ser um dever moral ser tão racional quanto possível", disse Munger aos acionistas do Daily Journal em 2020.

"Essa noção", acrescentou, "tem me servido enormemente bem."

Em 2009, durante a pior recessão nos EUA desde a Grande Depressão, ele tentou tranquilizar seus seguidores.

"Se você esperar até que a economia esteja funcionando corretamente para comprar ações, é quase certo que será tarde demais", disse ele na reunião anual da Wesco.

Após esse encontro, a colunista do Los Angeles Times e investidora da Wesco, Kathy Kristof, escreveu sobre Munger: "Ele nos dá esperança."

TÊTE-À-TÊTE

Nascido em 1º de janeiro de 1924, Munger, quando criança, trabalhou meio período na mercearia de Omaha administrada pelo avô de Buffett, Ernest.

Buffett também trabalhou lá, embora ele e Munger, que tinha 6 anos e meio a mais, não tenham trabalhado juntos.

Mais tarde, Munger se matriculou na Universidade de Michigan, mas abandonou os estudos para trabalhar como meteorologista no Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.

Munger se formou na Faculdade de Direito de Harvard em 1948.

Ele então exerceu a advocacia em Los Angeles, cofundando o escritório de advocacia agora conhecido como Munger, Tolles & Olson, antes de se voltar, na década de 1960, para a gestão de investimentos em ações e imóveis.

Munger obteve sucesso, tendo com folga um desempenho melhor que o mercado em geral entre 1962 e 1975 em sua parceria de investimentos Wheeler, Munger & Co.

Segundo a biógrafa de Buffett, Alice Schroeder, Munger conheceu Buffett em Omaha em 1959, onde, em uma sala privada no Omaha Club, eles "caíram em um tête-à-tête" depois de serem apresentados.

Mais conversas se seguiram, e logo estavam falando ao telefone por horas a fio.

"Por que você está prestando tanta atenção nele?", teria perguntado a segunda esposa de Munger, Nancy, ao marido.

"Você não entende", respondeu Munger. "Ele não é um ser humano comum."

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