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País recicla 94% da embalagem de agrotóxico

Após lei que obriga destinação correta de embalagens, Brasil vira referência mundial na reciclagem do produto

13 out 2020 - 12h06
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Uma legislação que entrou em vigor em 2000 transformou o Brasil em referência no reaproveitamento de embalagens plásticas de defensivos agrícolas, material altamente tóxico.

Atualmente, de todas as embalagens vendidas no País que tiveram contato direto com agrotóxicos, 94% têm destino ambientalmente correto: são recicladas, transformadas novamente em embalagem do mesmo produto ou incineradas em local apropriado. Na França, esse índice de reaproveitamento é de 75%; no Canadá e na Alemanha, de 70%, e no Japão, de 50%.

"Nos Estados Unidos, país desenvolvido com dimensões parecidas com as do Brasil e também forte na agricultura, esse índice é abaixo de 30%", diz João Cesar Rando, diretor-presidente do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV), que compilou dados do retorno das embalagens de agrotóxicos entre 60 países para mostrar que o Brasil tornou-se referência nessa logística reversa.

O resultado ganha relevância especialmente no momento em que a agenda ambiental se torna ponto crucial para negociação de acordos comerciais entre os países e atração de investimentos estrangeiros para o País.

Segundo presidente do inpEV, que reúne a indústria de defensivos e associações de distribuidores e agricultores, a lei regulamentou o destino das embalagens, criando atribuições e responsabilidades para indústrias, produtores e distribuidores.

Antes, a recomendação era que o agricultor enterrasse a embalagem vazia, prática que trazia risco de contaminação do solo. "Como não havia solução para o descarte, havia agricultor que as queimavam a céu aberto, o que era muito ruim para o meio ambiente. Outros reutilizavam as embalagens plásticas para armazenar leite e água, por exemplo", afirma Rando.

Com a lei, a implantação do programa de logística reversa - batizado de "Sistema Campo Limpo" e administrado pela entidade - ganhou força. O agricultor fica responsável por lavar a embalagem três vezes, inutilizá-la para evitar o reúso e devolvê-la para a indústria até um ano após a compra. O revendedor tem de indicar na nota fiscal o local da devolução e a indústria é responsável pela logística de transporte e pela destinação ambientalmente adequada.

O programa custa cerca de R$ 140 milhões ao ano e pouco mais da metade da cifra vem do próprio sistema. É dinheiro proveniente da produção e venda da embalagem reciclada e outros produtos a preços de mercado.

Economia circular

Em 2008, foram criadas duas indústrias dentro desse sistema em Taubaté (SP). A Campo Limpo Reciclagem e Transformação de Plástico produz novas embalagens para defensivos usando 85% do plástico reciclado. A Campo Limpo Tampas e Resinas Plásticas fabrica tampas e outros artefatos como conduítes, dutos e tubos com 100% do plástico reciclado.

"Esse é o conceito de economia circular, que cria valor não só para dentro do sistema, mas também para a sociedade, gerando empregos", diz Rando.

Fábrica recicladora de embalagnes vazias de agrotóxico em Taubaté
Fábrica recicladora de embalagnes vazias de agrotóxico em Taubaté
Foto: Inpev/Divulgação / Estadão

De março de 2002 a setembro deste ano, 589,3 mil toneladas de embalagens vazias foram retiradas corretamente do campo. De cada 100 devolvidas, 94 são recicladas no próprio sistema e seis, incineradas.

O produtor de arroz Eduardo Cavalca Filho, que cultiva 500 hectares no Vale do Paraíba (SP), diz que sempre se preocupou em estocar embalagens de agrotóxico. Mas admite que fazia o descarte de forma errada ao queimá-las. Após a adoção do sistema, ele leva tudo para reciclar. "Hoje, temos um sistema ecologicamente correto, mas o produtor também quer receber um pouquinho por isso", diz.

Ele argumenta que os agricultores entregam para reciclagem uma quantidade enorme de matéria-prima nobre e só têm trabalho, dor cabeça e compromisso. "Se não fizer a entrega, a multa é pesada." Para ele, se houvesse alguma remuneração, o incentivo seria maior e não haveria embalagem rejeitada por não ter sido lavada corretamente.

Rodrigo Amadei, agrônomo responsável pela Cooperativa dos Produtores de Arroz do Vale do Paraíba, faz coro. Ele diz que o inpEV é beneficiado, pois tem matéria-prima para novas embalagens com custo baixo. Ele reconhece, no entanto, que, com esse sistema, o produtor se livra de uma embalagem que só lhe dava dor de cabeça.

Estadão
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