Países do Mercosul apoiam a Argentina contra 'abutres'
Durante o encontro dos presidentes membros, líderes reafirmaram apoio à Argentina na luta para fugir de um “default”
Esta quarta-feira promete ser impactante para o pais vizinho, pois hoje se define o destino da negociação da dívida externa argentina com os chamados “Fundos Abutre”. Caso o juiz responsável pelo caso, Thomas Griesa, resolva não aceitar o pagamento da parcela dos credores que negociaram sua dívidas através dos canjes de 2005 e 2010, o país entrará no que os economistas estão chamando de default técnico. Isso porque a Argentina não necessariamente daria um “calote” no 100% de seus credores, senão que estaria impedida de pegar a parte já negociada em função de não ter conseguido um acordo com os menos de 10% de holdouts que entraram na Justiça contra o país.
Se na reunião de cúpula de julho de 2013 em Montevidéu Cristina Kirchner começou seu discurso enumerando em uma lista interminável os grandes êxitos argentinos em questão de economia e negociação de dívida, neste ano os cânticos não foram de vitória, senão quase um pedido de ajuda.
Em seu pronunciamento, ao assumir a presidência pro-tempore do bloco, na tarde da terça-feira (29) em Caracas a presidente argentina chamou novamente a atenção dos presidentes sul-americanos para a questão, como já havia feito durante a reunião do BRICS em Fortaleza.
A presidenta queixou-se da cobertura que os meios argentinos tem dado ao tema. “Dizem por ai que caso a Argentina declare default, será assolada pelas 10 pragas do Egito. Nós vivemos as 10 pragas em 2001 e isso não voltará a acontecer”, ponderou a presidente. E o comparou com o texto recentemente publicado pelo jornal The New York Times em se questionava a Justiça norte-americana, representada pela atitude de Griesa diante do caso argentino. “É triste que tenhamos que receber o apoio de um meio não-argentino”, lamentou Cristina.
Uma das principais preocupações argentinas expostas ontem, às vésperas do derradeiro 30 de julho, dia do pagamento de sua dívida, ou do decreto final de moratória, tem a ver com uma cláusula chamada RUFO (Direitos Sobre Ofertas Futuras, na sigla em inglês). Segundo ela, caso a Argentina resolva aceder as reclamações dos holdouts e pagar o 100% do valor da dívida que tem com esses fundos especulativos, deveria renegociar a um 100% a dívida dos demais credores, os quais já haviam negociado com o país o pagamento com desconto e num prazo que se estenderia por 30 anos.
Cristina, em lugar de mostrar-se preocupada pela decisão de Griesa, ou sobre o futuro do país, ironizou dizendo que “meu próximo cachorro-macho se chamará RUFO, eu dizia a um amigo, porque gosto do nome”.
A mandatária argentina finalizou seu discurso citando o conto “A incrível e triste história da cândida Eréndita e sua avó desalmada” de Gabriel García Marquez . No texto do escritor colombiano, falecido neste ano, a avó da personagem de Eréndita obriga a jovem a prostituir-se para pagar-lhe uma divida, o que Cristina destacou com uma metáfora aos anos de endividamento e falta de crescimento dos países da America do Sul por parte do ganhador do Nobel. Encerrou dizendo: “Eu não sou a avó de Eréndida”, fazendo uma clara alusão à situação argentina.
Em seu seguimento, a presidente brasileira, Dilma Rousseff, também chamou a atenção para o caso argentino em seu discurso. “Somos integralmente solidários com a Argentina”, afirmou. “E essa solidariedade não é retórica. Nós tratamos integralmente do tema com os lideres dos Brics e pretendemos levá-lo a reunião do G-20”, esclareceu Dilma. Foi enfática ao dizer que “Nós (países do bloco) não podemos aceitar que especulem com o bem-estar dos nossos cidadãos”e completou dizendo “é preciso exigir justiça no processo de reestruturação de dívidas”.