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'Para nós, o que mais importa é a localização das lojas', diz presidente do Carrefour

Questionado se unidades do Makro são deficitárias, presidente do Carrefour afirmou ao 'Estado' que razão da compra foi garantir os pontos

17 fev 2020 - 05h10
(atualizado às 12h34)
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Treze anos depois de estrear no segmento de atacarejo, formato de lojas que mistura o atacado com o varejo, com a compra do Atacadão, o Carrefour volta à cena e vai desembolsar R$ 1,95 bilhão para adquirir 30 lojas do Makro, da holding holandesa SHV. O atacarejo respondeu por mais de 50% das vendas do grupo no Brasil, de R$ 62 bilhões no ano passado, e do lucro também.

Depois de aprovado o negócio pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o grupo pretende fazer uma nova captação no mercado para quitar a compra. Os recursos usados para a aquisição estão fora do R$ 2 bilhões reservados para investimentos no Brasil este ano.

Após fechar o negócio, ontem pela manhã, Noël Prioux, presidente do Grupo Carrefour Brasil, e Sébastien Durchon, diretor financeiro, conversaram com o Estado por telefone e deram detalhes da transação. Questionado se as lojas compradas do Makro são deficitárias, Prioux disse que não se importa com o resultado da empresa e que o mais importante é a localização. "Esse negócio vai aportar mais vendas e valorização e essa é a razão pela qual estamos dispostos a pagar esse preço", disse Prioux. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Qual é o risco de o Cade não aprovar a transação por causa da concentração de mercado?

Noël Prioux: Dependendo da loja do Atacadão, entre 50% e 60% dos clientes são consumidores finais e frequentam outros formatos de varejo. O cliente usa oito tipos de lojas. A nossa visão é que o mercado é global e o cliente escolhe onde quer comprar. O Atacadão tem muitos concorrentes. Se o Cade analisar dessa maneira não teremos problemas.

Há informações de que as lojas do Makro são deficitárias. O Carrefour está comprando prejuízo?

Prioux: Não importa o resultado das empresas que compramos. Nós temos o nosso modelo. Mais importante para nós é a localização. A partir disso vamos aplicar o nosso modelo. Esse negócio vai aportar mais vendas e valorização. É a razão pela qual estamos dispostos a pagar esse preço.

Qual será a sinergia dessa compra?

Sébastien Durchon: Vamos converter as lojas e implantar o nosso modelo. Isso quer dizer que a venda por metro quadrado vai aumentar bastante, 60% mais ou menos. Do ponto de vista da estrutura de custos, o aumento será muito marginal. Já vínhamos abrindo 20 lojas por ano. Serão mais vendas com pouco custo a mais.

Qual é a escala que o Atacadão ganha com esse negócio?

Durchon: O Atacadão já é a maior empresa de atacarejo do País, ele tem as melhores condições de compra. As lojas adquiridas vão se beneficiar disso e não podemos esquecer os resultados financeiros. Dentro do grupo Carrefour Brasil, o banco Carrefour representa 30% do resultado operacional. Vamos disponibilizar nas lojas compradas o nosso cartão Atacadão. Esse negócio vai ajudar o banco também. Serão 30 lojas a mais, um resultado adicional para o banco.

Qual é a representatividade do Atacadão no Carrefour Brasil?

Durchon: Hoje o Atacadão representa a maior fatia do faturamento e é o formato que proporciona mais lucro. Em 2019, o Ebtida (lucro antes de imposto, juro e amortização) foi de R$ 4,186 bilhões e mais da metade veio do Atacadão. É o modelo que mais cresce em número de lojas, mas todos os formatos do Carrefour estão crescendo muito, incluindo o e-commerce. Vamos manter o ritmo de abertura de lojas também, investindo em todos os formatos.

Sebastien Durchon, diretor financeiro do Carrefour: ‘Compra não impacta o plano de investimento (de R$ 2 bi) do grupo no Brasil’
Sebastien Durchon, diretor financeiro do Carrefour: ‘Compra não impacta o plano de investimento (de R$ 2 bi) do grupo no Brasil’
Foto: Carrefour/Divulgação / Estadão

Os recursos para compra das 30 lojas do Makro sairão do total dos R$ 2 bilhões reservados pelo Grupo Carrefour para investir este ano no País?

Durchon: O recurso para compra do Atacadão é algo a mais do que os R$ 2 bilhões previstos para investir este ano. A compra de 30 lojas do Makro não impacta o plano de investimento normal do Grupo no Brasil. Boa parte do plano de expansão de 2020 (que prevê a abertura de 20 lojas da bandeira Atacadão, entre outros) está sendo executada. Se o Cade aprovar, vamos pagar um pouco menos de R$ 2 bilhões e financiar essa cifra com uma dívida adicional a ser contratada no mercado.

Os funcionários das lojas compradas serão mantidos?

Prioux: É um pouco cedo para dizer. Vai depender muito do que será aprovado no Cade. Mas com a reabertura da loja com a bandeira Atacadão, vamos precisar de funcionários e o plano é aumentar a venda. Não sei se serão os mesmos funcionários. Mas, com certeza, vamos manter um número muito alto de empregos. Para vender mais, precisamos de mais funcionários. Vamos contratar mais.

Por que o Carrefour não fez uma oferta para todas as lojas do Makro?

Prioux: O Makro não colocou tudo à venda. Eles vão focar em São Paulo. É uma boa estratégia para o Makro também. Para nós, é bom porque vamos poder consolidar outras lojas e expandir a operação pelo País, especialmente no Rio de Janeiro e no Nordeste, onde serão sete e oito lojas novas, respectivamente. Para os dois, acho que foi um bom acordo, realmente.

Há sobreposição de lojas compradas sobre as que o Atacadão já opera?

Prioux: Muito pouco. Não há sobreposição.

Qual é o desdobramento dessa compra no comércio online?

Proiux: O comércio online para nós é outra coisa. Não temos online para Atacadão. No futuro poderemos usar as lojas do Atacadão como centros de distribuição para as entregas do comércio online.

Quem procurou quem para fazer negócio?

Durchon: Sempre conversamos com o Makro. Foi uma transação natural para os dois lados.

Estadão
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