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Paralisação dos caminhoneiros: áudio de Bolsonaro gera confusão em grupos bolsonaristas

Mensagens em grupos de caminhoneiros revelam racha na categoria sobre apoio ao bloqueio de rodovias.

9 set 2021 - 14h20
(atualizado às 14h36)
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Mensagens em grupos de caminhoneiros revelam racha na categoria sobre apoio ao bloqueio de rodovias
Mensagens em grupos de caminhoneiros revelam racha na categoria sobre apoio ao bloqueio de rodovias
Foto: EPA / BBC News Brasil

O áudio de Jair Bolsonaro pedindo o fim dos bloqueios de rodovias pelo país provocou grande confusão em grupos de caminhoneiros e apoiadores do presidente no WhatsApp, Telegram e redes sociais.

Alguns bolsonaristas que participam da paralisação se disseram "decepcionados" e "traídos", enquanto muitos se recusam a acreditar que a voz seja de Bolsonaro, mesmo depois de o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, gravar um vídeo confirmando a autenticidade.

"É fake, mentira. Sairia até nas TVs e rádios", disse um caminhoneiro, num grupo de WhatsApp dedicado a informações sobre a greve.

Um mensagem que circulou muito nos grupos bolsonaristas atribui o áudio de Bolsonaro a Marcelo Adnet, humorista famoso por fazer imitações de personalidades.

"ATENÇÃO. Recebi agora a informação de que o áudio dizendo ser do presidente na verdade é do ator globosta Marcelo Adnet, que denigre a imagem do nosso presidente com suas imitações ridículas. Repassem", diz a mensagem, repassada em peso nos grupos do WhatsApp e Telegram.

Alguns caminhoneiros entenderam pedido de Bolsonaro como 'mensagem cifrada'. Para eles, presidente quer bloqueio, mas 'precisa' fingir publicamente que não apoia a paralisação.
Alguns caminhoneiros entenderam pedido de Bolsonaro como 'mensagem cifrada'. Para eles, presidente quer bloqueio, mas 'precisa' fingir publicamente que não apoia a paralisação.
Foto: EPA / BBC News Brasil

Entre os que acreditaram no pedido de Bolsonaro, o clima era de decepção. "Uma vergonha esse presidente, depois de tudo que os caminhoneiros passaram, simplesmente pede para retornarem à normalidade? Uma vergonha. O comunismo vai voltar ao Brasil com força, porque não temos ninguém para nos defender", disse um integrante.

"Eles (governo) sabiam do movimento e do cronograma, agora vem com esse papinho. E deixando nossos amigos patriotas para o leões. Nós estamos lutando por eles e por nosso país. Hoje tem um patriota que foi em todas as manifestações decepcionado com áudio do PR e vídeo do Tarcísio", criticou outro.

Segundo o Ministério da Infraestrutura, houve bloqueios em rodovias de pelo menos 15 estados: SC, RS, PR, ES, MT, GO, BA, MG, TO, RJ, RO, MA, RR, PE e PA. Também houve relatos de paralisações em São Paulo.

Os atos não são apoiadas por associações de caminhoneiros e lideranças tradicionais da categoria. Em vez de focar em reivindicações que beneficiam os profissionais, a manifestação tem como pauta a defesa do governo Bolsonaro.

'Mensagem cifrada'

Em áudio divulgado em grupos de mensagens na quarta (8), o presidente disse que o bloqueio de rodovias "atrapalha a economia" e "prejudica todo mundo".

"Fala para os caminhoneiros aí, que são nossos aliados, mas esses bloqueios atrapalham a nossa economia. Isso provoca desabastecimento, inflação e prejudica todo mundo, em especial, os mais pobres. Então, dá um toque no caras aí, se for possível, para liberar, tá ok? Para a gente seguir a normalidade", disse.

Bolsonaro inflou apoiadores em discursos nas manifestações do 7 de Setembro, fazendo ameaças ao Supremo e dizendo que o 'povo é que manda'.
Bolsonaro inflou apoiadores em discursos nas manifestações do 7 de Setembro, fazendo ameaças ao Supremo e dizendo que o 'povo é que manda'.
Foto: EPA / BBC News Brasil

"Deixa com a gente em Brasília aqui e agora. Mas não é fácil negociar e conversar por aqui com autoridades. Não é fácil. Mas a gente vai fazer a nossa parte aqui e vamos buscar uma solução para isso, tá ok? E aproveita, em meu nome, dá um abraço em todos os caminhoneiros. Valeu", completou Bolsonaro, na gravação.

Mas uma interpretação que parece predominar em alguns grupos de caminhoneiros bolsonaristas é a de que o áudio do presidente conteria uma "mensagem cifrada". O argumento é o de que Bolsonaro "quer" a continuidade das paralisações, mas "precisa" pedir publicamente o fim da greve, porque pode ser alvo de impeachment se fizer diferente.

"Bolsonaro não pode dizer que apoia a paralisação dos caminhoneiros. Se ele fizer isso, sofre impeachment. Ele, no fundo, sabe que quer que seja feito, mas não pode falar. Ele espera isso de nós", diz uma mensagem amplamente compartilhada em diferentes grupos de bolsonaristas e caminhoneiros.

"O povo é quem manda, e ele deixou isso bem claro. Agora nós é que devemos mostrar apoio aos caminhoneiros para que mantenham a paralisação até que nossos pedidos sejam atendidos. Ou vocês acham que só um dia de manifestação pacífica vai resolver tudo?", diz a mesma mensagem.

O áudio de uma caminhoneira, com conteúdo semelhante, também está sendo amplamente compartilhado nas redes bolsonaristas.

"A paralisação continua. Ontem saiu áudio do presidente Bolsonaro e um vídeo do ministro Tarcísio se preocupando com o desabastecimento. O presidente não pode incentivar paralisação, se ele incentivar greve, ele sofre impeachment", disse.

Segundo ela, encerrar a paralisação serviria a uma "estratégia da esquerda" para dar a ideia de que Bolsonaro não tem apoio popular. "A gente se desmobiliza, o presidente cai porque não tem apoio popular. É uma estratégia da esquerda. O que são 15, 30 dias de desabastecimento perto de 70 anos de dominação, como em Cuba?".

Racha entre caminhoneiros

Procurado pela Justiça, Zé Trovão é um dos lideres do movimento
Procurado pela Justiça, Zé Trovão é um dos lideres do movimento
Foto: Reprodução / BBC News Brasil

As discussões nos grupos de caminhoneiros evidenciam um racha na categoria sobre a paralisação. O bloqueio, segundo líderes do movimento, é para apoiar Jair Bolsonaro e pedir a saída dos 11 ministros do Supremo.

Um desses líderes é o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão, que está foragido da Justiça. Ele teve um mandado de prisão solicitado pela Procuradoria-Geral da República) e determinada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.

Zé Trovão é acusado de promover nas redes sociais a incitação de atos de caráter golpista contra o Congresso e o STF, e teria descumprido ordens cautelares determinadas por Moraes.

Em vídeos divulgados nesta quinta (9), ele pede que os caminhoneiros mantenham o bloqueio das rodovias, apesar do pedido de Bolsonaro.

"Não se afrouxa não. Segura isso aí! Não é para afrouxar não. Vamos manter nosso foco e nossa força. Se nós afrouxar agora, nós perdemos nosso país", declarou.

"Eu quero deixar um recado para a população brasileira. Cadê a parte de vocês? Vocês estão ajudando os caminhoneiros? Vocês têm que estar em cima das pistas junto dos caminhoneiros. Vamos manter as pistas 100% fechadas", completou.

Mas, nos grupos de caminhoneiros no WhatsApp e Telegram, muitos deles questionam as paralisações e dizem que a categoria está sendo usada como "massa de manobra".

"Você é o famoso comedor de capim que nem sabe o que tá pleiteando. O que você está pedindo na paralisação? Qual é a pauta da greve?", perguntou um caminhoneiro a Zé Trovão.

"O que achei diferente, meu amigo Zé Trovão, é que você está preocupado com você e com seus amigos. No entanto, nós caminhoneiros de verdade estamos preocupados com os valores abusivos dos combustíveis, principalmente o diesel, gás de cozinha e preço justo do valor do frete de ida e vinda", disse outro, em mensagem que passou a ser compartilhada em diferentes grupos da categoria.

"Em momento algum você falou nestas coisas. O que estou achando é que o senhor está nos usando como escudo. Espero que não. NÃO BRINCA COM NÓS CAMINHONHEIROS QUE NÓS NÃO SOMOS BRINQUEDO", completou o autor da mensagem.

Em nota, sindicatos e associações criticaram as paralisações. "Entendemos que o bloqueio realizado nas rodovias poderá causar sérios transtornos à atividade de transporte realizada pelas empresas, além de atingir diretamente o consumidor final e a entrega de produtos de primeira necessidade da população como alimentos, medicamentos, combustíveis", disse, por exemplo, o Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de Campinas e Região.

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