Pedro Guimarães deixa comando da Caixa após denúncias de assédio; Daniella Marques é nova presidente
Executivo que estava no cargo desde o início do governo Bolsonaro se diz alvo de 'situação cruel, injusta, desigual'; ele é investigado após denúncias de funcionárias do banco de assédio sexual
Acusado por diversas funcionárias da Caixa Econômica Federal de todo tipo de assédio sexual, o executivo Pedro Guimarães deixou a presidência do banco na tarde desta quarta-feira, 29, após uma conversa com o presidente Jair Bolsonaro. O Palácio do Planalto já tinha conhecimento das acusações que recaiam sobre Guimarães na noite anterior, quando o escândalo veio à tona em uma reportagem publicada pelo site Metrópoles, com informações detalhadas por cinco funcionários do banco.
Bolsonaro, porém, mesmo orientado por sua campanha eleitoral a se manifestar contra o episódio, preferiu segurar o seu desfecho até o dia seguinte, quando o cenário já se mostrava insustentável para Guimarães.
Ao Estadão, o filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), antecipou a saída de Guimarães e a troca do comando estatal, que passa a ser de Daniella Marques, considerada "braço-direito" do ministro da Economia, Paulo Guedes. Segundo Flávio, o nome da substituta é para dar uma "resposta mais do que clara" que Bolsonaro não compactua com a conduta de Guimarães. "Inaceitável uma conduta pessoal dessa, que não tem nada a ver com o governo", afirmou. Um dos coordenadores de campanha de Bolsonaro à reeleição, Flávio disse que a saída de Guimarães da Caixa foi para que o caso não fosse usado contra o presidente.
Na chefia da Caixa desde o início do governo Bolsonaro, Pedro Guimarães, 51 anos, era um dos nomes mais vistos ao lado do presidente da República. Chegou ao cargo respaldado pela sua "experiência em privatizações". Ao longo de sua gestão, fez muitas viagens e eventos, para apresentar a atividade do banco público. Era principalmente nestas ocasiões que, segundo as vítimas, Guimarães praticava ações de assédio sexual, que iam desde convites para entrar em seu quarto, até insinuações e toques em suas partes íntimas.
Na manhã de hoje, apesar de toda a repercussão, Pedro Guimarães ainda procurou apresentar um ar de certa normalidade. Ele compareceu a um evento presencial da Caixa, ao lado de sua esposa. A portas fechadas para a imprensa, foi ao microfone e discursou como se nada estivesse ocorrendo, limitando-se a afirmar que é uma pessoa "pautada pela ética".
No fim da tarde, no entanto, Guimarães publicou sua carta de demissão. Sua exoneração foi logo em seguida confirmada no Diário Oficial da União, assim como a substituição por Daniella Marques.
Alvo de processo investigativo aberto pelas vítimas no Ministério Público Federal, Guimarães afirma, no documento, que foi alvo de "uma situação cruel, injusta, desigual e que será corrigida na hora certa com a força da verdade".
O agora ex-presidente da Caixa diz que "as acusações não são verdadeiras e não refletem a minha postura profissional e nem pessoal". Sustenta ainda que tem "a plena certeza de que estas acusações não se sustentarão ao passar por uma avaliação técnica e isenta" e que decidiu se afastar neste momento para se "defender das perversidades lançadas contra mim, com o coração tranquilo daqueles que não temem o que não fizeram".
O presidente Jair Bolsonaro, que ficou extremamente contrariado com o episódio e teme os efeitos políticos que sofrerá com a situação, já que seu ponto mais frágil é o eleitorado feminino, optou por silenciar sobre o assunto e não fez um único comentário a respeito.
Em três anos e meio de governo, Guimarães acumulou algumas polêmicas. Em dezembro, um vídeo mostrou diretores e vice-presidentes da Caixa fazendo flexões, por ordem de Guimarães, em evento do banco. Indicado por Guedes, afastou-se do ministro e se aproximou de Bolsonaro, a ponto de chegar a ser citado pelo presidente como um dos possíveis candidatos a vice.
Nova presidente da Caixa
A nova presidente da Caixa, Daniella Marques, é "braço-direito" do ministro da Economia, Paulo Guedes, desde os tempos em que ele atuava na iniciativa privada. Ela assumiu a secretária especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia no começo deste ano. Na função, vinha liderando projetos voltados para o público feminino, no qual o presidente Jair Bolsonaro amarga forte rejeição.
Formada em Administração pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e com MBA em Finanças pelo Ibmec/RJ, Daniella atuou por 20 anos no mercado financeiro. Ela foi sócia de Guedes na Bozano Investimentos, no Rio de Janeiro, e deixou a gestora em 2019 para trabalhar com o ministro como assessora especial. / COLABOROU FERNANDA GUIMARÃES
Leia a carta de Pedro Guimarães na íntegra:
"À população brasileira e, em especial, aos colaboradores e clientes da CAIXA:
A partir de uma avalanche de notícias e informações equivocadas, minha esposa, meus dois filhos, meu casamento de 18 anos e eu fomos atingidos por diversas acusações feitas antes que se possa contrapor um mínimo de argumentos de defesa. É uma situação cruel, injusta, desigual e que será corrigida na hora certa com a força da verdade.
Foi indicada a existência de um inquérito sigiloso instaurado no Ministério Público Federal, objetivando apurar denúncias de casos de assédio sexual, no qual eu seria supostamente investigado. Diante do conteúdo das acusações pessoais, graves e que atingem diretamente a minha imagem, além da de minha família, venho a público me manifestar.
Ao longo dos últimos anos, desde a assunção da Presidência da CAIXA, tenho me dedicado ao desenvolvimento de um trabalho de gestão que prima pela garantia da igualdade de gêneros, tendo como um de seus principais pilares o reconhecimento da relevância da liderança feminina em todos os níveis da empresa, buscando o desenvolvimento de relações respeitosas no ambiente de trabalho e por meio de meritocracia.
Como resultados diretos, além das muitas premiações recebidas, a CAIXA foi certificada na 6ª edição do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), além também de ter recebido o selo de Melhor Empresa para Trabalhar em 2021 - Great Place To Work®?, por exigir de seus agentes e colaboradores, em todos os níveis, a observância dos pilares Credibilidade, Respeito, Imparcialidade e Orgulho.
Essas são apenas algumas das importantes conquistas realizadas nesse trabalho, sempre pautado pela visão do respeito, da igualdade, da regularidade e da meritocracia, buscando oferecer o melhor resultado para a sociedade brasileira em todas as nossas atividades.
Na atuação como Presidente da CAIXA, sempre me empenhei no combate a toda forma de assédio, repelindo toda e qualquer forma de violência, em quaisquer de suas possíveis configurações.
A ascensão profissional sempre decorre, em minha forma de ver, da capacidade e do merecimento, e nunca como qualquer possibilidade de troca de favores ou de pagamento por qualquer vantagem que possa ser oferecida.
As acusações noticiadas não são verdadeiras!
Repito: as acusações não são verdadeiras e não refletem a minha postura profissional e nem pessoal. Tenho a plena certeza de que estas acusações não se sustentarão ao passar por uma avaliação técnica e isenta.
Todavia, não posso prejudicar a instituição ou o governo sendo um alvo para o rancor político em um ano eleitoral. Se foi o propósito de colaborar que me fez aceitar o honroso desafio de presidir com integridade absoluta a CAIXA, é com o mesmo propósito de colaboração que tenho de me afastar neste momento para não esmorecer o acervo de realizações que não pertence a mim pessoalmente, pertence a toda a equipe que valorosamente pertence à CAIXA e também ao apoio de todos as horas que sempre recebi do Senhor Presidente da República, Jair Bolsonaro.
Junto-me à minha família para me defender das perversidades lançadas contra mim, com o coração tranquilo daqueles que não temem o que não fizeram.
Por fim, registro a minha confiança de que a verdade prevalecerá."
Pedro Guimarães"