Petrobras bate recorde em NY e valoriza mais que bitcoin após julgamento de Lula
24 das 25 empresas brasileiras listadas na bolsa americana tiveram alta após o julgamento; analistas atribuem alta a condenação do ex-presidente
As ações da Petrobras na bolsa de valores de Nova York chegaram ao valor mais alto em um ano e registraram valorização maior que a da moeda criptografada bitcoin, após o julgamento do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, em Porto Alegre.
Com papel central nas investigações da operação Lava Jato, a petroleira registrava, as 15:34h desta quarta-feira (horário de Nova York), seu maior valor nos últimos 12 meses, com alta de 8,7% em relação à cotação de terça-feira. O bitcoin, enquanto isso, subia bem menos: 3,45%.
Das 25 empresas brasileiras listadas na bolsa de valores americana, 24 registravam alta após o resultado do julgamento no TRF-4, que condenou Lula por unanimidade a 12 anos e um mês de prisão por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro ao ser beneficiário direto de parte da propina desviada de contratos da Petrobras com a empreiteira OAS e destinadas ao PT.
Bancos, empresas de telecomunicações, infraestrutura e energia puxaram os índices brasileiros na bolsa americana.
As ações da Eletrobras, cuja privatização foi prometida nesta quarta-feira pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para o primeiro semestre deste ano, registravam alta acima de 11% durante o julgamento - o maior crescimento entre as empresas brasileiras.
A Companhia Siderúrgica Nacional, por sua vez, acumulava ganhos acima de 7% na tarde desta quarta, nos Estados Unidos.
Para Kenneth Rapoza, analista de finanças da revista Forbes, "não há outra razão para as ações brasileiras subirem assim".
"O Brasil está registrando ganhos muito maiores que mercados emergentes, que China, Rússia e Índia", disse Rapoza à BBC Brasil.
"Olhando para a Petrobras, os papéis vinham registrando calmaria, mesmo quando o petróleo estava em alta, porque os investidores não têm certeza sobre os resultados de tantos processos judiciais", diz. "Agora, se Lula não puder ser eleito, acaba o medo de ele recuar nas medidas que tiraram a exclusividade da Petrobras de explorar o Pré-Sal"
Especulação
A valorização das empresas brasileiras reflete a expectativa de investidores americanos por uma condenação de Lula, cuja candidatura é avaliada como um risco para as reformas implementadas pelo presidente Michel Temer.
Apesar das promessas de Lula de rever a reforma trabalhista e o teto de gastos, medida que limita despesas do governo federal por 20 anos, analistas ainda são céticos quanto às chances do ex-presidente conseguir por o plano em ação, caso possa concorrer a presidência e seja eleito.
Em entrevista à BBC Brasil nesta terça-feira, o diretor para América Latina da consultoria Eurasia Group em Washington, Christopher Garman, disse que Lula não deve ter apoio maciço no Congresso, caso seja vitorioso.
"Se eleito, ele começará o governo em um momento muito polarizado, com rejeição na sociedade e no parlamento."
O cenário dificultaria a formação de uma base política capaz de votar contra as reformas do antecessor, na avaliação do especialista.
"Lula não deveria em um primeiro momento ter uma coalizão muito grande, e isso tornaria as possibilidades dele conseguir reverter a Reforma Trabalhista, por exemplo, muito pequenas."