Petrobras não pode ter objetivo único de gerar lucros exorbitantes para os acionistas, diz ministro
Segundo Alexandre Silveira, governo não abrirá mão de fiscalizar o que a companhia está fazendo do ponto de vista de seu plano de investimentos
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse nesta segunda-feira, 1º, ter considerado uma distorção o governo ser classificado de intervencionista por conta do episódio da retenção dos dividendos extraordinários da Petrobras.
"Nós nada mais fizemos do que exercer nosso direito de discutir com nossos conselheiros indicados pelo governo, dentro da lei, respeitada a governança da Petrobras e a sua natureza jurídica, a destinação correta dos dividendos extraordinários", disse, em entrevista à GloboNews.
"Não podemos admitir que a Petrobras tenha o único e exclusivo objetivo de ter lucros exorbitantes para poder distribuir a seus acionistas", afirmou.
Silveira salientou que os dividendos ordinários, que obrigatoriamente devem ser distribuídos aos acionistas, foram "cumpridos rigorosamente", enquanto os extraordinários foram encaminhados para uma conta de contingência que serve exclusivamente para pagar dividendos. "Existe clara demonstração de resistência do mercado em consequência da boca torta que eles adquiriram nos últimos anos, em especial nos quatro anos de governo Bolsonaro, que eles faziam o que queriam com o Brasil", disse.
O ministro disse que o governo Lula quer que a Petrobras tenha muito lucro e seja altamente competitiva, mas não deixará de fiscalizar o que a companhia está fazendo do ponto de vista de seu plano de investimentos. "Não abriremos mão e não nos faltará coragem de discutir e de dialogar de forma permanente com o setor privado, com as nossas empresas, a fim de que se possa compatibilizar crescimento nacional com geração de emprego e renda e cumprimento do compromisso do governo que é cuidar do povo brasileiro, em especial do povo mais pobre", disse.
A Petrobras anunciou, no início do mês passado, junto com a divulgação do resultado anual da empresas, a retenção do equivalente a R$ 43,9 bilhões em dividendos extraordinários, que o mercado esperava que fossem distribuídos. A decisão provocou um enorme ruído, por conta dos sinais de ingerência do governo na administração, e fez com que a empresa perdesse R$ 56 bilhões em valor de mercado em um único dia.
Na semana seguinte, O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, rebateu em suas redes sociais os questionamentos à administração da estatal. Segundo ele, a decisão do conselho de administração foi orientada pelo "presidente da República e pelos seus auxiliares diretos".
Prates escreveu que falar em "intervenção" na empresa é "querer criar dissidências, especulação e desinformação". Segundo ele, o mercado "ficou nervoso" que foram retidos dividendos extras a "caráter de adiamento e reserva". A empresa disse que esses recursos não poderiam ser usados para outra coisa que não o pagamento de dividendos - ou seja, que voltariam para o bolso dos acionistas em algum momento.