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Petrobras voltará ao seu melhor desempenho em cinco anos, diz presidente

21 out 2016 - 13h17
(atualizado às 13h37)
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Pedro Parente, o novo presidente da Petrobras
Pedro Parente, o novo presidente da Petrobras
Foto: José Cruz/Agência Brasil

Por dois anos, a Petrobras estampou manchetes de jornal protagonizando um dos maiores escândalos de corrupção já vistos.

O escândalo deixou a companhia com uma dívida maior do que a de qualquer outra companhia de petróleo no mundo e ajudou a derrubar a ex-presidente Dilma Rousseff.

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Pedro Parente, o novo presidente da Petrobras e responsável pela tarefa de recuperar a companhia, falou à BBC sobre seus planos futuros. Entre os objetivos estão a venda de ativos, mudança de regras internas e acordos de parceria com empresas estrangeiras.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

BBC Brasil - A empresa ainda opera com cerca de metade do valor que tinha na Bolsa de Valores antes do escândalo de corrupção. Com a queda global dos preços de petróleo e as acusações de má gestão nos anos anteriores, quantos anos serão necessários para a empresa voltar ao nível de 2008?

Pedro Parente - Acabamos de anunciar um plano estratégico. É um plano de 2017 a 2021. Acredito que é um plano muito bom e sólido. Não foi fácil fazê-lo, mais de cem pessoas da companhia estavam envolvidas, inclusive os executivos-chefe e o comitê executivo. Mas essa foi a parte mais fácil. A parte mais importante é entregar o plano.

Dividimos o plano em dois períodos - os primeiros dois anos e os últimos três. Acho que depois desse período veremos a companhia de volta a seus melhores dias.

BBC Brasil - Depois de dois ou cinco anos?

Pedro Parente - Depois de cinco anos, como expliquei a você. Os primeiros anos serão os mais duros em termos financeiros, os anos em que continuaremos nossa parceria e nosso programa de desinvestimento.

Após esses dois anos, nosso plano é chegar a um nível muito mais confortável do que estamos hoje. A data de referência que usamos foi dezembro de 2015. Nessa data, nossa alavancagem, que é o tamanho do débito comparado à geração operacional de recursos, ou noso Ebitda (geração de caixa antes de juros, impostos, depreciação e amortização), estava cinco vezes acima.

Nosso plano é reduzi-lo pela metade até 2018. Significa que não teremos mais de 2,5 vezes nosso Ebitda do mesmo tamanho de nossa dívida.

BBC Brasil - Muito disso tem a ver com a venda de ativos. É uma boa hora para vender tantos ativos em um momento em que o preço do petróleo está tão baixo?

Pedro Parente - Não estamos apenas vendendo ativos. Em geral, os ativos que estamos vendendo, não todos, não são tão importantes para nossa pasta. Então é uma combinação de fazer parcerias e vender ativos. E nós temos muito mais vantagens com as nossas parcerias. Claro que queremos o melhor preço possível, mas vemos claramente que teremos muitas vantagens.

BBC Brasil - A companhia ainda está com a imagem de corrupção que é preciso tirar. Há também o débito muito alto. E não há garantia de que você estará aqui em dois anos - porque um novo presidente será eleito em 2018. Você acha que empresas estrangeiras estão dispostas a fazer parcerias com a Petrobras?

Pedro Parente - Eu não acho uma boa ideia depender de apenas uma pessoa. Não é um trabalho feito por uma pessoa só. É um trabalho feito em equipe, uma que está trabalhando duro para colocar a companhia onde ela estava antes.

Então nesses dois anos o que nós estamos fazendo é melhorar a organização estrutural da empresa. Porque você sabe, institucionalização não é apenas organização. É um conjunto de regras que você estabelece em um longo período de tempo.

Então eu acredito que uma combinação dessas regras e a prática dessas regras por dois anos deixará a companhia em uma situação muito melhor e muito mais protegida do que aconteceu no passado.

BBC Brasil - Por favor, nos dê um exemplo. Digamos que em dois anos um grupo politico completamente diferente chegue ao poder e a companhia mantenha mesma mentalidade estatal de indicação política para cargos chave. Isso não aconteceria de novo em 2018?

Pedro Parente - O que é importante saber é que mudamos muitas regras no processo de tomada de decisão interna. Por exemplo, no passado, quando os problemas surgiam, uma única pessoa podia tomar uma decisão muito importante de comprar, contratar ou assinar um contrato. Isso não é mais possível. Você precisa de ao menos dois diretores executivos assinando esses contratos. Você precisa de ao menos cinco comitês diferentes envolvidos nessa operação.

Então, como eu disse, o conjunto de regras que implementamos, a nova direção da companhia, a conformidade às regras - o fato de que o próprio governo instituiu uma uma lei determinando regras bastante rigorosas para aqueles que fizerem parte do comando da empresa, nós acreditamos, sim, que essas medidas vão dificultar bastante que no futuro alguém tente driblar as regras como fizeram no passado.

BBC Brasil - A respeito do plano de negócios que você anunciou, há mudanças drásticas na Petrobras. É uma companhia muito importante para muitos brasileiros e tudo está acontecendo depois de uma mudança de governo, de um processo de impeachment. Você não se preocupa que muitas das mudanças que está fazendo não foram realmente debatidas pelos brasileiros em uma eleição e pela sociedade como um todo?

Pedro Parente - Vamos lembrar que a Petrobras é uma empresa, e uma com uma administação muito bem estabelecida no sistema legal brasileiro. E no Reino Unido e nos Estados Unidos, porque temos nossas ações listadas em ambos países. Então é muito importante entender que é muito difícil estar no mesmo lugar em que estávamos no passado por causa do sistema legal que temos que seguir.

BBC Brasil - Mas ainda assim, você acha que os brasileiros estarão felizes daqui a dois anos, quando os candidatos presidenciais estarão debatendo o que foi feito pela Petrobras?

Pedro Parente - Ouça, ninguém estava feliz com o que aconteceu na Petrobras até 2014. Ninguém. Nenhum brasileiro sério, ético e íntegro poderia gostar do que vimos em relação a essa companhia. Em cinco anos, essa empresa será maior do que é hoje em sua principal área, que é petróleo e gás. É uma companhia que estará extraindo o equivalente a 3,4 milhões de barris por dia. Hoje tiramos 2,8 (milhões de barris/dia).

Será uma companhia maior, melhor, ética e com plena integridade. Eu realmente acredito que não haverá arrependimento em relação ao que estamos fazendo porque é em prol de uma companhia muito melhor.

BBC Brasil - Qual é o pior problema para a Petrobras?

Pedro Parente - Eu acho importante fazer um bom resumo do que aconteceu à companhia, qual é o tamanho da dívida. A Petrobras hoje tem o maior débito entre todas as companhias de petróleo do mundo - não apenas em termos relativos, mas também nos absolutos, como mencionei antes.

E o tamanho do débito diz respeito a vários aspectos diferentes. Você tinha investimentos que uma vez concluídos não produziam mais o resultado esperado. Alguns até foram interrompidos por causa de seus custos. E nós tínhamos uma política de valores com preços abaixo da concorrência internacional.

Gostaria de resumir dizendo que tudo que aconteceu na companhia é do tamanho de seu débito. E isso é muito pesado para nós, porque nós temos que pagar, estamos pagando essa dívida.

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Foto: Agência Brasil

BBC Brasil - Como você vê a movimentação global do petróleo no futuro, agora que sabemos que a Opec (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) está falando em cortes de produção?

Pedro Parente - Na nossa previsão, para o nosso plano, consideramos que o preço do barril de petróleo bruto estará entre 50 e 60 dólares. E depois de cinco anos, estará na casa dos 70 dólares. É o que prevemos para o mercado de petróleo nos próximos anos.

BBC Brasil - Você falou que havia um projeto ideológico com o pré-sal. O que você pensa a respeito do pré-sal? É um bom investimento neste momento de redução do preço do petróleo e com outras oportunidades mais baratas?

Pedro Parente - Eu acho difícil achar uma região melhor para petróleo do que o pré-sal no Brasil. É uma região muito boa, com alta produtividade em cada poço. Então, só para dar um exemplo, nós prevíamos uma produtividade de 20 mil barris por dia. A média hoje é de 26 mil por dia. Temos alguns poços produzindo até 40 mil barris por dia. Então é realmente muito bom.

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Foto: Richard Sowersby

O que eu quis dizer é que a forma como o pré-sal foi discutido dava a entender que só tínhamos campos bons no pré-sal. E isso não é verdade. Nós tínhamos campos muito bons fora do pré-sal também. Em toda a Baía de Campos eles são ótimos. Então eu só tentei explicar que, olha, nem tudo que está no pré-sal é excelente e nem tudo que está fora é ruim.

Essa é a ideia quando eu usei a palavra "ideologizado". Não era de maneira alguma uma tentativa de subestimar a qualidade e excelência dos campos de pré-sal. O que eu vejo é que, devido às nossas restrições financeiras, não é benéfico à companhia que sejamos o único operador nos campos de pré-sal.

Então a mudança recente no Congresso vai nos permitir definir se queremos ou não explorar aquele campo específico, é muito melhor para o país e para a companhia.

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