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Pior década: o que dizem os economistas

Como os especialistas interpretam o período de baixo crescimento do País

13 jan 2020 - 04h10
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'É preciso ter um plano estratégico de longo prazo'

Roberto Macedo, professor da FEA/USP, ex-presidente do IPEA

"O Brasil passou por uma recessão de dois anos embutida numa depressão, que já dura cinco, e há 40 anos também passa por uma estagnação. Essa estagnação prejudicou muito as gerações mais recentes. Percebi que nas gerações passadas havia muita ascensão social, ou seja, o status social dos filhos superava o dos pais. Hoje, isso se inverteu, com os filhos tendo dificuldade de até mesmo manter o status social dos pais. Poderíamos crescer mais do que esses hoje tão sonhados 2,5% pelo mercado financeiro, se quem manda no País se voltasse também para essa estagnação, diagnosticando-a com profundidade e procurando solucioná-la. Além de reformas, como as preconizadas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e de outras que deveriam ser cogitadas, como as do Legislativo e do Judiciário, o País precisa ter um plano estratégico de desenvolvimento de longo prazo. É preciso pensar num plano que ataque várias coisas ao mesmo tempo. A essência tem de ser o aumento do investimento. Também tem de estimular o avanço tecnológico, melhorar a educação. É preciso ter algo mais arrumado, que capte o investimento estrangeiro, aumente as exportações. As exportações funcionam como investimento, porque, quando se vende produtos para o exterior, gera-se renda dentro do País. Hoje, o debate econômico está excessivamente focado em políticas macroeconômicas de curto prazo, como a fiscal e a monetária, mais voltadas para movimentos cíclicos da economia. É preciso buscar uma tendência sustentável de crescimento. E isso é da esfera do desenvolvimento econômico."

'A sociedade não tem clareza para onde vamos'

Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada do Ibre/FGV

"Para crescer, é preciso investir mais. Na época em que o País cresceu rápido, havia mais investimentos em rodovias, energia elétrica, telecomunicações, indústria. Hoje, investe-se muito pouco. Precisamos criar postos de trabalho que permitam que as pessoas sejam produtivas, trabalhem mais, ganhem mais. Daí, a economia roda. O trabalhador tem hoje o triplo de educação em anos de estudo em relação à época em que o Brasil crescia rápido. Mas ele não consegue exercer essa produtividade. Não adianta se formar em engenharia e ir dirigir Uber. Para isso, é preciso de capital, de empresas grandes, de projetos de investimento que criem postos de trabalho. E para destravar o investimento, é necessário um ambiente de negócios favorável, no qual os empresários tenham confiança em colocar dinheiro no País. O problema maior é a insegurança jurídica, a estrutura tributária muito custosa e incerta. Também a infraestrutura é ruim, do ponto de vista do investidor privado. O que foi feito nos últimos anos, com o governo Temer e com o governo Bolsonaro, foi segurar muito o gasto público. Isso significa que para crescer é preciso do setor privado. Antigamente, o investidor privado tinha subsídio, vantagem tributária que mais ou menos iam empurrando o investimento. Como isso acabou, o ambiente de negócios se tornou mais importante. O governo tem um projeto de longo prazo para o crescimento, mas não tem sido feliz em apresentá-lo. Trabalhadores, consumidores e empresas não enxergam com clareza para onde vamos. Os economistas entendem, mas a sociedade, não."

'Tomamos o caminho certo, mas ele é doloroso'

Samuel Pessôa, pesquisador de Economia Aplicada do Ibre/FGV

"Tomamos o caminho certo. Hoje, estamos infinitamente melhor do que em 2014. Só que o caminho certo é doloroso. Por isso, a lentidão para ganharmos velocidade no crescimento. Estamos arrumando a casa sem destruir a macroeconomia. Isso é uma maravilha, é muito saudável e dá mais solidez. Mas também contribui para a lentidão da recuperação. Esse é o lado bom dessa década perdida. O intervencionismo que houve no passado recente não se corrige rapidamente. Ele gerou má alocação de investimentos e endividamento sem eficácia. Para arrumar tudo isso leva tempo. Outra coisa que está atrasando o crescimento é o conflito distributivo que há na sociedade, com um Estado que gasta mais do que arrecada em condições normais. Temos de fazer muita coisa na área fiscal. Depois da reforma da Previdência, o problema ficou maior nos Estados. Vários estão aprovando uma reforma da Previdência. Há um desequilíbrio no gasto público. Esse é um problema estrutural e para consertá-lo é preciso uma decisão do Congresso Nacional. Enquanto não tivermos um Estado solvente, é difícil a economia voltar a crescer rapidamente. Para ter um ciclo mais longo de crescimento, é necessário também eliminar a incerteza tributária que temos hoje no Brasil. Sabemos que daqui a cinco anos não estaremos pagando ICMS como pagamos hoje. Mas ninguém sabe como os impostos vão funcionar. Quem quer investir não investe por causa da incerteza tributária. Essa questão não é pequena: é como se distribui o custo do financiamento do Estado entre os diversos setores da sociedade."

'Temos de abandonar o terrorismo fiscal'

José Luis Oreiro, professor do departamento de Economia da UnB

"Saímos da recessão porque a economia voltou a crescer, mas o que vivemos agora é uma estagnação relativa. A economia caiu 8% entre 2015 e 2017 e voltou a crescer, mas em ritmo muito lento, de 1% ao ano. Se em 2020 mantivermos esse ritmo, só vamos recuperar o nível de PIB pré-crise em 2023. Para sairmos desse buraco, temos de abandonar esse terrorismo fiscal. O Brasil precisa voltar a investir. E, para voltar a investir, precisa tirar do teto de gastos o investimento público. Vivemos uma limitação autoimposta. Não há restrição objetiva que impeça o investimento público, a não ser o teto de gastos. Mas uma lei se muda com outra lei. Não faz sentido colocar limites para o investimento. O Brasil tem uma enorme deficiência em infraestrutura. É óbvio que os projetos de infraestrutura têm uma taxa de retorno muito superior à taxa básica de juros (hoje no piso histórico, de 4,5% ao ano). Tem que aumentar o investimento público em obras de infraestrutura. Esse investimento recuperaria a economia muito rapidamente. Ele é um indutor do investimento privado: cria emprego, amplia o consumo, aumenta o nível de uso de capacidade instalada e as empresas investem. Os economistas liberais estão sempre dizendo que a próxima reforma vai resolver o problema. Primeiro o teto de gastos, depois a reforma trabalhista, depois a da Previdência, agora a reforma dos servidores públicos. É uma narrativa que não tem base nos fatos. Objetivamente, a economia não acelerou o crescimento. Ela vai acabar saindo da crise em algum momento porque não há crises eternas."

Estadão
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