PMEs geram renda e movimentam comércio ético na Amazônia
Rede reúne PMEs dos setores de alimentação, moda, decoração, cosméticos e saúde e apoia desenvolvimento sustentável da região
A união faz a força. A velha máxima também vale para micro, pequenas e médias empresas, que geram renda e movimentam o comércio ético na Amazônia. Conectar consumidores de todo o Brasil com comunidades da floresta, reconhecendo e valorizando o papel fundamental dessas populações para a conservação da biodiversidade e manutenção da floresta em pé, é parte essencial de uma nova economia descarbonizada, mais inclusiva e justa, que gere riqueza e conserve a Amazônia.
E esta tem sido a contribuição das 27 PMEs dos setores de alimentos, cosméticos, moda, decoração e saúde ao participarem da Rede Origens Brasil.
A Rede foi criada pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e pelo Instituto Socioambiental (ISA), conectando empresas, organizações comunitárias e consumidores para seguirem modelos de negócios éticos que valorizem a floresta e seus povos. Juntas, essas PMEs movimentaram cerca de R$ 7 milhões nos últimos seis anos e contribuem para que comunidades da Amazônia se estruturem por meio de um comércio mais justo.
Como funciona o trabalhdo dessa rede?
“Origens Brasil busca fortalecer as cadeias de produção e negócios dentro de Áreas Protegidas como estratégia de manutenção da floresta em pé e geração de renda para as populações tradicionais e povos indígenas, verdadeiros guardiões do patrimônio socioambiental. Para isso, a Rede identifica territórios (corredores de áreas protegidas onde vivem populações tradicionais e povos indígenas) e mapeia os produtores, que são cadastrados em uma plataforma digital que permite registrar toda as transações comerciais, permitindo que o consumidor tenha acesso às informações sobre os produtos, sua origem e as relações comerciais praticadas. Desta forma, conecta todos os elos da cadeia de suprimentos através de um sistema de garantia inovador capaz de dar a segurança de que o mercado tanto precisa”, informa comunicado da Rede.
Vale destacar que nesse contexto cresceu muito a participação de PMEs. Em 2017, a média era de adesão de três empresas por ano, enquanto em 2021 chegou a oito empresas novas anualmente.
“Os pequenos negócios, apesar de reduzidos em escala, são os responsáveis por mover a economia da floresta. São empresas que atuam junto aos produtores locais e ajudam as comunidades a se organizarem, criando estrutura para aumentar a oferta de produtos e melhorar a qualidade de vida dessa população”, diz Luiz Brasi, coordenador da Rede Origens.
Exemplo que vem do Pará
Entre as PMEs em destaque, vale mencionar a marca Manioca, de Belém-PA, que é fundada e gerida por amazônidas. Ela produz temperos, molhos, granolas, farinhas, petiscos e geleias a partir de ingredientes nativos da Amazônia.
“A Rede Origens nos auxilia na garantia de comércio ético e no desenvolvimento das comunidades envolvidas, permitindo que nosso impacto alcance ainda mais longe do que seria possível fazermos sozinhos. Além disso, através do QR code na embalagem, ela possibilita que nossos consumidores tenham informação sobre a origem dos ingredientes que compõem o nosso produto”, afirma Joana Martins, da Manioca.
De fato, o setor de alimentos corresponde a 39% das PME participantes, assim como moda e decoração. Além destes, 19% atuam em cosméticos e 3% na área de educação e saúde.
Exigências da Rede
Para uma empresar fazer parte da Rede, ela precisa adquirir anualmente matéria-prima ou produtos de populações tradicionais e/ou povos indígenas em um dos cinco territórios reconhecidos pela Rede ― Rio Negro, Norte do Pará, Solimões, Tupi Guaporé e Xingu ―, por meio de comércio ético.
“No final de 2016, iniciei um trabalho com a Associação Floresta Protegida com pinturas em tecidos feitas à mão pelas artesãs Kayapó. Já no início do ano seguinte fui apresentado ao Origens Brasil e, desde então, trabalhamos em rede através da cooperação entre empresas, povos originários e instituições de apoio, unidos pelo desenvolvimento da economia da floresta em pé”, conta Cláudio Martins, da Bossapack.
A Bossapack fica no Rio de Janeiro e compra pinturas em tecido de povos indígenas do Xingu. A relação comercial beneficia cerca de 50 pessoas, em um território que funciona como barreira contra o desmatamento.
Para acompanhar processos e garantir decisões tomadas em rede, a plataforma digital da Rede permite acompanhar as negociações, identificar a origem socioambiental dos produtores, produtos e matérias-primas e gerar informações e dados dos produtores, da produção e da comercialização. Os produtos possuem um selo, em formato QR Code, que permite acesso a história de cada produto, origem e de quem produziu.
O que esperar para 2023
Para 2023, a expectativa da Rede é continuar crescendo e aumentar o número de novos membros em 15%, envolvendo um número maior de comunidades na cadeia de negócios e, com isso, levando mais renda e desenvolvimento para a Amazônia e contribuindo para manter a floresta em pé.