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Política industrial tem de pensar no médio prazo e ser feita a várias mãos, diz professor da FGV

Para Rodrigo Fagundes Cezar, no debate sobre transição energética, não dá para ficar esperando apenas o governo fazer: a academia e a sociedade civil também precisam agir

20 set 2024 - 14h52
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A política industrial é algo para ser feito a várias mãos, com participação de vários setores da sociedade e, principalmente, olhando para o médio prazo. A avaliação é de Rodrigo Fagundes Cezar, professor de Relações Internacionais da FGV, que participou nesta sexta-feira, 20, do Fórum Estadão Think: "Neoindustrialização apoiada pela transição energética — Como unir a política industrial e a política de sustentabilidade". O evento foi realizado na sede da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), em São Paulo.

A questão igualmente importante, segundo ele, é que quando se fala em transição energética, existe uma urgência que não pode ser ignorada.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista com o professor.

Professor Rodrigo Fagundes Cezar, da FGV, defende que exista um aparato institucional para corrigir aquilo que não estiver dando certo na política industrial
Professor Rodrigo Fagundes Cezar, da FGV, defende que exista um aparato institucional para corrigir aquilo que não estiver dando certo na política industrial
Foto: Felipe Rau/Estadão / Estadão

Qual papel a academia pode desempenhar no desenho de políticas públicas para o Brasil?

A primeira coisa quando se fala de projetos com a academia é que nós somos obrigados a pensar no médio prazo. Porque são projetos que vão durar de três a cinco anos. Isso já é um passo importante para não ficarmos presos em coisas de curtíssimo prazo, com a proteção a um ou outro setor. As políticas industriais que dão certo forçam também a academia, e é verdade que às vezes ela é um pouco rígida, a buscar uma evidência científica. A academia é muito boa em fazer com que uma ideia se torne algo que seja mensurável. Portanto, ao dar nome às dificuldades e fazer com que existam planos de longo prazo, a academia acaba transformado narrativas em modelos com dados.

O exemplo dos Tigres Asiáticos é bom para o Brasil se inspirar?

Temos também que adaptar as coisas para o contexto nacional. A política pública, muitas vezes, é feita por tentativa e erro. Os próprios Tigres Asiáticos falaram assim: "Será que vai dar certo?" E aí deu. Mas o importante nesses processos é a política ter mecanismos de correção de rumo. Planejamento é importante. Tem que existir um aparato institucional para corrigir aquilo que não estiver dando certo.

E como lidar com os diversos interesses ao fazer políticas de longo prazo?

Essa é uma questão que tende a se resolver, porque quando você força a elaboração de projetos de longo prazo, você coloca esses diferentes interesses no mesmo lugar e você acaba forçando a todos os setores enxergarem os pontos em comum. Muitas vezes eles brigam e ficam bravos um com o outro, mas também eles acabam conseguindo se ouvir um pouco mais. Os projetos de longo prazo voltados para a inovação podem ser um catalisador de conversas, de discussões saudáveis. E ainda mais nesse debate sobre transição energética, não dá para ficar esperando apenas o governo fazer. O governo tem que fazer, mas a academia e a sociedade civil também. O bolo de subsídios (para a descarbonização), por exemplo, vai acabar, e precisamos então aumentar o lençol. E isso é feito com parcerias tanto aqui dentro do Brasil quanto lá fora.

Estadão
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