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Por que as ações da Petrobras caíram no primeiro dia do governo Lula

Papéis da estatal fecharam a segunda-feira com queda de cerca de 6%, com sinais de mais intervencionismo do governo

3 jan 2023 - 09h18
(atualizado às 09h48)
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RIO - As ações da Petrobras sofreram uma queda forte na segunda-feira, 2, diante dos anúncios do governo Lula de intervir na política de paridade de preços dos combustíveis e de posicionar a companhia como uma indutora da economia nacional. A expectativa de analistas é de que essas diretrizes se traduzam, na prática, em maior risco de cortes no pagamento de dividendos, investimentos maiores por parte da empresa e diminuição de venda de ativos nos próximos cinco anos.

As ações preferenciais da Petrobras caíam cerca de 6% perto do fim do pregão, enquanto as ordinárias recuavam 6,7%, pressionando o Índice Bovespa (Ibovespa), que tinha baixa de 3,1%.

Presidente Lula sobe a rampa do Palácio do Planalto para tomar posse e receber a faixa presidencial
Presidente Lula sobe a rampa do Palácio do Planalto para tomar posse e receber a faixa presidencial
Foto: Wilton Júnior/Estadão / Estadão

O que mais abalou as ações da Petrobras foi a consolidação da expectativa de que haverá, de fato, uma revisão da política de preços da petroleira, segundo analistas ouvidos pelo Broadcast/Estadão. Isso pode desembocar em redução do lucro e, consequentemente, corte na distribuição de dividendos.

Os analistas Pedro Soares e Thiago Duarte afirmaram, em relatório do banco BTG Pactual, que qualquer revisão no pagamento de dividendos por parte da Petrobras pode ser repentina, provocando uma rápida deterioração da percepção de risco sobre a petroleira. O relatório da dupla mencionou ainda que espera volatilidade alta nos papéis da petroleira, impulsionados pelos anúncios recentes da equipe de transição de revisar a política de paridade de preços. "O simples fato de haver esforços para mudar o plano estratégico da empresa deve ser suficiente para aumentar a volatilidade das ações", descreveram.

Outra questão que espantou investidores foi o aumento na expectativa de risco no controle das contas públicas após a decisão de Lula de manter a desoneração dos impostos nos combustíveis - ao contrário do que desejava o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Analistas ouvidos pelo Broadcast/Estadão também interpretaram que a edição da MP diferente do plano do ministro mostrou um descompasso entre os planos de Lula e Haddad.

A Medida Provisória (MP) 1157/23, assinada por Lula na segunda-feira, zera até 31 de dezembro de 2023 as alíquotas de PIS/Pasep e Cofins sobre óleo diesel, biodiesel e gás natural. Já para gasolina e álcool, a isenção foi estendida por mais 60 dias, até 28 de fevereiro deste ano. A medida também prevê isenções para querosene de aviação e gás natural veicular, incluída as transações de importação, para os próximos dois meses.

Segundo o líder da área de análise da Warren, Frederico Nobre, a nova medida provisória vai provocar um rombo em torno de R$ 10 bilhões nas contas públicas para os próximos dois meses. Ele afirmou, contudo, que o cenário já era esperado. "Já era o cenário base antes das declarações de Haddad na semana passada. A expectativa tinha mudado, mas agora voltamos para o mesmo cenário anterior de manutenção da desoneração de impostos para os combustíveis".

Para Nobre, entretanto, a forte queda da Petrobras na Bolsa não se justifica. Ele disse que há uma maior projeção de investimentos da companhia devido às mudanças anunciadas na sua gestão, mas entende que a companhia continuará a ser uma boa pagadora de dividendos em 2023. "Daqui para a frente vamos ver um ritmo mais moderado de pagamento de dividendos, mas ainda assim acreditamos que a Petrobras será uma das principais pagadoras da Bolsa brasileira neste ano", estimou.

Volta ao passado

No domingo, durante a posse, Lula afirmou que os bancos públicos como o BNDES e empresas como a Petrobras teriam papel fundamental para a retomada da economia brasileira. Indicado para ser o próximo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates afirmou em suas redes sociais na última semana que pretende investir na transição energética no longo prazo e defendeu que a companhia fortaleça a sua capacidade nacional de refino.

Para o analista da UBS, Luiz Carvalho, contudo, as posições da nova administração podem aumentar os riscos. "Vimos que tudo aquilo que vinha sendo feito de precificação do mercado está totalmente ao contrário. A Petrobras não é uma empresa de hidrogênio verde. A (perspectiva) de maiores investimentos em áreas que a estatal nunca teve retorno, como açúcar, etanol e petroquímico, poderão gerar cortes de pagamento de dividendos", afirmou.

Carvalho reforçou que possui viés negativo em função da maior expectativa de desembolsos e interferência na na política de paridade de preços. "A Petrobras não deveria fazer investimentos sem perspectivas de retorno".

Uma fonte que preferiu não se identificar afirmou ao Broadcast/Estadão que a abertura das taxas longas de juros também ajudou a penalizar a Petrobras, bem como as demais empresas listadas na Bolsa nesta segunda. "O desempenho das ações da estatal hoje refletem o grau de grande de incerteza em relação à orientação da nova administração da empresa, combinado a declarações do presidente mencionando produção local de plataformas de petróleo e a empresa como indutora de crescimento", diz.

Estadão
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