Por que EUA voltaram a impor sanções a governo de Maduro na Venezuela?
Washington aplicou novas restrições à Venezuela no setor de mineração; Casa Branca, diz que outras medidas a serem impostas pelos EUA dependerão de Nicolás Maduro e seu governo
O governo dos Estado Unidos começou na segunda-feira (29/1) a impor novamente sanções econômicas à Venezuela, três dias depois de a Justiça venezuelana ter confirmado a desqualificação da candidata presidencial da oposição María Corina Machado.
Trata-se de um novo revés nas relações entre Venezuela e Estados Unidos.
As primeiras medidas afetam o setor de mineração. De acordo com um comunicado do Gabinete de Controle de Ativos Estrangeiros dos EUA, qualquer empresa americana que negocie com a estatal venezuelana Minerven tem até 13 de fevereiro para "encerrar transações" com a companhia.
A decisão foi tomada após vários avisos de Washington a Caracas de que o relaxamento das sanções iniciado no ano passado, após os chamados Acordos de Barbados entre o governo e a oposição venezuelana, poderia ser revertido.
María Corina Machado, eleita por ampla maioria em outubro como candidata de unidade da oposição, havia sido desqualificada em junho pela Controladoria-Geral da Venezuela (CGR) para concorrer a cargos eletivos por um período de 15 anos.
Além de manter o veto a Machado, a Suprema Corte venezuelana confirmou na última sexta-feira (26/1) a desqualificação de seu possível substituto na oposição, o duas vezes candidato presidencial Henrique Capriles.
O veto a Machado e Capriles e o retorno das sanções representam um retrocesso para uma possível normalização das relações entre os EUA, a Venezuela e a oposição venezuelana.
Além de garantias eleitorais, Washington exigia que Caracas retirasse a inelegibilidade de membros da oposição, relaxasse proibições e libertasse presos políticos e americanos "detidos injustamente".
Em troca, a Casa Branca relaxou algumas das duras sanções que pesam sobre a economia venezuelana, como os limites à venda de petróleo e gás no exterior.
Em dezembro de 2023, os EUA libertaram o empresário colombiano Alex Saab, um importante aliado de Maduro, em troca de vários venezuelanos e americanos detidos no país sul-americano.
Mas estes passos rumo a uma possível normalização parecem ter sido freados com os últimos acontecimentos.
Horas antes da reimposição das sanções nesta segunda-feira, John Kirby, porta-voz da Segurança Interna da Casa Branca, disse que as medidas impostas pelos EUA dependerão de Maduro e seu governo.
"Eles têm decisões a tomar antes de avaliarmos quais decisões tomaremos", disse Kirby.
Deterioração do clima político
Na segunda-feira, o chefe da delegação do governo venezuelano nas negociações com a oposição, Jorge Rodríguez, alertou que a Venezuela responderá severamente se os EUA retomarem ou aplicarem novas sanções contra o país.
"Se houver alguma ação agressiva, nossa resposta será severa, recíproca e enérgica", disse Rodríguez em entrevista coletiva.
No mesmo dia, Machado reiterou a intenção de disputar as próximas eleições presidenciais apesar do veto confirmado pelo Supremo.
"Quer Maduro queira ou não, ele vai me enfrentar e nós vamos derrotá-lo nas eleições presidenciais", disse a ex-deputada liberal a jornalistas, descartando a possibilidade de alguém a substituir como candidata da oposicionista Plataforma Unitária Democrática (PUD).
O clima político deteriorou-se rapidamente na Venezuela nas últimas semanas.
O governo denunciou uma suposta conspiração para assassinar Maduro e acusou jornalistas e ativistas de fazerem parte dela.
Pouco antes, três líderes regionais da campanha de Machado foram presos e ligados a uma suposta conspiração contra o governo, segundo denúncia do procurador-geral, Tarek William Saab, que anteriormente foi deputado constituinte e governador eleito pelo chavismo.
Em meio a essas alegações de conspirações que levaram à detenção de civis e soldados, Maduro disse na quinta-feira que os acordos que seu governo assinou com a oposição em outubro de 2023 em Barbados estão "mortalmente feridos".