Script = https://s1.trrsf.com/update-1734630909/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Por que o mercado financeiro reagiu tão mal à fala de Lula sobre responsabilidade fiscal?

Bolsa caiu e dólar fechou em alta na quinta-feira, após o presidente eleito tecer críticas à 'tal estabilidade fiscal' e defender aumento de gastos

11 nov 2022 - 15h00
(atualizado às 15h06)
Compartilhar
Exibir comentários

O mercado financeiro teve uma forte reação negativa a uma fala do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na quinta-feira, 10. Em discurso no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Lula criticou a "tal estabilidade fiscal" e defendeu o aumento de gastos do governo com foco nas questões sociais enfrentadas pelo País. Em resposta, a Bolsa caiu 3,35% e o dólar fechou em R$ 5,39, alta de 4,14%.

Segundo especialistas consultados pelo Estadão, a reação do mercado se dá por conta da incerteza que cerca o novo governo de Lula, que ainda não indicou quem será o nome no comando da economia. A avaliação é de que o presidente eleito ainda estaria no modo de campanha, reforçando promessas mas sem trazer definições mais claras sobre seu futuro governo.

Para os analistas, causa um grande temor quando o presidente eleito aponta a responsabilidade fiscal e os gastos sociais como coisas antagônicas, que na verdade não são. Para que sobre dinheiro para despesas como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida e outros gastos com os mais pobres, é necessário que as contas estejam em dia.

"Sem responsabilidade fiscal, as pessoas mais necessitadas são as que mais sofrem. O real perde o valor, os juros sobem. Inflação e desemprego são sempre o resultado", escreveu a economista Elena Landau, em sua coluna no Estadão. "Engana-se quem acha que é a Faria Lima que sai perdendo."

"O mercado estava lidando bem com a possibilidade de o Lula ser eleito, também na expectativa que o novo governo fosse mais parecido com o primeiro mandato dele", diz Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores. "Mas ontem ele basicamente falou tudo que o mercado não queria ouvir, porque flertou com a falta de responsabilidade fiscal, com a gastança. O controle fiscal é uma âncora bastante importante para a estabilidade dos negócios, para uma visão construtiva de país", afirma.

Importância do teto de gastos

Os investidores demonstram preocupação com a PEC da Transição, proposta de emenda à constituição que traz a ideia de retirar do teto de gastos todo o custo do Bolsa Família. Lula já fez críticas ao teto de gastos, mas ainda não anunciou como será sua política fiscal, se o teto será mantido ou se haverá alguma outra regra de controle. Nesta sexta-feira, 11, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AM) afirmou que a apresentação do texto final da PEC foi adiada para a semana que vem, após a reação negativa do mercado.

Petrokas aponta que o teto de gastos foi um avanço na construção de ferramentas que auxiliam na responsabilidade fiscal do País e deveria ser respeitado, por conta do risco relacionado à sustentabilidade da dívida pública. "Quando falamos do Bolsa Família fora do teto, é aquele ditado: onde passa um boi, passa uma boiada. Cria-se um 'waiver' (licença para gastar) aqui, depois pode criar outro ali, o teto perde a sua efetividade e cria-se um espaço de gastança infinita e para o desequilíbrio das contas públicas. O medo do mercado seria o governo financiar os gastos via endividamento, o que é receita para crise, porque gera um efeito negativo, é uma espiral negativa", explica o sócio da Quantzed.

Incertezas sobre a diretriz econômica

Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, a reação do mercado foi simplesmente a precificação de uma perspectiva de piora na saúde financeira do País, com base nas declarações de Lula, já que não há definições claras para o novo governo. "Com uma grande incerteza sobre qual será a diretriz econômica do governo Lula e com a saúde financeira brasileira já debilitada, qualquer informação é informação para o mercado formar um cenário. Foi isso que o Lula acabou trazendo em suas falas. Inclusive falando sobre a reação do mercado, que o mercado está muito sensível. Na verdade, são as finanças brasileiras que estão muito sensíveis e os preços dos ativos não estavam incorporando a possibilidade de uma deterioração adicional de maneira tão célere", afirma.

Sede da B3; mercado financeiro teve reação negativa a fala de Lula sobre responsabilidade fiscal.
Sede da B3; mercado financeiro teve reação negativa a fala de Lula sobre responsabilidade fiscal.
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão

O mercado teme que ocorra uma volta da gestão das contas públicas como nos últimos anos da ex-presidente Dilma Rousseff. Rodrigo Cohen, cofundador da Escola de Investimentos, empresa de educação financeira, aponta que, mesmo que Lula já tenha governado por dois mandatos, suas declarações e a falta de definições ainda implicam incerteza sobre o futuro. "Lula vende que ficou dentro do teto e que vai continuar tendo responsabilidade fiscal a partir de agora, mesmo colocando gastos para fora. Mas ninguém tem como garantir que isso vai ser feito. E o mercado vê isso com maus olhos. Será que vai conseguir? Isso traz instabilidade. O medo do mercado é a volta de um governo Dilma", afirma.

Como evitar o desequilíbrio fiscal?

Os analistas concordam que seria possível aumentar gastos de um setor, desde que haja um planejamento para corte de gastos em outros, evitando o desequilíbrio das contas. Ou seja, que a dicotomia entre responsabilidade fiscal e aumento de gastos setoriais é falaciosa. "Mas seria preciso fazer uma proposta de dispêndio social que seja minimamente sustentável. Porque, da forma como está sendo falado, o programa social (Bolsa Família) será insustentável, porque ele não foi acomodado na capacidade de honrar os compromissos do Brasil", diz Étore Sanchez, da Ativa Investimentos.

Estadão
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Seu Terra












Publicidade