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Por que os bancos querem responsabilizar o trio de acionistas da Americanas

Em ações na Justiça, maiores credores miram o trio Lemann, Telles e Sicupira

26 jan 2023 - 05h11
(atualizado às 12h12)
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Os banqueiros dizem que a história toda é muito estranha, não sabem o que aconteceu na companhia, mas acham que Lemann, Sicupira e Telles têm responsabilidade e querem forçá-los, por meio da Justiça, a cobrir o rombo aberto na Americanas.
Os banqueiros dizem que a história toda é muito estranha, não sabem o que aconteceu na companhia, mas acham que Lemann, Sicupira e Telles têm responsabilidade e querem forçá-los, por meio da Justiça, a cobrir o rombo aberto na Americanas.
Foto: Taba Benedicto/Estadão / Estadão

A batalha jurídica entre os principais acionistas da Americanas e seus credores ganhou força com a tentativa dos bancos de responsabilizar diretamente o trio de acionistas Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira pelo rombo de caixa da varejista - que na quarta-feira, 25, entrou com pedido de extensão de concordata nos EUA.

Em conversas reservadas com o Estadão, representantes de bancos credores afirmaram não acreditar na versão de que o comando da Americanas não soubesse das fraudes na contabilidade da companhia. Eles apontam uma sequência de fatos recentes que, vistos de trás para frente, deixam as instituições financeiras com desconfianças em relação à versão dada pelos maiores acionistas.

São eles: em 2021, Lemann, Sicupira e Telles deixam o controle da empresa, depois de quase 40 anos à frente da Americanas. No ano seguinte, os principais executivos da companhia vendem suas ações e embolsam bônus muito acima do que outras empresas do setor pagavam; neste ano, Miguel Gutierrez, depois de 20 anos como CEO da Americanas, deixa o comando e dá o lugar a Sérgio Rial - ex-CEO do Santander e membro do conselho do banco até o começo deste ano. Em apenas nove dias depois de assumir a presidência da varejista, Rial afirmou ter descoberto uma fraude bilionária, que chamou de "inconsistências contábeis", e deixou a companhia.

Os banqueiros dizem que a história toda é muito estranha, não sabem o que aconteceu na companhia, mas acham que Lemann, Sicupira e Telles têm responsabilidade e querem forçá-los, por meio da Justiça, a cobrir o rombo aberto na Americanas.

Esse movimento não deve se limitar aos tribunais brasileiros. O Bradesco, que já entrou na Justiça do País pedindo que os principais acionistas prestem depoimento, trabalha com seus advogados para entrar com processos também nos Estados Unidos e na Europa. Seria o primeiro desdobramento jurídico do caso Americanas envolvendo um credor da companhia no exterior, em uma escalada de disputas entre os bancos e a companhia mesmo após a Justiça do Rio ter validado o pedido de recuperação judicial.

Nos dias seguintes ao anúncio da "inconsistência", os bancos credores passaram a pressionar o trio de investidores a injetar mais dinheiro na companhia, mas não houve acordo. Lemann, Telles e Sicupira acenaram com R$ 6 bilhões, muito aquém dos R$ 15 bilhões estimados pelos bancos, e ainda condicionaram um eventual acerto à transformação de parte das dívidas em ações da própria companhia.

'Leviano'

As relações azedaram de vez depois que os acionistas publicaram nota, no domingo, para dizer que não tinham conhecimento do rombo e sugerir que os bancos credores também teriam responsabilidade no caso, por não terem encontrado antes indícios de irregularidades nos balanços. O Itaú Unibanco, credor de R$ 2,9 bilhões, classificou a sugestão como "leviana", enquanto o Bradesco (R$ 4,8 bilhões a receber) disse que era uma tentativa de "desviar a atenção do problema central, ou seja, a falta de consistência dos números das demonstrações financeiras e as responsabilidades dos seus dirigentes sobre tal fato".

Com uma fortuna conjunta estimada em R$ 160 bilhões, Lemann, Telles e Sicupira lideram a lista dos mais ricos no País, segundo o ranking da Forbes. Até então, gozavam de prestígio no mercado pelo sucesso de empreitadas bilionárias como a criação da Ambev e, posteriormente, da Anheuser-Busch InBev (soma da belga Interbrew com a Ambev).

Vitória

Numa decisão vista como importante pelo mercado, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) deu ontem prazo de cinco dias para que a Americanas apresente uma série de documentos sobre sua situação financeira nos últimos cinco anos. A decisão veio em ação protocolada pelo Itaú, que havia pedido um prazo até menor, de 48 horas.

A Americanas também terá de enviar à Justiça cópias de todos os e-mails trocados por Gutierrez e Fábio Abrate, ex-diretor financeiro, nos últimos cinco anos que tratem do endividamento da companhia ou de suas demonstrações contábeis. O TJ-SP negou, porém, pedido do Itaú para que "controladores e outros executivos ligados à gestão" fossem ouvidos.

Assim como o Santander, em outra ação o Bradesco pediu que a Justiça tome o depoimentos de executivos e membros do conselho de administração da Americanas, incluindo não só Gutierrez, mas também Sicupira e Paulo Alberto Lemann, representante de Jorge Paulo Lemann no colegiado. Sicupira já foi presidente da Americanas entre 1983 e 1991 e, como um dos integrantes do conselho de administração, é visto no mercado como um dos mais próximos da operação no dia a dia.

Já o BTG Pactual obteve ontem no Superior Tribunal de Justiça (STJ) liminar para manter bloqueado R$ 1,2 bilhão em recursos para liquidar dívidas da empresa. Na relação de credores, o BTG aparece com um saldo a receber de R$ 3,5 bilhões.

Estadão
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