Presidente do BC diz que pior momento da inflação ainda virá
Campos Neto citou a quebra de safra neste início de ano e o avanço dos preços de petróleo como razões para postergação do pico da inflação
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, adiou mais uma vez a expectativa para o pior momento da inflação brasileira. Em evento da Esfera Brasil, Campos Neto afirmou que o BC esperava que o ponto mais alto seria entre dezembro e janeiro, mas citou a quebra de safra neste início de ano e o avanço dos preços de petróleo no mercado internacional como razões para postergação do pico da inflação.
"Imaginamos agora que pico será entre abril e maio, e depois haverá queda mais rápida da inflação." O próprio BC, no entanto, reconhece em suas projeções que a inflação deve fechar 2022 acima da meta, pelo segundo ano consecutivo.
Economistas do mercado financeiro estimam que o IPCA, o índice de inflação oficial, deve ficar em 5,44%. O objetivo a ser perseguido pelo Banco Central este ano é de 3,50%, com tolerância de 2,0% a 5,0%. Ou seja, pelas projeções, este será o segundo ano consecutivo de rompimento da meta, após o desvio de 4,81 pontos porcentuais do IPCA de 2021 (10,06%).
Mesmo diante deste cenário, o BC já avisou que vai reduzir o ritmo da alta de juros a partir de março, mas que isso não significa o fim do ciclo. Hoje, a Selic está em 10,75% ao ano.
Em sua justificativa ao ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre não ter cumprido a meta no ano passado, Campos Neto argumentou que a inflação é um fenômeno global.
Hoje, em evento da Esfera Brasil, em São Paulo, o presidente do BC voltou a falar sobre a preocupação com medidas como a PEC dos combustíveis, discutida entre governo e Congresso, cujo efeito pode ser um tiro pela culatra, por contribuir para pressionar a alta dos preços. "Deixamos claro que medidas sobre preços de curto prazo não têm efeito estrutural sobre a inflação", disse.
Segundo Campos Neto, o governo conseguiu conter gastos mesmo com a inflação alta. O presidente do BC também repetiu que parte da "ansiedade" sobre a trajetória fiscal está relacionada à perspectiva de crescimento estrutural baixo no Brasil. "Precisamos descobrir qual agenda é importante para o investidor ver crescimento estrutural mais alto", disse.
Campos Neto ainda alertou sobre o alto endividamento das famílias. "O BC tem preocupação com isso. Tem projetos para os superendividados. E também há preocupação com os negativados, que estão fora do mundo financeiro e que gostaríamos que voltassem a ter acesso a crédito. Há uma série de medidas para quem está mais comprometido na cadeia de crédito."