Primeira emissão de títulos públicos sustentáveis do Brasil levanta US$2 bi
A primeira emissão de títulos públicos sustentáveis feita pelo Brasil no mercado internacional levantou 2 bilhões de dólares nesta segunda-feira, com remuneração dos papéis ficando em 6,50% ao ano, informou o Tesouro Nacional.
A operação, que envolve títulos com duração de sete anos, com vencimento em 2031, teve resultado "bastante expressivo", na avaliação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com desempenho equivalente ao observado "em geral" em emissões de países com grau de investimento -- selo de bom pagador concedido pelas agências de classificação de risco.
"É um dado relevante porque o mercado internacional reconhece o Brasil como se o país tivesse grau de investimento, está cobrando uma taxa de juros comparável ao México, por exemplo, que tem grau de investimento", disse Haddad em entrevista a jornalistas.
De acordo com o Tesouro, o spread da operação -- diferença entre a taxa paga pelo Brasil em relação ao título público norte-americano de referência -- ficou em 1,82 ponto percentual, patamar mais baixo em quase uma década.
O órgão afirmou em nota que a demanda pelos papéis "superou largamente" o volume emitido, com um livro de ordens próximo a 6 bilhões de dólares.
"A alocação final contou com expressiva participação investidores não residentes, sendo cerca de 75% oriundos da Europa e da América do Norte, com a América Latina, incluindo o Brasil, respondendo por 25%", disse.
A pasta afirmou que o governo se compromete a direcionar montante equivalente aos recursos captados em ações que impulsionem a sustentabilidade, ressaltando que o lançamento também é uma relevante referência para o setor corporativo.
De acordo com o Tesouro, a alocação desses recursos deve respeitar proporção de 50% a 60% para despesas relacionadas ao tema ambiental, com desembolso de 40% a 50% para a questão social.
"A emissão representa um novo marco na gestão da Dívida Pública Federal ao reafirmar o compromisso da República com políticas sustentáveis", disse.
A emissão ocorreu poucos dias após Haddad afirmar que o nível mais alto dos juros nos Estados Unidos gera dificuldades para a emissão de títulos soberanos de outros países, enfatizando, em fala na última sexta-feira, que o cenário era "impeditivo" para a colocação desses papéis a taxas mais baixas.
O governo Luiz Inácio Lula da Silva lançou em setembro o conjunto de regras para a emissão de títulos públicos sustentáveis no mercado internacional. Estimativas do Ministério da Fazenda já apontavam que a primeira emissão poderia captar aproximadamente 2 bilhões de dólares.
A primeira operação do tipo no país foi liderada pelos bancos Itaú BBA, J.P. Morgan e Santander.