Produtores de grãos desconfiam do Dicamba enquanto Bayer promove nova semente
Os produtores brasileiros estão cautelosos quanto à iminente introdução no mercado de uma nova tecnologia de sementes de soja geneticamente modificada, citando os riscos associados ao Dicamba, um herbicida tolerado pelo novo material.
Amplamente utilizado nos Estados Unidos, o Dicamba foi descrito como um produto volátil e que pode facilmente ser espalhado pelo vento, comprometendo a soja não tolerante a ele, disseram produtores à Reuters.
"O Dicamba fica suspenso no ar, qualquer brisa leva esse produto muito longe, e isso causa uma toxicidade em outras sojas", disse Cayron Giacomelli, agricultor e agrônomo. "Por isso, eu tenho medo dessa tecnologia."
A Associação Brasileira dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja) afirmou na sexta-feira que a Bayer, proprietária da tecnologia de sementes "Intacta 2 Xtend", está convidando produtores a participarem dos testes nesta safra.
A Aprosoja solicitou que eles busquem informações com a Bayer a respeito do impacto do uso do Dicamba, acrescentando que há herbicidas alternativos no Brasil.
"Nos EUA, onde a tecnologia já foi lançada, as ervas daninhas são diferentes das existentes no Brasil. Lá o Dicamba se constitui em ferramenta essencial", afirmou a Aprosoja.
O produtor José Soares disse à Reuters que não vai participar dos testes da Bayer. "O Dicamba é muito perigoso, e não temos necessidade."
A Bayer afirmou que a semente combina biotecnologia com novas ferramentas de proteção ao cultivo para elevar "a produtividade do agricultor a um novo patamar".
A companhia alemã disse ainda que há especialistas e acadêmicos acompanhando os testes da nova semente e a aplicação do defensivo Dicamba, com o intuito de entender as especificidades das condições brasileiras.
Segundo a Bayer, variedades de soja com a tecnologia Xtend foram lançadas em 2016 nos EUA. A Bayer informou que planeja lançar a tecnologia comercialmente no Brasil na safra 2021/2022.
Os produtores brasileiros não se opõem ao uso da nova tecnologia, mas querem que a Bayer se responsabilize por eventuais problemas.
Antonio Galvan, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), disse à Reuters que a contaminação decorrente da aplicação do Dicamba nos EUA é uma preocupação.
"Se o produto for para o mercado, que a empresa seja totalmente responsabilizada por qualquer problema que venha a acontecer", afirmou Galvan, acrescentando que a soja que não tem resistência ao Dicamba é um dos produtos mais suscetíveis à toxicidade do herbicida.
A companhia disse que vai recomendar que agricultores no Brasil utilizem o Dicamba "com uma nova formulação, capaz de reduzir significativamente a volatilidade do produto em relação à primeira geração".
Paralelamente, a Aprosoja MT e outras associações regionais estão questionando na Justiça a validade da patente da soja Intacta RR2 PRO, uma semente tolerante ao herbicida glifosato e a insetos.
Sobre o herbicida Dicamba, a Bayer disse que está preparada para responder a questões e treinar intensamente agricultores que optarem pelo uso da tecnologia.
"A escolha sobre qual tecnologia usar é sempre do produtor", apontou a empresa.
A Aprosoja afirmou que mais de 2.700 reclamações foram abertas nos EUA por sojicultores que não utilizavam a tecnologia Xtend, mas foram afetados pelo Dicamba aplicado em fazendas vizinhas.
A janela de plantio mais ampla no Brasil apresenta riscos que os agricultores norte-americanos não enfrentam, acrescentou a Aprosoja.