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Proibição de Bolsa Família em bets é positiva; mas e cigarro e loteria?

Ministro do STF determinou que governo impeça utilização de recursos do benefício em jogos e apostas

26 nov 2024 - 06h30
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Resumo
Ministro Luiz Fux determinou medidas de 'proteção especial' para impedir que beneficiários do Bolsa Família apostem em plataformas de apostas online, mas especialistas questionam a constitucionalidade da decisão.
Foto: Freepik

O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou, em novembro de 2024, que o Governo Federal adote medidas de “proteção especial” para evitar que beneficiários do Bolsa Família utilizem os recursos do programa para apostar em plataformas de apostas online, conhecidas como bets.

A decisão versa sobre “medidas imediatas de proteção especial que impeçam a participação nas apostas de quota fixa com recursos provenientes de programas sociais e assistenciais como o Bolsa Família, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e congêneres, até a conclusão do julgamento de mérito das referidas Ações Diretas de Inconstitucionalidade”.

Para Gustavo Biglia, sócio do Ambiel Advogados e especialista em Regulamentação de Jogos e Apostas, a posição do STF é “positiva e saudável”, porque evita que o próprio dinheiro que o governo destina para que as famílias de baixa renda tenham um pouco mais de dignidade para viver seja utilizado por um fim diverso do propósito do programa.

“No entanto, é preciso ressaltar que o governo está tão preocupado com as bets que se esquece de que existem outros tipos de vícios e problemas que podem ser utilizados dos recursos advindos do Bolsa Família, mas não são comentados. Exemplo simples é no próprio cenário de jogos: em nenhum momento, o Governo Federal veda o cidadão em pegar o dinheiro do Bolsa Família e apostar nas loterias ou na Mega Sena. Cigarro e bebida alcoólica também não são vedados. Por quê?”, questiona o advogado.

Outro ponto destacado pelo especialista é de que, mesmo com a medida, poderão haver brechas na fiscalização por parte do Governo Federal. 

“Vai ser muito difícil de fiscalizar, porque o cidadão pode pegar o dinheiro do Bolsa Família, repassar para uma pessoa que não está recebendo o benefício e pedir para apostar. Como é que será possível coibir? Como é que possível restringir esse tipo de aposta? Fica muito difícil o controle”, complementa Biglia, que reforça que o STF está analisando um tema que é de responsabilidade do Congresso.

Especialista em Jogo Responsável, Felipe Crisafulli enxerga, na decisão do STF, um problema de constitucionalidade, legalidade e juridicidade. 

"O Bolsa Família, segundo a própria lei que o instituiu, é um programa de transferência direta e condicionada de renda. As condicionalidades constam do art. 10, e nenhuma delas parece justificar, direta ou indiretamente, a decisão do Ministro Fux, de proibir o uso de tais valores para fins de apostas de quota fixa”, argumenta o advogado e também sócio do Ambiel Advogados.

“Além disso, o art. 3º da Lei do Bolsa Família estabelece que um dos objetivos do programa é o ‘respeito à privacidade das famílias beneficiárias’, inclusive para fins da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Assim, fica a pergunta: em que medida esse respeito se dará, se a vedação ao uso de tais recursos estará, obrigatoriamente, vinculada à pessoa em específico, isto é, ao beneficiário do programa?", conclui Crisafulli.

(*) Homework inspira transformação no mundo do trabalho, nos negócios, na sociedade. É criação da Compasso, agência de conteúdo e conexão.

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