Por que a projeção do PIB para 2019 está em 'queda livre'
Estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto feita pelo BC caiu de 2,53%, na 1ª semana de janeiro, para 1,49% no início de maio
A expectativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro está em "queda livre" em 2019. De 2,53% na primeira semana de janeiro, a previsão caiu para 1,49% no início de maio, de acordo com o relatório Focus, do Banco Central. A redução da projeção nestes quatro meses é de 41%.
A estimativa, feita pelo BC com base em cálculos de mais de 100 instituições financeiras, se manteve razoavelmente estável em torno de 2,5% até 22 de fevereiro. Daí em diante, a previsão do PIB só caiu, com quedas bruscas em pelo menos três semanas (confira no gráfico abaixo). O relatório Focus, com diversas previsões para a economia além do PIB, é divulgado pelo Banco Central toda segunda-feira do ano.
Para o professor do Insper Fernando Ribeiro Leite, os resultados são reflexo da incerteza sobre o cenário político-econômico do País. Pessimista com relação à capacidade de organização do governo para reverter o quadro, ele acredita que é grande a possibilidade de o Brasil não crescer este ano.
“A projeção do PIB depende da articulação política do governo. Do jeito que anda, eu facilmente colocaria 0 a 0 de PIB para esse ano. Acho que vai dar zero. Eu acho que o governo não vai conseguir se organizar”, afirmou Ribeiro.
O economista Arthur Barrionuevo concorda que a dificuldade do governo em se estruturar está afetando as expectativas do mercado. Mesmo ressaltando obstáculos vindos do exterior, como a guerra comercial dos Estados Unidos com a China, o professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV afirma que a queda das projeções se deve mais a fatores domésticos.
“O consumo das famílias está contido pelo tremendo desemprego. As pessoas não estão recuperando o salário de maneira significativa”, explica Barrionuevo. Segundo o economista, com a redução de gastos do governo, um novo ciclo de crescimento estará associado ao investimento das empresas. “Mas esse investimento depende muito da expectativa das empresas sobre o futuro”, alerta.
Já o diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lúcio, afirma que o governo está levando a economia para um novo ciclo recessivo. Ele acredita que transferir instrumentos de investimento público para a iniciativa privada é perder capacidade de promover o crescimento.
Para Clemente, a reforma da Previdência e o corte de gastos tiram a capacidade de consumo das famílias. “A depender das trapalhadas e de tudo que for feito, acho que se tivermos um crescimento de 1% já é um resultado espetacular”.
Governo x Congresso
A relação do governo com o Congresso Nacional tem sido marcada por atritos. Em diversas ocasiões, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já trocou farpas com o presidente Jair Bolsonaro, a quem pede mais articulação política com deputados e senadores.
Com isso, a reforma da Previdência, considerada essencial pelo mercado financeiro para a estabilização da economia, tem tramitado na Câmara de maneira bem mais lenta do que o esperado no começo de seu mandato.
Só na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde se analisa a constitucionalidade da reforma, o governo levou 62 dias para conseguir aprovar o texto. Para efeito de comparação, o ex-presidente Michel Temer precisou de apenas nove dias na mesma etapa, em 2016, quando tentava aprovar a reforma em seu governo. O texto agora está sob análise da Comissão Especial, que discute o mérito e questões técnicas da reforma.
PIB oficial
Calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB oficial de 2019 só será divulgado, como de costume, entre final de fevereiro e início de março do ano que vem. Em 2018, a soma de todos os bens e serviços produzidos totalizou R$ 6,8 trilhões. A alta foi de 1,1% com relação a 2017, que teve PIB de R$ 6,6 trilhões.
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