Projeções do Fed devem mostrar fé abalada em pouso suave da economia
Quanta fé as autoridades do Federal Reserve ainda têm nas perspectivas de um "aterrissagem suave" ao tomarem medidas agressivas para reprimir a inflação mais alta em 40 anos será revelada nesta quarta-feira, quando o banco central norte-americano divulgar novas previsões macroeconômicas.
As projeções dos 19 formuladores de política monetária --a serem publicadas em conjunto com o provável anúncio do terceiro aumento consecutivo dos juros de 75 pontos-base pelo Fed-- não devem convergir em torno de um salto maciço no desemprego ou uma contração da economia.
Esses foram os resultados da última vez que o Fed, sob a liderança de Paul Volcker, lutou contra a inflação superalta nos anos 1980.
Embora o novo resumo trimestral das estimativas dos formuladores de política monetária possa parecer descartar uma aterrissagem "dura" no estilo Volcker, é amplamente esperado que aponte desemprego notavelmente mais alto e um crescimento econômico mais lento no próximo ano. Isso, pelo menos com base numa famosa medida de referência, poderia sinalizar uma recessão de algum tipo.
Essa referência --conhecida como a Regra de Sahm, em homenagem à ex-funcionária do Fed Claudia Sahm, que a identificou e formalizou-- diz que a economia dos EUA normalmente está em recessão quando a média móvel de três meses da taxa de desemprego sobe 0,5 ponto percentual acima da menor taxa de três meses ao longo dos 12 meses anteriores. Essa mínima atualmente é de cerca de 3,56%.
Economistas consultados pela Reuters esperam que a taxa de desocupação suba para 4,1% no segundo trimestre de 2023 e para 4,3% no quarto trimestre --muito abaixo dos 14,7% alcançados na crise da pandemia ou do pico de 10,8% durante a recessão de Volcker, mas alta o suficiente para cumprir o teste da Regra de Sahm.
Historicamente, uma vez que a taxa de desemprego aumenta 0,5 ponto percentual, ela continua a subir mais 1 ou 2 pontos, se não mais.
As projeções dos formuladores de política monetária para a economia dependem de seus pontos de vista sobre a configuração apropriada da política monetária, que também terá seus prognósticos publicados nesta quarta-feira como parte do resumo trimestral de projeções econômicas do Fed, ou SEPs.
RECESSÃO À FRENTE?
As projeções de quarta-feira também darão uma leitura sobre a rapidez com que as autoridades do Fed esperam que suas ações diminuam a inflação e quanto a economia deve desacelerar.
Nas estimativas informadas em junho, a inflação permanecia acima da meta de 2% do Fed até 2024, enquanto nem mesmo o mais pessimista integrante do Fomc esperava que a economia retraísse nos próximos trimestres. A maioria apostava no crescimento do PIB entre 1,3% e 2% para cada um dos próximos três anos.
"As novas projeções econômicas destacarão a tolerância do Fed à dor, com o crescimento real do PIB provavelmente revisado significativamente para baixo", escreveu o economista-chefe do EY Parthenon, Gregory Daco, acrescentando que a previsão para a taxa de desemprego no próximo ano seria muito superior a 4,5%.
Os prognósticos de inflação, no entanto, podem ficar próximos aos estabelecidos em junho, disse ele, em meio a "duelo de forças da persistência da inflação e uma postura mais agressiva do Fed e provável recessão".