Projetos bilionários em transmissão de energia no Brasil atraem indianos e chineses
Investimentos bilionários previstos na expansão da rede brasileira de transmissão de eletricidade nos próximos anos têm atraído o interesse de um seleto grupo de grandes empresas da China e da Índia, que estão entre os maiores agentes globais do setor.
O apetite é explicado em parte por melhorias na remuneração e no desenho dos contratos oferecidos nos leilões promovidos pelo governo brasileiro para a concessão de novas linhas de transmissão, mas avanços tecnológicos também estão no radar dos estrangeiros, disseram especialistas à Reuters.
Em uma audiência pública sobre o próximo leilão de linhas de transmissão, que acontece em dezembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) listou a participação de duas transmissoras indianas ainda sem presença no país, a Adani Transmission e a Power Grid Corporation of India.
Atualmente, a chinesa State Grid constrói no Brasil dois enormes linhões de ultra-alta tensão em corrente contínua, em 800 kilovolts, para levar ao Sudeste a energia da hidrelétrica de Belo Monte, no Norte.
Linhões como esse utilizam tecnologias ainda não adotadas no país até o momento, mas com as quais chineses e indianos já possuem uma experiência acumulada que pode ser um diferencial na disputa pelos contratos para construir empreendimentos semelhantes no médio e longo prazo.
"Há um futuro importante para essas tecnologias no Brasil, e não há tantos mercados no mundo para grandes linhas em corrente contínua. São quatro ou cinco mercados --China, Índia, América do Norte, Brasil e a África, onde ainda não há desenvolvimento", disse à Reuters o presidente da fornecedora suíça de equipamentos ABB, Rafael Paniagua.
Se concretizarem o interesse, a Adani e a Power Grid vão se somar a outra indiana, a Sterlite Power, que surpreendeu ao arrematar dois empreendimentos em um leilão de novas linhas em abril, e à chinesa State Grid, que chegou ao país em 2010.
Além dessas, a chinesa Shanghai Electric está em fase final de negociação para assumir as obras de linhas de transmissão da Eletrosul, subsidiária da Eletrobras.
"O setor elétrico indiano é muito maior que o brasileiro... o da China, então, nem se fala... se você olhar globalmente oportunidades de investimento em transmissão, não é um setor grande em outros lugares, mas aqui é e está em um momento de muitas oportunidades", disse o pesquisador Roberto Brandão, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Gesel-UFRJ).
Ele avalia que a participação das elétricas indianas na audiência pública da Aneel demonstra "no mínimo um interesse" no Brasil.
Tanto a Adani quanto a Power Grid operam linhas de corrente contínua em alta tensão na Índia, segundo informações do site das empresas, que não responderam a pedidos de comentário sobre o apetite por negócios no Brasil.
Outra indiana, a Sterlite Power, não opera linhões como esses em seu país, mas tem interesse em trabalhar com a tecnologia no Brasil.
"Nossos investimentos em linhas de transmissão de energia são na Índia e no Brasil... nós vamos analisar oportunidades em corrente contínua de alta tensão (HDVC) no Brasil quando elas surgirem", disse a empresa em nota à Reuters.
LONGAS LINHAS
A tecnologia de corrente contínua em alta tensão é utilizada principalmente para transportar grandes quantidades de eletricidade por longas distâncias, o que faz muitos apostarem que mais linhas como essas serão necessárias no enorme sistema elétrico interligado do Brasil, um país de dimensões continentais.
Um estudo da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE) sobre a expansão da transmissão nos próximos anos lista dois sistemas de corrente contínua em alta tensão que poderiam ser implementados até 2021 --um no Pará e outro entre Maranhão e Goiás, com investimentos estimados em mais de 5,5 bilhões de reais.
Em um relatório no final de setembro, a corretora Brasil Plural disse que o país está em "um dos melhores momentos para o negócio de transmissão em muitos anos" e estimou que o segmento receberá 119 bilhões de reais em investimentos na próxima década.