Quais são os negócios dominados pela China em outros países?
Richard Anderson
Repórter de negócios da BBC News
Com cerca de US$ 4 bilhões (R$ 12 bilhões) em reservas internacionais aplicadas em vários fundos soberanos, a China tem muito dinheiro para investir.
Não causa surpresa, portanto, que os investimentos do gigante asiático no exterior tenham se multiplicado oito vezes na última década, superando US$ 140 bilhões (R$ 420 bilhões) em 2013.
Surpreende, porém, que apesar do salto na taxa de investimento estrangeiro, o PIB chinês tenha caído em 2014 na comparação com o ano anterior, em grande parte devido à redução dos gastos em projetos de energia.
Mas a crise tende a ser curta, pela simples razão do crescimento da população, e mais importante, pela classe média emergente e seu apetite voraz por recursos. Nesse período, para onde a China vai destinar seus recursos?
Estados Unidos
Os Estados Unidos têm sido o maior destino do dinheiro chinês, em valores médios, na última década, em grande parte, pela explosão de investimentos desde 2012.
Até o ano passado, a liderança era ocupada pela Austrália.
No primeiro semestre do ano passado, no entanto, o montante investido pela China nos Estados Unidos se igualou ao volume de recursos aplicado no Reino Unido, o principal destino europeu de investimentos chineses, com US$ 24 bilhões (R$ 72 bilhões).
O valor é o dobro do que a França recebeu (US$ 12 bilhões ou R$ 36 bilhões).
A China tem investido e assinado contratos em todo o mundo, mas a África tem sido seu principal foco de interesse.
Ao todo, o país asiático mantém negócios em 34 países africanos ─ e o número tende a aumentar.
A Nigéria lidera a lista, com US$ 21 bilhões (R$ 62 bilhões) em investimentos chineses. Etiópia e Argélia atraíram mais de US$ 15 bilhões (R$ 45 bilhões) cada uma, e Angola e África do Sul receberam quase US$ 10 bilhões (R$ 30 bilhões), respectivamente.
A razão é simples: o continente é rico em recursos naturais.
Do outro lado da balança, as tensões políticas explicam por que os chineses têm investido tanto na Mongólia (US$ 1,4 bilhão ou R$ 4,2 bilhões) e Japão (US$ 1,6 bilhão ou R$ 4,8 bilhões), este último do qual a China acaba de tirar a vice-liderança no ranking das maiores economias do mundo, capitaneada pelos Estados Unidos.
Recursos energéticos
Estimativas apontam, por exemplo, que até 2050 a China precisará de três vezes mais recursos para atender a sua demanda de energia.
É por isso que o investimento em energia ofusca os demais setores: desde 2005, são cerca de US$ 400 bilhões (R$ 1,2 trilhão) destinados a prover necessidades energéticas a seus 1,4 bilhão de habitantes.
Os metais também são outra área-chave do investimento chinês, pois têm papel fundamental na construção e na indústria do país.
O governo comunista fez ainda grandes investimentos em empresas e projetos específicos, a maioria no campo de energia.
A estatal de petróleo CNOOC, por exemplo, investiu US$ 15 milhões (R$ 45 milhões) na canadense Nexen em 2013, ao passo que outras empresas controladas pelo Estado chinês fizeram acordos bilionários nos últimos anos.
Além dos recursos de energia, o setor de finanças também vem atraindo grandes somas, sendo os maiores beneficiários bancos como Morgan Stanley (Estados Unidos) e Standard Bank (África do Sul).
Outras grandes empresas globais como Barclays, Ford, IBM ou General Motors também já foram alvo do apetite chinês por altos retornos.
América Latina
Com investimentos da ordem de US$ 55 bilhões (R$ 165 bilhões), a Venezuela é o principal destino dos investimentos chineses na América Latina
Aproveitando-se dos desequilíbrios das economias latino-americanas, que precisam de recursos abundantes na forma de investimento e financiamento, a China encontrou na região uma porta de entrada para explorar e consolidar sua presença.
Mais uma vez, o interesse chinês no continente tem a ver com a necessidade de garantir "o fornecimento de energia para seu crescimento econômico", explica o jornalista Yuwen Wu, do serviço chinês da BBC.
Esse cenário fez com que o país desenvolvesse focos específicos de investimento e concessão de empréstimos em quatro países da América Latina: Venezuela, Brasil, Argentina e Peru.
1. Venezuela
Em setembro de 2013, o então ministro do Petróleo venezuelano, Rafael Ramirez, anunciou um acordo com a China National Petroleum Corporation (CNPC) para um investimento da ordem de US$ 28 bilhões (R$ 84 bilhões) em um novo projeto na Faixa Petrolífera do Orinoco.
CNPC é a "mãe" da PetroChina, a segunda maior empresa de petróleo do mundo em termos de capital.
Além desse acordo, outro investimento, de US$ 14 bilhões (R$ 42 bilhões), foi anunciado por Ramirez com a petrolífera estatal China Petroleum & Chemical Corporation (Sinopec), que tem um importante papel na região.
A Venezuela também recebeu cerca de US$ 50 bilhões (R$ 150 bilhões) em empréstimos garantidos por fornecimentos de petróleo.
Exemplos desses investimentos são o fundo bilateral de US$ 17 bilhões (R$ 51 bilhões) criado em 2007 para aumentar a produtividade do setor agrícola, e a concessão de US$ 4 bilhões (R$ 12 bilhões) pelo Bank of China para a construção de casas no país.
Em 19 de abril deste ano, o presidente venezuelano, Nicolas Maduro, anunciou um novo financiamento de US$ 5 bilhões (R$ 15 bilhões).
Somados todos os investimentos, a Venezuela desponta como o primeiro destino de investimento chinês na América Latina.
2. Brasil
Petrobras recebeu um empréstimo de US$ 10 bilhões em 2009 do governo chinês
Em outubro de 2010, a Sinopec adquiriu 40% da Repsol espanhola no Brasil por US$ 7,1 bilhões (R$ 21,3 bilhões). Um ano mais tarde, a estatal expandiu suas operações no Brasil com a aquisição de 30% das operações da portuguesa GALP por US$ 5 bilhões (R$ 15 bilhões).
As duas operações são uma clara indicação da presença de Sinopec no Brasil e da estratégia chinesa de aquisição parcial ou total de empresas que já estão em funcionamento.
Em 2009, a Petrobras recebeu um empréstimo de US$ 10 bilhões, o maior do tipo em termos absolutos.
Mais recentemente, o governo chinês voltou a emprestar dinheiro à estatal brasileira. O financiamento, de US$ 3,5 bilhões (R$ 10,5 bilhões), deverá ser pago em petróleo, nos mesmos moldes do anterior.
3. Argentina
A China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) tornou-se a segunda maior empresa de petróleo na Argentina atrás da YPF nacionalizada, após uma série de aquisições parciais multimilionárias de outras empresas.
O primeiro investimento ocorreu em março de 2010, quando a CNOOC comprou 50% da petroleira argentina Bridas por US$ 3,1 bilhões (R$ 9,3 bilhões).
Em novembro do mesmo ano, a Bridas, já controlada pela estatal chinesa, adquiriu 60% da Pan American Energy por US$ 7 bilhões (R$ 21 bilhões).
No ano seguinte, por sua vez, a Pan American Energy comprou 100% dos ativos da Esso Argentina por mais de US$ 800 milhões (R$ 2,4 bilhões).
Já a Sinopec adquiriu a operação da americana Occidental Petroleum na Argentina por US$ 2,45 bilhões (R$ 7,5 bilhões).
A nacionalização da YPF em 2012, que colocou a Argentina em pé de guerra com vários países ocidentais, não afetou a China que, em janeiro de 2014, se associou à recém-nacionalizada petroleira para explorar reservas de petróleo e gás de xisto no campo de Vaca Muerta.
4. Peru
Com a aquisição feita pelo consórcio MMG LTD das minas de cobre de Las Bambas, a maior na história do Peru, a China aumentou seu investimento em projetos de mineração no país para US$ 19 bilhões (R$ 57 bilhões).
De acordo com estimativas da Câmara de Comércio Peru-China (Capechi), o país asiático controlava, em 2014, 33% do setor de mineração do Peru.