Qual o melhor investimento na renda fixa: Tesouro Direto, ETFs ou títulos privados?
Após o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciar em setembro o primeiro aumento de juros desde agosto de 2022, muitos investidores têm voltado suas atenções para novas oportunidades no mercado de renda fixa. Dados da B3 mostraram que os investidores pessoas físicas na renda fixa tiveram alta anual de 7% no 2º trimestre de 2024, chegando a 17,7 milhões.
Nesse cenário, títulos públicos, títulos privados e ETFs de renda fixa surgem dentre as diversas opções para quem busca investir parte de seu patrimônio fora da renda variável.
Mas afinal, vale a pena investir em títulos públicos atualmente? Em meio a tantas opções, como decidir qual é o investimento mais adequado? Veja a seguir essas e outras respostas de especialistas.
Esta semana temática tem o apoio da Suno e o patrocínio da Investo, a maior gestora independente de ETFs do Brasil. Acompanhe todos os conteúdos neste link.
Vale a pena investir em títulos públicos no cenário atual?
Com a recente abertura das taxas de juros, os títulos públicos subiram de forma relevante, com o mercado elevando sua percepção de risco em relação à economia brasileira.
Para Rogério Paulucci Mauad, professor de Administração e Economia do Ibmec SP, essa mudança de perspectiva está relacionada, dentre outros fatores, à questão de política fiscal do governo.
"O gasto excessivo do governo está aumentando o endividamento público", afirma Mauad, que destaca que ao refinanciar suas dívidas no futuro frente a esse endividamento, o governo terá que arcar com juros maiores nas novas emissões de títulos. Nesse caso, as taxas de juros estariam subindo justamente para acompanhar esse movimento crescente de percepção de risco.
Para o professor do Ibmec SP, com esse aumento nas taxas de juros, torna-se interessante para os investidores alocarem recursos nesses títulos de renda fixa.
Já Raquel Zucchi, head de Research da Investo, afirma valer a pena investir em títulos públicos nesse momento, embora tenha ponderado que a decisão de investir nesses ativos deve estar alinhada aos objetivos financeiros e perfil de risco do investidor.
"Os títulos públicos, como os oferecidos pelo Tesouro Direto, são ideais para quem busca segurança, especialmente para objetivos de curto e médio prazo. A abertura das taxas de juros reflete ajustes de expectativas e incertezas no cenário econômico, o que pode tornar os títulos públicos mais atraentes", destaca Zucchi.
Qual o melhor momento de mercado para investir no Tesouro Direto?
Rogério Paulucci diz que o melhor momento para investir no Tesouro Direto é quando as taxas de juros estão elevadas, como é o caso atualmente dos títulos prefixados e os títulos híbridos - as NTN-B que pagam a soma da inflação com uma taxa prefixada.
Inclusive, existem NTN-B 2025 que estão pagando a variação da inflação, mais uma taxa de juros prefixada superior a 6,5% ao ano. "Isso é um excelente ganho real, acima da inflação, e é um título para ser carregado para prazos mais longos", diz Paulucci.
Já para Raquel Zucchi, não existe um "momento ideal" para investir no Tesouro Direto, já que a decisão deve ser baseada nos objetivos do investidor, e não nas previsões de mercado.
Para ela, se o objetivo for de curto prazo ou para construção de uma reserva de emergência, os títulos pós-fixados como o Tesouro Selic são "ideais", e isso independe das flutuações do mercado.
Por outro lado, Zucchi destaca que para objetivos de longo prazo, como aposentadoria, por exemplo, outros títulos podem ser boas opções, como Tesouro IPCA+. Porém, ela faz um adendo no caso desses títulos, já que o investidor só deve aderi-los se estiver preparado para segurar esses títulos até o vencimento, evitando perdas com a marcação a mercado se precisar vender o título antes do prazo de vencimento.
"É possível que alguns investidores optem por operar com títulos para tentar ganhar na marcação a mercado, comprando títulos prefixados com a esperança de vendê-los no futuro por um preço maior quando as taxas caírem. Mas pessoas que fizeram isso neste ano de 2024 foram surpreendidas negativamente, pois o movimento dos juros não aconteceu como o previsto no início do ano", explicou Zucchi.
Vale a pena investir nos títulos privados que oferecem prêmios maiores?
Na hora de escolher os melhores títulos privados, ou seja, aqueles que são emitidos por empresas e que conta com um maior potencial de ganho, Rogério Paulucci diz que é necessário que o investidor pondere algumas questões relevantes, dentre eles:
- Risco de crédito da empresa: se questionar qual a possibilidade da empresa emissora não honrar com a obrigação, pagando o título na data de resgate. Nesse caso, é válido analisar a nota e a classificação de crédito daquela companhia;
- Retorno do título: os títulos privados precisam pagar maiores taxas que os títulos públicos, já que existe um risco maior, que é o risco de crédito.
- Risco de liquidez: é importante observar a liquidez desses papéis, já que as empresas, principalmente as menores, têm uma liquidez reduzida em relação aos títulos públicos (atrelados ao governo), caso o investidor queira vender o título antes do vencimento.
Raquel Zucchi segue nessa mesma linha, ressaltando que os títulos privados com prêmios maiores podem ser mais atrativos, porém, estão acompanhados de um risco maior.
Recentemente, foram vistas diversas variações relevantes nos prêmios de risco dos títulos privados. Segundo a especialista, isso se deu por fatores como a instabilidade econômica e alterações nas condições de crédito no Brasil.
"Antes de optar por esses títulos, o investidor precisa considerar a solidez financeira da instituição emissora, a liquidez do ativo e se o risco adicional compensa o prêmio oferecido (…). Para se precaver contra esses riscos, o melhor é diversificar entre emissores e setores", afirma.
Os ETFs de renda fixa podem ser uma boa opção?
Rogério Paulucci explica que os ETFs de renda fixa podem ter vantagens em relação aos fundos de investimentos tradicionais do setor, incorrendo em menores taxas de administração, por exemplo. Os ETFs nada mais são do que fundos cujas cotas são negociadas em Bolsa, podendo ser compradas e vendidas pelos próprios investidores.
Ele destaca que a liquidação em "D+1" também é uma vantagem dos ETFs de renda fixa, possibilitando que o resgate ou a venda da cota faça o dinheiro retornar para a conta logo no dia seguinte à conclusã da operação.
"O ETF é interessante porque representa uma cesta de produtos de renda fixa, escolhida a critério do gestor. Então é uma alternativa interessante em comparação com o investimento em fundos, justamente porque pode trazer algumas vantagens", diz o especialista.
Rachel Zucchi vai além, destacando que os ETFs de renda fixa são "uma excelente forma de aproveitar as taxas elevadas dos títulos públicos, com algumas vantagens adicionais em relação à compra direta de títulos".
Um dos pontos vantajosos dos ETFs de renda fixa, segundo Zucchi, é a praticidade, já que o investidor não tem que se preocupar com vencimentos e com o reinvestimento de títulos. No ETF, esse "reinvestimento" acontece automaticamente.
Como escolher ETFs de renda fixa para a carteira de investimentos?
Na hora de escolher um ETF de renda fixa, três fatores principais são colocados por Zucchi: grau de risco de crédito, prazo de investimento e perfil de volatilidade.
"Se você busca segurança máxima, os ETFs de títulos públicos são uma boa escolha, pois envolvem o risco de crédito do governo. Se deseja possibilidade de buscar maior retorno, pode considerar ETFs de crédito privado, mas sabendo que o risco será maior e que o retorno maior não é garantido", explica.
No caso da necessidade liquidez a qualquer momento, os ETFs de renda fixa pós-fixados podem ser alternativas interessantes, em razão de não ter volatilidade, não "sofrendo" com a marcação a mercado.
Assim, é importante que o investidor avalie a relação risco-retorno dos diferentes ativos de renda fixa, buscando adequar sua carteira ao seu próprio perfil de risco, e em conformidade com os objetivos financeiros pessoais de médio e longo prazo.