Quanto você teria ganhado investindo em cripto há um ano?
Se você está lendo essa matéria, provavelmente se interessa por criptomoedas, logo, deve ter acompanhado o tombo recente no valor do Bitcoin. O assunto é amplamente divulgado, assim como quando há uma grande alta. Mas, embora as notícias recentes sejam de queda, será que se você tivesse investido em criptomoedas ano passado, teria perdido dinheiro? Para responder a essa pergunta, selecionei algumas criptomoedas que tiveram algum destaque no último ano para fazer a simulação.
Como o objetivo é ter uma visão geral do mercado, selecionei a criptomoeda-meme Shiba Inu (SHIBA); duas criptomoedas relacionadas ao metaverso, Sandbox (SAND) e o token do jogo Axie Infinity (AXS), além das maiores criptomoedas, Bitcoin e Ether. Abaixo, uma lista com as altas e baixas em um ano (comparação entre primeiro de maio de 2021 e a mesma data em 2022):
- ⇩ BTC -38,70%
- ⇩ ETH -11,69%
- ⇧ SHIB 1109,48%*
- ⇧ SAND 240,51%*
- ⇧ AXS 207,04%*
[A cotação da variação destas moedas foi feita em dólar. No caso de Ether e Bitcoin, a cotação usada foi em reais. Comparações feita pelo Mercado Bitcoin a pedido para a matéria.]
Então, no caso da maior queda do cenário, quem investiu R$ 500 em Bitcoin, hoje teria R$ 306,50. Já quem tivesse investido em Shiba Inu, que teve a maior alta entre as selecionadas, teria passado de USD 50 (equivalente a R$ 270 na cotação da data) para USD 604,74, que na cotação de 01 de maio de 2022 seria convertido em R$ 2.969,27.
Vale ressaltar que esse é apenas um possível recorte no tempo. Todas as moedas selecionadas tiveram as maiores altas históricas no final do ano passado. Portanto, quem tivesse investido em maio mas resgatado no final do ano passado teria um ganho ainda maior do que as altas registradas acima, ou não teriam as perdas, no caso de Ether e Bitcoin. Assim como quem tivesse investido nos últimos meses de 2021, período de alta, hoje teria registrado alguma queda em todos os casos.
Deu pra perceber que nem toda criptomoeda é igual. Por isso, conversei com Fabrício Tota, diretor de novos negócios do Mercado Bitcoin, que apresentou a forma como ele e a corretora de Bitcoin vêem esse mercado, com seus riscos e oportunidades, e as características das criptomoedas.
De acordo com Tota, o período de um ano serve como curiosidade, mas não é o ideal para um limiar de investimento em ativos de risco, como o de criptomoedas. “Se a gente olha períodos relativamente curtos, uma semana, um mês, um ano ou dois anos, esses são períodos curtos pensando num ativo de risco. O mercado cripto tem um histórico só de 13, 14 anos, então nem tem um histórico tão grande. Se a gente for usar como paralelo o mercado de ações, os especialistas dizem que é uma coisa pro longo prazo, a mesma coisa pro mercado cripto, mas a curva [de risco] é ainda mais acentuada por ser um mercado tão novo”, explicou.
Então, para quem é esse mercado? Segundo Tota: “Muitas regrinhas são as mesmas que valem para o mercado de ações. [Se você pensa] ‘eu não tolero perder dinheiro em hipótese alguma', então meu amigo, não é pra você. Mas lembre que abrindo mão disso você abre mão também dos ganhos em potencial. Se a gente olhar um período maior, como três anos, os ganhos que foram proporcionados por esse mercado são muito expressivos”.
Além de ter uma previsão de tempo maior de investimento, Fabricio Tota tem uma indicação é pouco tradicional, de “investir de verdade”, incentivando principalmente quem já é investidor com ativos de risco na carteira a trocar parte do portfólio por criptomoedas, e sem pena: “Invista com vontade.Tem gente que fala 'coloca só um dinheirinho que você pode perder', recomendações que na minha cabeça não fazem o menor sentido, porque se você colocar pouco dinheiro e acertar você vai ganhar pouco dinheiro também. Se você põe pouco e dobra, você tem duas vezes pouco. Se multiplicar por cinco, vai ser cinco vezes pouco, que provavelmente vai continuar sendo pouco. Então a recomendação é de olhar a sua carteira como um todo e ver qual parcela você quer colocar em ativos de risco sim, mas que tem um potencial de fazer diferença na sua vida financeira daqui 5 ou 10 anos.”
Quanto à simulação, Tota ressalta que as criptos Bitcoin e Ether não são comparáveis com as demais. “Bitcoin e Ether são moedas com valor de mercado muito grande. São projetos super sérios e que vão transformar a forma como a gente faz negócios, e suporta o sistema financeiro, e como o sistema financeiro vai ser daqui a alguns anos passa por mudanças trazidas por esses dois ativos. Shiba Inu, falando do projeto especificamente, começou mais como uma brincadeira. A forma como a gente faz negócios não vai mudar por causa do Shiba Inu. Já o que o Bitcoin trouxe de inovação, e o Ether aperfeiçoou de alguma forma, na plataforma de contratos inteligentes que o Ether proporciona, isso pode mudar muita coisa.”
Tota usa uma metáfora para explicar a diferença entre as criptos: “No caso de Bitcoin e Ether é como se a gente estivesse falando da infraestrutura rodoviária de um país, e quando se fala de Shiba Inu e as outras é como se fossem caminhos específicos, essa é a ordem de grandeza para comparar as coisas”.
Ainda sobre as oscilações, Tota acredita que houve um exagero com as altas significativas do ano passado, por isso agora estamos passando por um momento de ressaca, além de outras questões da economia como um todo que afetam o mercado: “Tem questões específicas também, teve um fluxo de dinheiro institucional que entrou nesse mercado que faz com que ele se comporte mais como outros mercados de risco, como o mercado de ações americano e o mercado de big techs, mas no final do dia é um comportamento humano. A gente está mais propenso ao risco nesse momento, ou evitando risco, tem mais liquidez nesse mercado ou menos, a recompensa que a gente está se buscando, quando a gente compara com a taxa de juros nos bancos centrais, nos tesouros, está compensando esse trade off da tomada de risco ou não, então esses movimentos de curto prazo devem ser considerados mas não tiram os fundamentos como sendo algo transformador, principalmente no caso do Bitcoin e Ether.”
Como integrante de um grande player do mercado, o diretor do mercado Bitcoin aposta na consolidação das criptos nos próximos anos: "A gente está vendo uma oportunidade gigantesca que aconteceu raras vezes na história, de investir em uma tecnologia que vai ser transformadora, que vai mudar e já está mudando a forma como a gente faz negócios. Então para quem acha que é muito arriscado eu ofereço o outro lado: talvez o maior risco seja você não embarcar, você ver essa oportunidade passar, hoje, em 2022, e daqui 5 ou 10 anos, pensar 'poxa vida, esse mercado estava no começo e eu não quis arriscar'”, finaliza.