Queda da OSX amplia "sangria" do grupo de Eike Batista
A OSX foi "contaminada" pela crise na empresa "irmã" por ser sua fornecedora, ainda que sua situação não seja considerada tão preocupante quanto a da OGX
Cerca de duas semanas após o pedido de recuperação judicial da OGX, petroleira do grupo de Eike Batista, sua empresa "irmã", a empresa de construção naval OSX, seguiu o mesmo caminho. Com dívidas de R$ 5,3 bilhões (sendo que R$ 4 bilhões devem estar no plano de recuperação judicial), a empresa anunciou seu pedido de recuperação judicial nesta segunda-feira, o que significa que terá 60 dias (após o pedido ser aprovado pela Justiça) para apresentar um plano de reestruturação que será negociado com credores. O processo deve levar, no total, seis meses.
A OSX foi "contaminada" pela crise na empresa "irmã" por ser sua fornecedora, ainda que sua situação não seja considerada tão preocupante quanto a da OGX. Isso porque, ao contrário da petroleira, a OSX tem ativos (plataformas) cujo valor estimado em mais do que o total de suas dívidas. Ainda que não sejam ativos facilmente negociáveis, eles devem servir como garantia aos credores.
Um ponto curioso é que a OSX é uma grande credora da OGX, pelo uso de suas plataformas. Com isso, as duas empresas de Eike devem se enfrentar na Justiça por essas dívidas. Em 29 de outubro, a OSX anunciou a recisão de seus contratos com a OGX por falta de pagamento. A empresa naval reclama estimados US$ 2,6 bilhões em dívidas da "irmã".
Bancos
Entre os demais credores da OSX estão os bancos públicos Caixa e BNDES, que prorrogaram empréstimos à empresa (cuja previsão de vencimento era novembro). Na quinta-feira da semana passada, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, defendeu a prorrogação. "A OSX tem muitos ativos valiosos, que superam o valor de suas dívidas", disse Coutinho à imprensa. "Dar tempo para soluções (dos problemas financeiros da empresa) é uma estratégia sensata."
A OSX negociou suas dívidas com bancos públicos e privados, enquanto tenta dar destinação a suas plataformas. Também há especulações sobre negociações envolvendo o porto de Açu, grande obra da OSX em São João da Barra (RJ) que em maio já tivera seu projeto reduzido graças à menor demanda de sua principal cliente, a OGX.
Com a Caixa, a empresa anunciou ter conseguido renovar seu empréstimo de R$ 461,4 milhões até outubro de 2014. No comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a OSX informava que, em seu acordo com os bancos garantidores, já havia cláusulas citando o "possível exercício ao direito legal à recuperação judicial".
Fortuna
A recuperação judicial da OSX aprofunda ainda mais a sangria do conglomerado de Eike Batista e faz minguar sua fortuna. Altamente endividada e com pouca geração de capital para pagar suas dívidas, a empresa se tornou uma fonte de dor de cabeça para investidores. E, como os negócios do grupo de Eike estão interligados, a crise se espalhou pelo conglomerado. Eike Batista ganhou projeção nacional como o empresário que melhor encarnou a euforia internacional com a economia brasileira após a crise global de 2008.
Com um estilo arrojado de fazer negócios e considerado visionário por seus pares, ele se aproveitou do apetite chinês por commodities e da abundância de matérias-primas no Brasil para vender o otimismo com que investidores de todo o mundo viam o País. Para obter capital, o empresário abriu suas empresas na bolsa de valores, por meio de IPOs (Oferta inicial de ações, na sigla em inglês), realizados entre 2006 e 2010.
O ponto alto veio com o início da negociação dos papéis da OGX. Foi o maior IPO da história da Bovespa. Até pouco tempo, a OGX era considerada a principal empresa do conglomerado. Em junho de 2011, ele deu uma entrevista à BBC inglesa em que previa "20 anos de crescimento contínuo para o Brasil".
Queda
Para economistas, a crise atravessada pelo império de Batista ganhou força a partir do momento em que investidores perceberam que os resultados de suas empresas não corresponderiam às suas promessas. Nesse contexto, a derrocada da OGX foi um duro golpe na saúde financeira do grupo. O campo de Tubarão Azul, que deverá interromper suas operações no ano que vem, era até então o único produtor de petróleo da empresa. Inicialmente, a companhia previa reservas de até 110 milhões de barris no local.
"Havia uma confiança do mercado na capacidade empreendedora (de Eike). Tudo isso acabou quando empresas como a OGX acabaram não entregando os resultados", afirmou Sérgio Lazzarini, professor do Insper, em entrevista recente à BBC Brasil.