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Brasil não produz, nem consome e você perde nos dois casos

2 dez 2015 - 13h39
(atualizado às 13h39)
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No mesmo lugar: economia parecia avançar, mas era apenas ilusão
No mesmo lugar: economia parecia avançar, mas era apenas ilusão
Foto: Divulgação/MC Escher / O Financista

Desde a manhã dessa terça-feira (1º) você é bombardeado por notícias de que a economia encolheu 4,5% no 3º trimestre, em relação ao mesmo período do ano passado. Comentaristas bradam que isso só confirma que enfrentamos uma crise como nunca antes na história deste país. Mas, afinal de contas, o que a numeralha divulgada pelo IBGE tem a ver, na prática, com a sua vida? Tudo: ela mostra que o Brasil produz e consome cada vez menos, e você perde nos dois casos.

O PIB (Produto Interno Bruto) é a soma de toda a riqueza gerada por um país em um determinado intervalo de tempo. O método adotado pelo IBGE para calculá-lo é o recomendado pelas Nações Unidas e considera que tudo o que é produzido em algum lugar é consumido em outro. Ou seja: a oferta total de bens e serviços, que mede a força das empresas, tem que ser igual à demanda, que indica a saúde financeira dos consumidores.

O importante é entender que um país pode ser um forte produtor e ter um mercado consumidor fraco. É o caso, por exemplo, da China, que se transformou na “fábrica” do mundo, exportando a grande maioria do que fabrica. Apenas agora, o governo chinês indica que vai estimular mais o consumo do que a produção, a fim de fortalecer seu mercado interno. Logo, também é possível que um país seja um produtor modesto e um forte consumidor. Neste caso, são as importações que suprem as lacunas de demanda de sua população.

Não produzimos

Na prática, os países tentam ser um pouco dos dois: fortes fornecedores de alguns produtos e bons consumidores – e, no fim das contas, quanto maior o acesso do povo a bens e serviços de qualidade, melhor é o nível de vida do país. O preocupante é que o Brasil está deixando de ser ambos.

Do lado da produção, todos os setores recuaram. A indústria liderou a queda, com 6,7% sobre o período comparado, seguida pelos serviços, com 2,9%. Mesmo a agropecuária, que vinha segurando as pontas, caiu 2%. Em bom português: produzimos cada vez menos, seja para consumo interno, seja para exportar. Por isso, as empresas encontram dificuldades crescentes para faturar, seja aqui, seja no exterior. E você com isso? Seja você empresário ou funcionário, o que você recebe no fim do mês vem da capacidade de sua empresa crescer ou, pelo menos, não encolher. Se isso acontece, ou você não terá aumento, não será promovido e, no limite, nem mesmo terá mais emprego.

Nem consumimos

Do lado do consumo, a coisa também não anda nada bem. Tudo o que se fabrica localmente ou se importa é consumido por três agentes: famílias, governo e empresas. E nenhum deles foi capaz de segurar a economia nos últimos três meses. O consumo das famílias caiu 4,5% sobre o ano passado. Isso é um claro reflexo da corrosão da renda dos brasileiros, seja pela inflação, seja pelo desemprego. As pessoas simplesmente estão sem dinheiro e cortaram gastos. E até parcelar compras causa medo atualmente, diante da incerteza de ter ou não ter emprego amanhã.

É preciso lembrar que esse é um ponto grave, pois foi o consumo das famílias que sustentou a expansão econômica da fase dourada dos últimos anos. No auge do governo Lula, a grande oferta de crédito, a inflação comportada, o aumento do nível de emprego e os ganhos reais dos salários, ao lado de programas assistenciais como o Bolsa Família, incentivaram o consumo como nunca antes. No seu melhor momento, no 4º trimestre do ano passado, as famílias consumiram 90% mais que em 1995, a base da série do IBGE. Agora, a diferença caiu para 74%.

A máquina pública também é considerada, pelo método do IBGE endossado pela ONU, como um consumidor. Não apenas porque demanda copinhos de café para repartições públicas, mas, sobretudo, porque contrata muitos serviços (muitas vezes a valores bilionários), como a realização de obras públicas e a concessão para que empresas privadas operem seus aeroportos, portos e rodovias, entre outros. No último trimestre de 2013, o governo chegou ao ápice de sua participação na demanda: 55% mais que em 1995.

É preciso salientar que o governo chegou a esse patamar, não porque seja tão rico, quanto o norte-americano, mas porque começou a gastar mais do que arrecada – e disfarçou isso por algum tempo, com as já famosas pedaladas fiscais. Quando a máscara começou a cair, junto com a atividade econômica e a arrecadação, seu peso foi regredindo – e está, agora, 52% acima do nível de 1995.

Nem investimos

O último grande grupo de consumidores, para fins de PIB, são as empresas, medidas pela sua capacidade de investimento – a chamada Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Isso é considerado consumo, porque demanda obras para a construção de galpões e instalações, máquinas, equipamentos, não apenas para novas fábricas, mas também para se manter atualizado. E é importante, porque indica a confiança dos empresários no futuro. A notícia é bem ruim aqui: queda de 15% sobre igual trimestre do ano passado. No melhor momento, no 3º trimestre de 2013, a FBCF chegou a ser 103% maior que em 1995. Desde então, foi ladeira abaixo: corresponde, agora, a apenas 60% de alta na comparação.

Você pode até pensar: bom, mas não é tão grave, já que tudo mostra que estamos melhores do que há 20 anos, no início do Plano Real. É verdade, mas, em primeiro lugar, o Brasil está literalmente andando para trás, produzindo e consumindo menos; Em segundo, a população está crescendo, o que pressiona o desemprego; por último, a economia mundial não está brilhando, como no auge da era Lula, quando a China se tornou nossa maior cliente, comprando de minério de ferro a cimento, passando por soja.

Tudo somado, os números do IBGE não são assim tão abstratos. Eles expressam aquilo que você vê no seu dia a dia: a produção e as vendas de sua empresa estão paradas ou em queda, o que lhe aumenta o frio na barriga de perder o emprego. Seu orçamento está mais apertado e você já deixou de comprar algumas coisas. Nem produz tanto, quanto antes, nem consome – em uma palavra: recessão. Sua e do Brasil.

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